Nem sempre levamos em conta as informações que estão disponíveis e ao nosso alcance em processos de tomadas de decisão. Isso acontece porque somos influenciados por vieses comportamentais.

Heurísticas são atalhos mentais, muito úteis em processos de tomada de decisões rápidas.  Mas elas acabam tornando-se um problema quando nos levam a concentrar nossa atenção em apenas um aspecto do problema, nos fazendo ignorar outros elementos importantes dentro do processo como um todo. Estes atalhos se tornam vieses comportamentais quando baseados em padrões estabelecidos ou em experiências passadas que acabam distorcendo o nosso julgamento e nos levando a desvios da racionalidade e da lógica.

Quero compartilhar com vocês o “Enigma do acidente envolvendo pai e filho”, que é o seguinte:

Pai e filho sofrem um acidente grave de carro. Alguém chama a ambulância, mas o pai não resiste e morre no local. O filho é socorrido e levado ao hospital às pressas. Ao chegar ao hospital, a pessoa mais competente do centro cirúrgico vê o rapaz e diz: ‘Não posso operar esse menino! Ele é meu filho!’.

Quem seria essa pessoa mais competente do centro cirúrgico? Fizeram um enquete nas ruas. Assista o vídeo aqui, antes de prosseguir a leitura.

A linha de raciocínio foi que, o pai estando morto, quem poderia ser essa pessoa?  Foi cogitado que o personagem seria o avô do menino, o espírito do pai encarnado, Deus, o padrasto ou mesmo o pai de uma relação homoafetiva. Entretanto, o que a eles não se deram conta foi o que seria mais óbvio: a pessoa mais competente do centro cirúrgico era sua mãe. E se era a constatação mais óbvia, por que as pessoas não responderam? Porque aqui nos deparamos com um viés comportamental relacionado a gênero.

Os vieses comportamentais são um processo instintivo e automático. A área ligada às finanças comportamentais se apropria muito deste estudo para entender o comportamento do investidor e o impacto nas decisões sobre o investimento e os resultados que podem causar.

O livro Previsivelmente Irracional, de Dan Ariely, professor e autor israelo-americano que se dedica ao estudo da economia comportamental, aborda como tomamos decisões irracionais baseadas em padrões nem sempre coerentes. Assista ao TED Talk dele.

Esses vieses comportamentais nos acompanham em nossas tomadas de decisões ao longo da vida. Se isto é um fato já comprovado cientificamente, temos de estar atentos ao impacto que acontecem em nossas decisões e escolhas referentes à nossa carreira. Mesmo sabendo que emoções, crenças e experiências passadas influenciam nosso comportamento, ainda assim acreditamos que nossas decisões são tomadas de forma racional.

Decidir qual faculdade cursar, qual atividade profissional iremos desenvolver, a empresa que iremos estagiar e tantas outras decisões que acontecem na vida profissional requer tempo, reflexão e muito autoconhecimento. Como mencionei, vários vieses comportamentais irão permear este processo. Assim, torna-se importante e estratégico conhecer e reconhecer os preconceitos, crenças e julgamentos que podem influenciar sua escolha.

Vou elencar alguns vieses comportamentais que geram impactos importantes nas escolhas de carreira.

– A tendência a permanecermos em caminhos já conhecidos e resistirmos a mudanças, mesmo quando é a alternativa mais adequada.

– Julgarmos não sermos capazes e que não seremos bem-sucedidos em outras carreiras.

– Darmos maior peso a julgamentos instintivos do que a evidências.

Estes vieses listados são alguns dos mais recorrentes dentre aqueles ligados à carreira e exercem um impacto muito grande nas nossas decisões. É fundamental que saibamos onde as suas escolhas esbarram e quais são os pontos mais críticos. E nunca, jamais, tomarmos decisões baseadas em apenas uma referência ou um dado.

A ideia é que nos afastemos da tendência da acomodação onde é muito mais fácil decidir de primeira do que pesar prós e contras, analisar dados, ter um espírito crítico e de questionamento. Um ponto de extrema importância no cenário das possibilidades e mudanças no mundo do trabalho, e que pode ser uma grande armadilha é a tomada de decisão baseada apenas no viés da disponibilidade imediata da informação, sem considerar outras.

Tendemos a fazer escolhas de carreira baseadas naquilo que fomos expostos, seja por meio das nossas próprias experiências ou das experiências dos nossos amigos e parentes. Tendemos a não considerar outras carreiras as quais não temos informações prontamente disponíveis. E considerando o cenário atual onde o mundo do trabalho apresenta inúmeras novas possibilidades, esta pode ser uma armadilha determinante na sua carreira.

Ilustração da capa: Ann Yun, UChicago Creative

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Patricia Dalpra

Patricia Dalpra é estrategista em Personal Branding e Gerenciamento de Carreira, fundadora da PD Imagem e Carreira que surgiu da vontade de contribuir com as conquistas de pessoas e empresas através do desenvolvimento de uma estrutura que possa fundamentar e organizar uma marca e planejar uma carreira com base em seu DNA, preservando e valorizando sua essência para alcançar as melhores relações com a sociedade e o mercado. Pós- graduada pela Universidade Ramon Llull Barcelona – Madri e Formação Executiva em Brand Leadership pela Columbia University NY – EUA.

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