Artigo de autoria de Max Roser, originalmente publicado no Our World in Data em 22 de fevereiro de 2023. Tradução por O Futuro das Coisas.

Visualizar em uma longa linha do tempo como drasticamente o mundo mudou nos ajuda a imaginar como ele poderá ser diferente daqui alguns anos ou décadas.

A tecnologia pode mudar o mundo de maneiras impensáveis. Acender uma luz elétrica seria inimaginável para nossos ancestrais medievais. Nossos avós teriam achado inimaginável um mundo conectado por smartphones e pela Internet.

Da mesma forma, é difícil para nós imaginar a chegada de todas essas tecnologias que irão mudar a vida a que estamos acostumados.

Se olharmos para trás, para a rapidez com que a tecnologia mudou nosso mundo no passado, nosso futuro pode ser muito diferente de hoje. É disso que trata este artigo.

Ter uma perspectiva de longo prazo nos mostra o quão incomum é nosso tempo. A mudança tecnológica foi extremamente lenta no passado – tecnologias com as quais nossos ancestrais se acostumaram quando eram crianças ainda eram as mesmas até chegarem à velhice. Mas hoje, vivemos em uma época de mudanças tecnológicas extraordinariamente rápidas. Para as gerações mais recentes, foi normal que tecnologias que seriam inimagináveis na juventude se tornassem comuns mais tarde nas suas vidas.

Perspectiva de longo prazo sobre a mudança tecnológica

A visualização abaixo nos dá um panorama de longo prazo sobre a história da tecnologia.

A linha do tempo começa no centro da espiral. O uso de ferramentas de pedra, 3,4 milhões de anos atrás, marca o início da história da tecnologia. Cada volta da espiral representa 200.000 anos de história. Demorou 2,4 milhões de anos – 12 voltas da espiral – para nossos ancestrais controlarem o fogo e usá-lo para cozinhar.

Para visualizar as invenções no passado mais recente – os últimos 12.000 anos – tive que desenrolar a espiral, porque precisava de mais espaço para mostrar quando a agricultura, a escrita e a roda foram inventadas. Durante esse período, a mudança tecnológica foi mais rápida, mas ainda relativamente lenta: vários milhares de anos se passaram entre cada uma dessas três invenções.

De 1800 em diante, estendi ainda mais a linha do tempo para mostrar as muitas invenções importantes que se seguiram rapidamente uma após a outra.

A perspectiva de longo prazo deste gráfico deixa claro o quão extraordinariamente rápida é a mudança tecnológica em nosso tempo.

Você pode visualizar como a tecnologia se desenvolveu em determinadas áreas, como por exemplo, a história da comunicação: da escrita, ao papel, à imprensa, ao telégrafo, ao telefone, ao rádio, até à Internet e aos smartphones.

Ou confira o rápido desenvolvimento do voo humano. Em 1903, os irmãos Wright fizeram o primeiro voo da história da humanidade (ficaram no ar por menos de um minuto) e, apenas 66 anos depois, pousamos na lua. Muitas pessoas puderam assistir os dois momentos em suas vidas: o primeiro avião e o pouso na Lua.

Essa grande visualização também destaca os impactos da tecnologia em nossas vidas, desde inovações extremamente benéficas, como as vacinas que permitiram à humanidade erradicar a varíola por exemplo, a inovações terríveis, como as bombas nucleares que põem em risco a vida de todos nós.

O que as próximas décadas irão trazer?

A linha do tempo vermelha chega até o presente e continua em verde no futuro. Muitas crianças nascidas hoje, mesmo sem nenhum aumento na expectativa de vida, viverão até o século 22.

Novas vacinas, progresso em energia limpa e de baixo carbono, melhores tratamentos contra o câncer – uma série de futuras inovações podem melhorar muito nossas condições de vida e o meio ambiente. Mas, como argumento em uma série de artigos, existe uma tecnologia que pode mudar ainda mais profundamente nosso mundo: a inteligência artificial (IA).

Uma das razões pelas quais a IA é uma inovação tão importante é que a inteligência é o principal impulsionador da própria inovação. Essa acelerada mudança tecnológica pode acelerar ainda mais se não for impulsionada apenas pela inteligência da humanidade, mas também pela inteligência artificial. Se isso acontecer, a mudança que atualmente se estende ao longo de décadas pode ocorrer em períodos muito curtos, de apenas um ano. Possivelmente ainda mais rápido.

Acho que a tecnologia de IA pode ter um impacto fundamentalmente transformador em nosso mundo. De muitas maneiras, já está mudando muita coisa, como documentei neste artigo. À medida que se torne mais robusta nos próximos anos e décadas, ela pode conferir imenso poder àqueles que a controlam (com risco de escapar totalmente de nosso controle).

Hoje, esses sistemas são difíceis de imaginar, mas a tecnologia de IA está avançando muito rápido. Muitos especialistas acreditam que há uma chance real de que a IA em nível humano seja desenvolvida nas próximas décadas, como escrevi neste artigo.

A tecnologia continuará a mudar o mundo – todos devemos garantir que ela mude para melhor

O que hoje nos é familiar – fotografia, rádio, antibióticos, Internet ou a Estação Espacial orbitando nosso planeta – era inimaginável há algumas gerações atrás. Se seus tataravós pudessem passar uma semana com você, ficariam maravilhados com nossa vida cotidiana.

O que extraio dessa história é que provavelmente verei tecnologias ao longo da minha vida que parecem inimagináveis pra mim hoje.

Além da tendência de inovação cada vez mais rápida, há uma segunda tendência de longo prazo. A tecnologia tornou-se cada vez mais poderosa. Enquanto nossos ancestrais manejavam ferramentas de pedra, estamos construindo sistemas e tecnologias de IA de abrangência mundial que podem editar nossos genes, por exemplo.

Devido ao imenso poder que a tecnologia dá àqueles que a controlam, há pouca coisa tão importante quanto a questão de quais tecnologias são desenvolvidas. Portanto, acho que é um erro deixar o futuro da tecnologia para os tecnólogos. Quais tecnologias são controladas por quem é uma das questões políticas mais importantes do nosso tempo.

Devemos nos esforçar para ter o conhecimento de que precisamos para contribuir para um debate inteligente sobre o mundo em que queremos viver e quais tecnologias queremos.

Agradecimentos: gostaria de agradecer aos meus colegas Hannah Ritchie, Bastian Herre, Natasha Ahuja, Edouard Mathieu, Daniel Bachler, Charlie Giattino e Pablo Rosado por comentários úteis aos rascunhos deste ensaio e à imagem [visualização]. Agradeço também a Lizka Vaintrob e Ben Clifford pela conversa que deu início a esta grande visualização.

O Futuro das Coisas

Somos um ecossistema de futuros e inovação que atua para desenvolver pessoas, times e lideranças, por meio de educação e cultura de aprendizagem, conteúdo de impacto e estudos de futuros.

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