Acredito que parte da nossa responsabilidade é compartilhar o que aprendemos e como fazemos. Se meu trabalho é pensar em futuros, especialmente mais equitativos, é importante que mais e mais pessoas pensem neles.

Pessoas de múltiplas etnias, culturas, gêneros, idades, origens sociais, pessoas com deficiência e minorias, se todas estiverem pensando em futuros – até mesmo em futuros menos antropocêntricos – elas podem trazer novas ideias para resolver os grandes desafios que a nossa sociedade e organizações enfrentam. Essa representatividade é fundamental para a inovação.

Precisamos pensar em futuros não para controlá-los, mas para nos responsabilizar por eles. Essa responsabilização vai além do seu futuro pessoal ou do futuro da sua empresa, mas também do futuro coletivo e do futuro dos membros não humanos da nossa sociedade, como as plantas, os animais, os corais e os fungos.

Tudo é temporal

Por que pensar no futuro se ele ainda não existe? O futuro está atrelado ao tempo; todos nós estamos inseridos no tempo, inclusive o que fazemos e as mudanças que provocamos.

“Somos todos acontecimentos no tempo, tudo é temporal”, explica o temporalista Gustavo Nogueira, chamando a nossa responsabilidade pela nossa relação com o tempo e com o mundo.

Outra razão para pensar no tempo é que estamos considerando momentos – passados e futuros – nas nossas vidas. Isso nos dá contexto para esperanças e arrependimentos.

Compreender o tempo também nos ajuda a avaliar nossas vidas vividas dentro dele. Vivenciamos a vida como uma sequência de momentos, eventos e episódios. Se você voltasse ao seu nascimento até o exato momento em que está lendo esse texto, poderia representar como uma linha do tempo. Mas falta uma coisa nessa linha. Falta a mudança.

Muitas vezes, o que aconteceu no passado impactou o seu futuro. Se você conheceu alguém enquanto fazia a sua caminhada matinal e este encontro mudou em muitos aspectos a sua vida, então essa caminhada foi um evento diferente de todas as outras caminhadas matinais que você já fez e que não tiveram nenhum significado posterior na sua vida, apenas fizeram bem à sua saúde. Se esse encontro conta ou não como um evento significativo em sua vida, pode depender de como as coisas acontecerão posteriormente. Você estava caminhando, distraído, contemplando a natureza e sem perceber o momento que estaria prestes a acontecer – porque ainda não havia nenhuma pista!

Depois que as coisas acontecem, elas se tornam passado, e há a sensação de que nada mais poderá ser mudado. “Estamos amarrados ao passado de uma forma que talvez não estejamos ao futuro. Talvez você tenha desencadeado uma sequência de eventos que agora estão se desenrolando fora do seu controle. Mas a chance de fazer algo acontecer no futuro parece muito maior do que a chance de fazer algo acontecer no passado. Este contraste é chamado de “futuro aberto”, tudo pode acontecer, onde, normalmente, assume-se que o passado não é igualmente aberto”, explica o filósofo Graeme A Forbes.

Futuros em aberto, como um cone. Desenho: Autodesk

Passado e futuro

Experimentamos o mundo dentro do tempo e podemos pensar no passado e em possíveis futuros na nossa perspectiva aqui no nosso planeta. Mas como será em outras partes do Universo, para outras criaturas, ou até mesmo, para as outras pessoas com quem convivemos? O tempo pode passar rápido demais se você está na companhia de quem gosta, ou muito devagar se você está na sala de espera de um hospital. A percepção do tempo varia de acordo com os diferentes estados de espírito da mesma pessoa, e varia entre pessoas e entre animais.

A Teoria da Relatividade de Einstein mostra que não há maneira fisicamente significativa de estabelecer a simultaneidade – isto é, dois eventos acontecendo ao mesmo tempo – independente de algum referencial inercial. Se você perguntar “O que está acontecendo em Marte agora?”, não há nenhuma maneira fisicamente significativa de dar uma resposta independente da perspectiva. Mas a relatividade não diz que não exista mudança. Aliás, o papel da mudança na física ainda é muito debatido.

A maioria das vezes que fazemos algo, nosso objetivo é provocar uma mudança. Muitas vezes pensamos como as coisas são agora e como deveriam ser depois de nossa tarefa realizada. Precisamos de mudanças para dar sentido às coisas que realizamos.

A mudança não é a única característica intrigante do tempo. Arqueólogos, geólogos e astrônomos podem descobrir como as coisas eram antes mesmo de os humanos existirem. Não podemos fazer isso na direção futura, apenas se especularmos.

Nossa vida emocional é direcionada do presente para o passado e do presente para o futuro de inúmeras maneiras. Algumas vezes lamentamos algo que vivenciamos no passado, mas este lamento só faz sentido se não pudermos corrigir no presente as nossas ações passadas, e se não tivermos aprendido a lição. Já em relação ao futuro, podemos ser otimistas ou pessimistas.  

Mas não é apenas para o passado e para o futuro que direcionamos nossas emoções. Muitas vezes pensamos em “passados” que nunca aconteceram ou fantasiamos “futuros” que não são mais possíveis (ou nunca foram).

Às vezes especulamos: “E se” eu não tivesse sofrido esse trauma? “E se” eu tivesse conhecido tal pessoa em outro momento da minha vida?” Podemos pensar sobre o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu e pode não acontecer nunca.

Compreender essas diferenças e escolher em quais pensamos pode fazer um grande bem para a nossa saúde mental e para tornar a nossa vida melhor.

Estamos amarrados ao passado, mas o papel que ele desempenha na história da nossa vida ainda está em aberto. A história que você está escrevendo ainda está em jogo.

O que aconteceu no passado, aconteceu. Mas como o futuro está aberto, o significado e a importância do passado estão sujeitos a mudanças.

Em constante mudança

Nossas emoções muitas vezes são direcionadas para o que foi, o que poderia ser, o que não foi e o que não será. O passado é imutável e futuros estão sempre à frente. Mas o significado de ambos está em constante mudança à medida que a história da sua própria vida muda.

O tempo passa, quer você queira ou não, e quer você pense nisso ou não. Mas entendê-lo pode dar mais sentido a como você vive. Você está inserido no tempo e isso significa que precisa lidar com as mudanças, aceitar o passado e tirar o melhor proveito dos futuros que pode escolher.

O debate sobre a natureza do tempo é importante porque se refere à questão de como a nossa perspectiva se relaciona com um contexto mais amplo. “Será que meus futuros netos estarão presos a decisões que eu ainda nem tomei, da mesma forma que não posso mudar as decisões que meus avós tomaram há 75 anos? Se o futuro está à minha espera ou se é algo que eu provoco, através de minha ação ou apatia, parece fazer diferença em como devo me sentir a respeito” questiona-se o filósofo Graeme A Forbes.

Muitas vezes passamos nossas vidas absorvidos por possibilidades que poderiam ter existido e por passados que nunca existiram.

Imaginar futuros que não são possíveis diante de outras direções e caminhos que você pode escolher, também pode levar à amargura e à decepção.

Todos nós temos escolhas entre diferentes futuros possíveis. Pensar no tempo, nos possibilita criar no presente, novos começos. E nos responsabilizar por eles.

Imagem da capa: Foto: Jupiterimages | Photo images

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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