Em Setembro de 2016, eu publiquei no meu blog, uma versão em português para o texto publicado originalmente pela Harvard Business Review, intitulado What Having a “Growth Mindset” Actually Means, de autoria da Profa. Dra. Carol Dweck.

A expressão growth mindset não possui equivalente em português. Refere-se à capacidade de possuir uma mentalidade (ou visão de mundo) capaz de absorver as dificuldades e transformá-las em oportunidades de desenvolvimento para novas habilidades, por meio de treinamento, estratégias e busca por ajuda. Em outras palavras, um sujeito com growth mindset acredita que dons podem ser desenvolvidos, e não se restringem àqueles inatos, o que lhe permite encontrar soluções criativas, ampliar seu repertório, estar pronto para aproveitar oportunidades, e desenvolver redes e processos colaborativos eficientes. Nesse texto, growth mindset foi traduzido como mentalidade-expandida, podendo também ser tomado como visão-expandida, ou mentalidade-de-crescimento”

Dois anos atrás eu já pesquisava sobre o que acabou se tornando uma tendência no último ano. Uma maneira inovadora de combinar o pensar, o agir, o interagir e o reagir aos fatos, à sociedade e ao mundo do trabalho, nesse novo século de tecnologias e globalização. Por definição, isso é praticar o Futurismo, e é isso que tentamos estimular com os nossos textos aqui.

No texto passado, usei a mágica do “Espelho, Espelho meu”, nesse processo Futurista: a inspiradora de mudanças quando você decide olhar-SE (maiúsculo) para entender-SE no processo, e ir em busca de algo novo, melhor, mais produtivo e mais p-r-a-z-e-r-o-s-o. Sim(!): prazer e trabalho são palavras permitidas na mesma frase, e atitudes permitidas na mesma vida profissional!

Meu texto desse mês segue a evolução dessas ideias, e dessa vez eu quero que você pratique, em si mesmo, um diagnóstico para ajudá-lo a se perceber nesse mundo que muda tanto, a cada dia! Quero convidar você a um exercício mais denso: que tal aplicar a teoria da growth mindsetmentalidade-expandida – na sua vida profissional, nas suas decisões, no seu reposicionamento de carreira e/ou de práticas profissionais, ou no que quiser? Cada dica mostra como você deve trabalhar sua mentalidade em relação a um fato, contexto ou expectativa de mudança.

Você deve estar se perguntando: “Para que, afinal, eu precisaria desse tal diagnóstico?!”. Se pensar bem, ninguém precisa de nada, mas todos estamos em busca de algo diferente. Isso se chama motivação. Esse texto é motivador na medida em que vai ajudá-lo a descobrir como sua mentalidade reage ao mundo e ao seu cotidiano. Uma vez feito esse diagnóstico, fica mais claro o que é preciso mudar na sua vida para que as “coisas aconteçam”!

Antes de descobrir se você tem tendências à mentalidade-expandida é importante destacar que todos nós apresentamos uma amálgama das duas mentalidades, a fixa e a expandida. Essa mistura tende a evoluir continuamente, com a experiência e o trabalho de aprimoramento pessoal, rumo ao máximo da segunda e ao mínimo da primeira.

A mentalidade-expandida pura não existe e reconhecer isso é o ponto de partida para trabalhar com sucesso no reconhecimento dos aspectos de sua vida que já estão preparados para ela. Da mesma maneira, é necessário mapear os aspectos pessoais que nos arrastam na velha mentalidade-fixa e desenvolver estratégias para transformá-los, revertendo-os em mentalidade-expandida.

DICA 1: Se ninguém tem 100% de mentalidade-expandida, e se somos seres de hábitos (e somos!), comece identificando, em seus hábitos mais comuns, os aspectos apresentados nos passos seguintes. Em geral, lançar mão de recursos visuais e organização de ideias (post-it, anotações em cadernos de notas, por exemplo), para trazer esses comportamentos à consciência, ajudam a mapear sua mentalidade de forma mais eficiente. Criar, sonhar, planejar, desenhar, acreditar, solucionar, agregar e desafiar são verbos que traduzem o início desse diagnóstico. Use-os para analisar onde você está, para onde deseja seguir, e qual a meta que deseja alcançar. Assim, claramente e objetivamente!

Passo 1: você acredita que pode desenvolver novos talentos e habilidades?

Mentalidade-expandida é um comportamento, uma atitude, e não, um conteúdo ou conhecimento. É uma forma dirigida e mais abrangente de agir e de pensar, que abre espaço para mudanças no comportamento pessoal e que, por sua vez, acabam por mudar os processos ou a forma pela qual você atua no seu meio pessoal/profissional, potencializando os resultados ao final dessa cadeia de atitudes.

 (…) pessoas que acreditam que seus talentos podem ser desenvolvidos por meio de treinamento intensivo, boas estratégias, e processos colaborativos de aprendizagem possuem uma forma mais expandida de ver as coisas (ou growth mindset). Elas tendem a alcançar mais resultados que aqueles com uma mentalidade fixa, ou seja, aqueles que acreditam que seus talentos são dons inatos (fixed mindset). Essa diferença acontece porque aqueles dotados da mentalidade de crescimento preocupam-se menos com parecer inteligentes e colocam sua energia na aprendizagem” (Carol S. Dweck)

Por essa razão, você tem mentalidade-expandida quando acredita que não é um produto finalizado de sua vida, mas sim, um processo em constante evolução. Quando aceita que é capaz de agregar mais valores àqueles que já possui hoje, e que pode fazer coisas que nunca pensou/estudou antes, simplesmente pelo fato de que os desafios podem lhe fazer crescer, e levá-lo um nível acima do que se encontra hoje.

