Um dos grandes desafios da escola atual é romper o modelo de fragmentação do conhecimento que foi desenvolvido com muito sucesso pelo movimento Iluminista: a organização do conhecimento em especializações, feitas a partir do Enciclopedismo.

Essa organização foi o braço editorial de filósofos iluministas, e permitiu um grande avanço do conhecimento a partir do século XVIII e XIX, período que começaram a se firmar disciplinas científicas, como a Biologia, a Física e a Sociologia.

A verticalização do conhecimento levou a muitas descobertas sobre a natureza e contribuiu para o desenvolvimento de muitas ideias sobre o desenvolvimento humano e suas relações sociais. No entanto, a complexidade do mundo atual, decorrente de mudanças sociais impulsionadas principalmente pela urbanização e pela cultura digital, exige cada vez mais que pensemos os desafios contemporâneos como processos sistêmicos.

Romper as barreiras disciplinares e conectar diferentes especialistas para a resolução de problemas emergentes será fundamental para os profissionais do futuro.

Aprender a dialogar, construir analogias e transpor modelos típicos de um setor para explicar fenômenos de outros setores será um requisito determinante para a inovação de bens e serviços.

Dessa forma, aprender a trabalhar colaborativamente e dialogar com especialistas dos mais diversos setores será o novo normal.

Cada vez mais as escolas deverão formar profissionais que conhecem bem um campo do conhecimento mas transitam bem em outros campos.

Assim, reconfigurar os currículos escolares para desenvolver estudantes pesquisadores, estimular a curiosidade e a busca dos questionamentos de fenômenos naturais e sociais será o grande desafio do século XXI e todos os muitos outros séculos adiante.

Texto originalmente publicado no Mapa “O Futuro da Educação”, exclusivo para nossos assinantes. Hoje, 8 de junho de 2021, Miguel Thompson nos deixou, e por isso, decidimos compartilhar aqui para que mais pessoas pudessem conhecer sua visão sobre educação e aprendizagem.

Outro artigo do Miguel para O Futuro das Coisas: A crise da Ciência é uma crise de distribuição do conhecimento

Foto: Divulgação

Miguel Thompson

Miguel foi Professor do Ensino Básico durante 25 anos, é autor de livros didáticos e foi Diretor executivo do Instituto Singularidades e Consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento das nações (PNUD). Atualmente, é Diretor Acadêmico na Fundação Santillana, que promove e apoia iniciativas educacionais e culturais inovadoras. Também é um dos idealizadores da Bancada da Educação em São Paulo.

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