Como você gerencia o seu tempo?

É, talvez pareça estranho, mas a percepção é de que no seu dia faltam horas para se fazer tantas coisas!

Falta o tempo para fazer o que se quer, falta o tempo para organizar o que precisa, falta o tempo para acordar com calma e falta até o tempo para dormir adequadamente.

E falta o tempo para fazer o café, seguindo todas as orientações nutricionais, e que também envolve o preparo de uma fruta, como descascar ou bater. E falta o tempo para uma boa mastigação e deglutição, sem tela, sem conferir as mais novas notícias das redes sociais.  

Falta tempo para fazer o exercício físico, segundo as melhores recomendações científicas. O treino para ganho de força muscular, de resistência ou para dar mais flexibilidade exigem um tempo que não se tem. Dessa forma, quando se consegue fazer três ou quatro treinos semanais, mescla-se os exercícios para se alcançar todos os objetivos, ainda que parcialmente.

Falta o tempo para fazer aquela técnica meditativa, aquela que permitirá que você tenha um bom controle emocional no trabalho e na família, aprimorando sua resiliência, gratidão, autoconhecimento e menor autocrítica. Para tudo isso, parece que somente quando houver tempo para uma saída estratégica, em um final de semana, para algum sítio onde exista momentos para práticas de meditação.

E com essa falta do tempo, inicia-se um dia de trabalho. Chegando ao local, seja ao bairro próximo, à outra cidade ou até ao outro cômodo da sua casa, você já constata que o tempo não vai dar! Antes mesmo de ligar o computador, ou outra máquina de trabalho, ou de chamar o primeiro paciente, ou o primeiro cliente, você já tem certeza de que faltará tempo para fazer tudo aquilo que o seu trabalho demanda naquele dia.

E mais: você constata também de que falta tempo para fazer aquele curso de capacitação de que você necessita, ou aquele curso que, desde o ano passado, você está com muita vontade de realizá-lo!

Você também constata de que falta tempo para realizar aquela mudança da sua forma de viver. De que você gostaria de fazer uma nova formação, porque percebe que a atividade que faz hoje deixa o ritmo da sua vida sempre corrido, que a sua atual atividade sempre exige muito de você! E que agora, com mais maturidade, você não quer mais fazer isso, mesmo que desaponte familiares e parte das pessoas que te cercam.

E a falta do tempo tem mais implicações, como para a tomada de importantes decisões na vida: a mudança para uma nova casa, no relacionamento seja com o cônjuge, com o filho mais velho, com a filha adolescente, com os pais que envelheceram, com um colega de trabalho que já não tem a mesma sintonia e afinidade com você e com os seus princípios. E você vai sempre adiando a tomada de decisão porque falta tempo para você considerar os pontos positivos e pontos negativos para, somente então, tomar a decisão que considera a mais sensata.

Dessa forma, o que eu quero questionar nessa nesse texto é: será que estamos utilizando uma métrica do tempo adequada, já que para tudo que a gente pensa na vida parece faltar tempo?

E essa constatação se dá também por recentes achados da física que questionam o tempo. Será que o tempo é, de fato, o tempo que a gente entende, esse que tem medidas exatas, que mede um tempo de agora em relação a um tempo do futuro com um momento presente no meio? Se esse tempo é o mesmo tempo para todas as pessoas? E falar de física quântica nesse aspecto do qual físico como Carlo Rovelli tem discutido, é para mim resgatar diversos conhecimentos ancestrais.

Resgatar diversos conhecimentos ancestrais, sejam dos gregos quanto de povos africanos é admitir que o tempo é algo bastante relativo. O tempo envolve as mudanças físicas, emocionais, comportamentos e sociais do ser humano. E isso também pode ser uma métrica do tempo.

Mas o tempo também pode ser medido a partir das oportunidades, ou seja, é o quanto você consegue aproveitá-lo bem para fazer coisas que são importantes naquele momento histórico da sua vida, dentro daquilo que você tem de conhecimento, daquilo que você já aprendeu, com os erros das pessoas que estão no seu entorno e com os momentos da trajetória da sua vida.

É o tempo para se fazer as coisas que gosta. E pode ser que nesse momento, para você, seja importante o amor. Resgatar os afetos da sua vida, seja com uma pessoa com a qual quer constituir uma família, ou ter um momento da sua vida sem filhos. Pode ser a oportunidade para ver de novo a sua forma de trabalhar, e de que atualmente você quer mais tempo para realizar outras vontades, seja porque quer ter filhos, mas não necessariamente quer ter uma relação estável com outra pessoa, ou seja porque já é hora de você sair da casa dos seus pais, ou seja porque é hora de voltar para a casa deles.

O tempo também pode ser o que a gente observa muito hoje, o tempo dos cliques, das curtidas, das redes sociais. Será que você questiona que o tempo seu hoje foi tão corrido que não conseguiu passar na rede social? Ou que o seu tempo foi muito adequado hoje que até conseguiu fazer tudo o que você gostaria e sobrou tempo para olhar com calma as suas redes sociais?

E o seu tempo do lazer é medido de que forma? Você faz questão de compartilhá-lo publicamente para que as pessoas saibam exatamente o que está fazendo ou prefere apenas curtir?

São perguntas e reflexões aparentemente simples, mas que revelam a necessidade de rever seu estilo de vida e o que considera ser mais importante, que seja no ano vigente ou nos os próximos cinco anos. Que você faça isso o quanto antes para poder viver o tempo presente e deixar de ficar, cada vez mais, no seu tempo futuro, onde tudo dependerá da forma como você está atualmente.

Alexandre da Silva

Alexandre da Silva é Secretário Nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa - MDHC, Especialista em Gerontologia pela Unifesp e Doutor em Saúde Pública pela USP. Ponto focal para questões raciais do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil), Membro do GT Racismo e Saúde (Abrasco).

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