DICA 2: Todos podemos desenvolver novas habilidades, competências, atitudes. Alguns de forma mais rápida que outros, em determinados aspectos, mas todos somos capazes. Se você parou algum projeto profissional, pessoal, afetivo ou familiar porque “não sei ser/fazer isso ou aquilo” você está trabalhando com mentalidade-fixa. Inverta a proposta e pense “como posso aprender a desenvolver essa ou aquela habilidade para levar adiante o tal projeto”? Aprender, apreender, treinar, capacitar, estudar, desenvolver, praticar e fazer são os verbos que definem atitudes dessa característica da mentalidade-expandida. Vá em frente: voe!

Passo 2: você busca por colaborações complementares às suas competências para desenvolver projetos melhores e mais eficientes?

Embora todos possamos desenvolver novas competências, quando trabalhamos no seu aprimoramento, há momentos em que devemos discernir entre o perseverar e o insistir, em função de prazos, objetivos e resultados. Os melhores resultados, em qualquer projeto, são aqueles desenvolvidos soliDariamente, e não, soliTariamente. Uma letrinha que faz toda a diferença do mundo!

DICA 3: Vivemos os tempos do coworking, ou tempos de unir forças para atingir propósitos com maior eficiência e menor tempo, para mais pessoas a custos menores, com mais tecnologia. Se suas práticas apontam para esse caminho, você marcou seu segundo ponto a favor da mentalidade-expandida. Delegar, desapegar, somar, multiplicar, agilizar, distribuir, ampliar e f-a-z-e-r são os verbos dessa competência. Use-os sem moderação!

Passo 3: você é capaz de aceitar desafios para superar seus limites atuais e desenvolver novos valores e perspectivas?

Aqui é preciso trazer, novamente, as palavras da autora do conceito de mentalidade-expandida:

Quando enfrentamos desafios, recebemos críticas, ou quando nosso desempenho é baixo em comparação ao dos colegas, facilmente caímos na defensiva ou na insegurança, uma resposta que inibe a expansão”

Enfrentar desafios, aceitar o erro como uma forma de aprender, reconhecer a lição e tentar novamente, desenvolver a resiliência e fazer de cada nova tentativa um desempenho aprimorado. Isso resume enfrentar desafios. Você é capaz de pensar e agir assim?

Superar limites gera críticas. Sair do “normal” gera julgamentos. Ser diferente gera comparações. Quem tem (ou quer desenvolver) mentalidade-expandida precisa saber lidar com os desafios, os limites e a adversidade. Na verdade, é uma combinação das características anteriores que completa o ciclo, todas convergindo para novas atitudes diante dos velhos fatos.

DICA 4: O novo século trouxe uma vida diária de desafios. Em 2005 todos pensavam que celulares eram aparelhos para fazer/receber chamadas telefônicas. Mas, em 2009, todos já tinham se adaptado ao conceito do chamado smartphone. Todos nós superamos limites diariamente porque encaramos pequenos desafios. E só os superamos porque não os consideramos desafios, mas sim, como “adaptações” necessárias. Pois bem: use esse pensamento para todas as transformações que você quer ver em sua vida e considere-as adaptações. Supere-as e surpreenda-se como será cada vez mais fácil e mais simples, encarar desafios e transformar cada pequeno aspecto de sua vida, até que sua vida inteira se transforme naquilo que você projetou para si mesmo.

Gostou? Pratique isso para cada aspecto, para cada sonho, para cada projeto, e vai descobrir um mundo totalmente novo e inexplorado dentro de si mesmo. Seja futurista da sua própria vida e veja as coisas acontecerem em sua vida, a partir de agora!

Cortesia da imagem da capa: Megatrends by HP

Denise Da Vinha

Fisioterapeuta, Mestre em Fisioterapia, Doutora em Pediatria e Pós-Doutora em Engenharia Biomédica. Especializou-se em Metodologias Ativas de Aprendizagem e em Design Thinking for Education. Além de seguir atuando na carreira docente (no Brasil e na Espanha), atua na assessoria de desenhos Curriculares personalizados e inovadores, onde o principal trabalho é preparar, em mindset e repertórios, o corpo docente de instituições de ensino superior para que encontrem os melhores caminhos da inovação na formação dos egressos, dentro de sua própria realidade e recursos. Há dois anos iniciou a Rede Innovares (Facebook e YouTube), um projeto de desenvolvimento docente, baseado em modelos colaborativos, com o objetivo de dividir conhecimento para multiplicar experiências de aprendizagens. Sua produção científica conta com artigos em periódicos nacionais e internacionais, cursos e palestras em eventos científicos, livros, orientações de pós-graduação, sistematização de processos científicos e técnicos, todos nas áreas de Educação, Fisioterapia e Saúde.

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