Grande parte das pessoas quando questionadas sobre futuro e tecnologias, comumente expressam medo e preocupação. Esses sentimentos podem ter sido gerados por filmes e séries distópicas como Blade Runner, Ex_Machina, Black Mirror.

Eu acredito muito pouco no efeito Black Mirror, em que o melhor da Tecnologia encontrará o pior do Humano. No meu atual trabalho, como pesquisadora e pensadora sobre futuros desejáveis, utilizo muitas pesquisas de tecnologia exponenciais.

A narrativa que tive acesso três anos atrás, ainda enquanto trabalhava na IBM, chamada Vision 2025 da Faith PopCorn’s Brain, considero ideal para demonstrar a exponencialidade em que co-criaremos quando conectarmos o melhor da Tecnologia ao melhor do Humano.

Nesse estudo, que está inteiro disponível aqui, somos convidados a uma viagem para o ano de 2025, acompanhando o dia a dia de uma jovem de 32 anos, chamada Jessica. Como acredito que todas as tecnologias hoje – iniciais & potencias – não estarão totalmente instaladas de forma planetária até 2025, sugeri uma licença poética e ajustei a visão para 2037.

A narrativa começa apresentando Jessica como criadora de conteúdos de três grandes empresas (Google, Neuro Text e Vita Feed). Junto com mais três pessoas participa da educação de uma criança de dez anos, processo conhecido como co-parenting.

Jessica ainda não sabe quando ou se terá filhos por isso decidiu congelar seus óvulos, prática comum entre jovens mulheres nos 30. Ela costuma fazer downloads através de seu chip, pratica fitness holográfico, defende direitos de trabalhadores humanos e tem também uma agência de viagem virtual com tecnologia Oculus RiftX.

Ao longo da descrição da rotina altamente tecnológica da Jessica, percebemos que para cada tecnologia madura, potenciais novas formas de interações humanas ou organizações sociais se apresentam, bem ao estilo da frase amplificada pelo pensador de futuro, Jason Silva: “We Design Things, Things Design us Back!”

VR/AR + Pluralidade de Talentos = Me Office

O primeiro paradigma a cair nos próximos anos serão as relações de trabalho. Não farão mais sentido contratos exclusivos com uma única organização. Dada à pluralidade de atividades e a mobilidade de acessos, teremos então não empregos, mas fontes de renda, na melhor versão “Me Office”, onde as pessoas entregarão seus talentos através de projetos congruentes a seus valores e verdades, dando o melhor de si e recebendo o melhor de todos.

Alta Conectividade + Mobilidade  = Novas Relações Pessoais

As relações deixam de ser binárias. David, o garoto de dez anos é educado por Jessica e mais três companheiros, vivendo uma relação não necessariamente amorosa, mas poderia ser também. Os relacionamentos serão menos orientados a sociedade e mais ao que traduz as verdades de cada um, dada também as facilidades de mobilidade e conectividade.

Robotização + AI + VR/AR = Mundos Desmaterializados e Democratizados

A maioria das empresas, na narrativa de Jessica, terá uma mão de obra robótica de forma maciça. Essa é umas das tendências que mais assusta.  Entretanto gosto de acreditar que “Um trabalho que a máquina faz melhor que um humano é um trabalho desumano”.

Quando os trabalhos que realizamos hoje de forma mecânica e repetitivo forem delegados aos robôs, seja ele de automação ou de artificialização da inteligência, teremos a liberdade para viver de forma mais humanizada, priorizando nas nossas produções de riquezas o criar, cuidar, conhecer, compartilhar, comunicar, curar. Tudo só será possível dentro de um ecossistema altamente tecnológico & digitalizado, ou melhor, desmaterializado.

A propósito você é um Desmaterializador de Mundos?

O mantra do mundo dos negócios que permeia desde as grandes corporações até as startups, na atualidade, é Transformação Digital. Mas, para mim a melhor palavra que define o conceito de Transformação Digital é Desmaterialização.

Para Peter Diamands, co-fundador e presidente executivo da Singularity, o processo de desmaterialização consiste em um dos seis pilares para tornar uma empresa exponencial:

Desintermediar Processos

Desmaterializar é deixar de criar coisas físicas utilizando métodos inteligentes. Consequentemente ao desmaterializar produtos, torna o processo mais fluído e de fácil acesso o que garante a desmonetização.

Ao desmonetizar o que acontece com o processo? Gera acesso para mais pessoas, assim democratiza-se o produto, serviço e/ou solução. Então para mim são suficientes 4Ds:

Esse é um processo que está vindo com força. E não estou só falando da uberização, mas de um fenômeno maior que classifico como “Desintermediação dos Processos e de Desmaterialização de Mundos”

Quem já teve contato com experiências de imersão com óculos de realidade virtual, aumentada e realidade mista de ponta pode perceber a desmaterialização de muitas coisas.

Até o próprio Facebook, que já é um negócio digital, tem sua versão completamente desmaterializada pela sua versão VR, chamada Facebook Space; o Google Earth VR está fazendo o mesmo pelas experiências de mapas e só citandos esses dois aplicativos, já teremos desmaterializadas as três principais telas de nossas vidas hoje: Televisão, Computador e Celular.

Desmaterializando Mundos

Dentro dessas experiências e da narrativa da Jessica fica claro que a desmaterialização, aliada ao fenômeno da “desintermediação” das diversas cadeias de valores, serão potencialmente grandes Democratizadoras de acesso a diversos Mundos que serão criados em cima do nosso atual Mundo.

É por isso que acredito que todos que possuem hoje “Digital” no nome, deveriam se considerar Desmaterializadores & Democratizadores de Mundos, pois estão migrando coisas físicas que são de difícil distribuição, para virtualidades reais, dando acesso à lugares, conhecimentos e experiências em escala planetária, exatamente como acontece com a Jessica em “Um dia em 2037.

Porque através da tecnologia, barreiras físicas serão ultrapassadas, permitindo acesso a educação, fontes de renda, diagnósticos de saúde, entre muitas outras coisas que atualmente dependem muito de estruturas para chegar às massas. 

Esses acessos a mundos digitalizados nos farão mover da “Era Windows”  em que os acessos se dão por janelas digitais limitadas, para entramos na “Era Doors”, onde acessos e experiências serão mais fluídos e abundantes levando à muitas portas não para um único mundo, mas para muitos mundos de possibilidades.

Um dia em 2037:

O Futuro é Agora:

Crédito da imagem da capa: Josh Hild em Unsplash

Ligia Zotini

Ligia Zotini Mazurkiewicz é Pesquisadora e Pensadora de Futuro, fundadora do Voicers, possui uma carreira de 15 anos na Indústria de Tecnologia e 20 anos na Educação é Mestre em Global Talent Management pela PUC/SP com extensão na universidade de Wuhan - China. Ama fazer pontes para Futuros Desajáveis.

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