Suricatas são animais coloniais, que vivem em bandos de até 50 indivíduos. A espécie possui um sistema social bem elaborado, no qual dividem tarefas diárias. Parte do grupo não reproduz, ajudando no cuidado dos filhotes. Alguns membros são responsáveis pela caça e outros são sentinelas, ou seja, ficam na guarda, observando o ambiente à volta, e dando o alerta com a chegada de predadores. Esses animais possuem uma comunicação específica para cada tipo de predador e ensinam aos mais jovens como reagir de forma distinta, para cada tipo de ataque.

O que parece ser um comportamento altruísta dos suricatas é, na verdade, um comportamento comum em todo o reino animal. Mas, em vez de se preocupar com o bem-estar de outros grupos, o foco é dado aos parentes, sacrificando por exemplo, seu próprio sucesso reprodutivo em prol da aptidão reprodutiva de todo o seu clã.

Já nas sociedades humanas, frequentemente agimos de forma altruísta com pessoas mesmo que não sejam nossas parentes. Desenvolvemos sistemas sofisticados de avaliação moral para decidir quem é digno de cooperação e qual a probabilidade de alguém retribuir um favor. Em outras palavras, pessoas só ajudarão aquelas que têm uma boa reputação de serem elas próprias altruístas. No entanto, para que esse sistema funcione, reputações precisam ser de conhecimento público, legitimada e endossada pela sociedade. Então, o que acontece quando opiniões variam sobre a reputação de uma determinada pessoa?

Arunas Radzvilavicius e seu time de pesquisadores buscaram descobrir se o altruísmo poderia surgir quando pessoas têm opiniões diferentes sobre a reputação moral umas das outras. Para isso, eles usaram a chamada teoria dos jogos evolucionários, uma descrição matemática de como as estratégias mudam em uma população ao longo do tempo. Em seu modelo, cada indivíduo pode decidir se deseja arcar com o custo pessoal para criar um benefício para outro indivíduo. Cada participante decide se deve agir altruisticamente com base na reputação da pessoa que irá receber o benefício; os observadores podem “repensar e ajustar” a reputação dos indivíduos com base em seu comportamento.

A reputação tem um papel importante na decisão de cooperar: por exemplo, Alice decidirá cooperar com Bob se ele tiver uma boa reputação e não cooperará se a reputação dele for ruim. Considere o caso em que uma observadora (Chloe) testemunha Alice decidindo não ajudar Bob porque ela acredita que Bob é mau. Quando Chloe tem empatia completa por Alice (E = 1; direita), a opinião de Chloe sobre Bob é baseada na opinião de Alice sobre ele: isto é, Chloe aceita que Bob é mau porque Alice pensa que ele é assim. Na ausência de empatia (E = 0; esquerda), a opinião de Chloe sobre Alice baseia-se apenas na opinião já formada dela sobre Bob; isto é, Chloe acha que Alice seja má porque sabe que Bob é bom. Radzvilavicius et al. exploraram o efeito da empatia na cooperação quando não há consenso sobre reputações. (Fonte: A mathematical look at empathy)

Radzvilavicius et al. estudaram o papel da empatia – a capacidade de formar avaliações morais a partir da perspectiva da outra pessoa. O modelo matemático deles revelou que quando as pessoas são mais empáticas e capazes de se colocar no lugar de outras, o altruísmo tende a contagiar e se “espalhar” ao longo do tempo. Quando as pessoas levam em consideração diferentes opiniões e formam julgamentos morais a partir da perspectiva de outra pessoa, a sociedade pode sustentar um nível mais alto de cooperação.

A empatia tende a fomentar a cooperação e a própria empatia pode evoluir por meio de interações sociais; a empatia se espalha e reverbera por meio da influência social. Radzvilavicius et al. concluem que a capacidade de empatia é um componente chave para que haja cooperação nas sociedades.

Essas descobertas podem nos ajudar a entender como a empatia pode ter evoluído em sociedades que valorizam a reputação como meio de reciprocidade. Um próximo passo seria testar essa teoria em reputações e comportamento em interações online.

Empatia, cooperação e altruísmo vêm garantindo a sobrevivência de algumas espécies animais. Certamente, nós humanos, deveríamos cultivar essas características. A evolução agradece.

Fontes: Evolution of empathetic moral evaluation, The evolution of altruism e A mathematical look at empathy

Crédito da imagem da capa: Lingchor

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Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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