Ricardo Moraes é cofundador da Memed, considerada a principal plataforma de consulta e prescrição médica digital do Brasil, onde hoje é CEO. A empresa emergiu para solucionar um problema: cerca de 70% das prescrições médicas têm potencial para erros e falhas, segundo a Organização Mundial de Saúde. Ano passado, o Brasil teve 54 mil mortes em todo o sistema hospitalar brasileiro, sendo que 36 mil delas poderiam ter sido evitadas pela digitalização das prescrições. Nos EUA, mais de 77% das prescrições já são feitas digitalmente.

Em 2018, a Memed lançou, de forma pioneira e inovadora, a prescrição médica digital, que oferece assistência gratuita aos pacientes para receber suas receitas digitalmente, agendar exames, comparar preços de medicamentos, comprá-los e receber em casa, aumentando consideravelmente a adesão ao tratamento.

Hoje, a plataforma é utilizada por mais de 55.000 médicos de todas as especialidades médicas do país.  Somente em 2017, foram realizadas mais de 30 milhões de buscas por informações de medicamentos e mais de R$ 500 milhões em medicamentos foram prescritos.

Ricardo Moraes, CEO da Memed, durante a 24ª edição da Hospitalar Feira + Fórum. Crédito: Divulgação/Gustavo Scatena

Ricardo, que é graduado em Marketing e em Psicologia, ambas pela PUC-SP, é o nosso convidado para falar o que deseja para o Brasil nos próximos quatro anos e o que vai fazer para contribuir na construção desse futuro.

Essa entrevista faz parte do projeto Brasil 2022 composto de breves conversas com membros da sociedade civil, que acreditamos podem inspirar nesse momento turbulento e de incertezas que o nosso país está passando. O nosso objetivo é que esses relatos estimulem mais pessoas a protagonizarem transformações na sociedade atual, mudando a realidade presente.

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1) Qual futuro você quer para o Brasil nos próximos quatro anos?

Há algum tempo, li um artigo que relatava que casais que não se amavam mais, mas que viviam uma vida de grande estabilidade financeira, tinham mais de 80% de chance de permanecerem casados do que aqueles casais que se amavam muito, porém viviam em profunda crise econômica.

Quando se conversa sobre política, é clássica a retórica do “mas basta ter bom senso para escolher seu candidato“. Porém, o problema é exatamente esse: quem, em sã consciência, diria “se tem uma coisa que eu não tenho é bom senso!“. Todos tomamos decisões baseadas em nosso bom senso, mas atualmente nossos “bons sensos” estão tendo dificuldade de se convergir.

Estamos vivendo hoje em um país extremamente polarizado ideologicamente, com muita tensão no ar e nos relacionamentos pessoais e profissionais. E as manifestações populares são, basicamente, envoltas em questões éticas e de valores morais – temas extremamente válidos, porém pouco pragmáticos para o nosso momento enquanto nação.

Por isso, o que eu gostaria de ver para o futuro próximo do Brasil é uma tomada de decisão extremamente pragmática sob o ponto de vista de política econômica. Criar estabilidade, dar segurança, desburocratizar, agilizar a abertura de novos negócios, geração de empregos e renda.

Fazendo a analogia por onde comecei esse texto, os dois lados divergentes na política e na economia hoje representam um casal com graves problemas financeiros, apesar de amarem ser brasileiros. E eles precisam de estabilidade financeira, de oportunidades, de sentirem que há chance de crescimento para que as discussões mais complexas possam ser tomadas de maneira mais madura e, porque não dizer, com boas doses de “bom senso”.

2) O que você vai fazer para ajudar a construir esse futuro?

Antes de qualquer coisa, tenho muito orgulho de ser brasileiro, de morar no Brasil, e principalmente de saber que estou empreendendo e criando negócios aqui.

Eu cresci vendo, comprando e usando produtos feitos por empreendedores de outros países, e vendo meus amigos e familiares sempre ridicularizarem a indústria nacional e nossos produtos, como se “alguém sempre fosse vir aqui resolver nossos problemas…”, já que nós não somos capazes.

Segundo a OMS, 75% das prescrições médicas feitas no Brasil tem alguma chance de erro. Interação entre medicamentos, alergias, letras ilegíveis, custam vidas e bilhões de reais para o sistema de saúde do Brasil, anualmente.

O que eu faço para construir o nosso futuro é pegar essa problema e dedicar a minha vida e minha força de trabalho para resolvê-lo, sem esperar que alguém de fora tenha de fazê-lo por nós.

Hoje, com um orgulho imenso, vejo que criamos um negócio de alto impacto econômico e social, oferecendo gratuitamente para mais de 100 mil médicos, uma ferramenta de prescrição digital com milhares de inteligências embutidas, dando segurança a todos nós, pacientes, e aos profissionais.

Além disso, também empregamos dezenas de pessoas (número que deve triplicar nos próximos anos), oferecendo oportunidade de desenvolvimento profissional, pessoal, renda e futuro para todas essas famílias.

Quero que a minha história e a empresa possam inspirar pessoas a criar novos negócios, resolver problemas com nossas próprias forças, para as questões que afligem o nosso país, e saber que temos capacidade de sermos uma nação melhor a cada dia.

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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