Se você é uma dessas pessoas que costuma trabalhar todos os dias da semana, às vezes aos sábados ou domingos, que passa 40 ou mais horas semanais ocupadas com a sua atividade profissional, sem considerar o tempo de celular em que continua a trabalhar, você é uma das pessoas que entrou no século XXI com a urgência de mudar o seu estilo de vida!

Eu sei muito bem que faz parte do nosso aprendizado e dos valores morais vigentes a preocupação, herdada de pais e avós, para que tenhamos uma boa educação, um bom trabalho, uma família e que o ciclo e as experiências exitosas se repitam para as futuras gerações.

O fato é que estamos mudando. E tudo no mundo está em constante transformação, para o bem ou para o mal. Para além das possíveis mudanças climáticas que poderão nos exigir novos ou velhos comportamentos, como horários para as práticas de atividade física, de entrada das nossas crianças nas escolas, dos horários de trabalho e dos meses para as férias, ainda temos a Revolução da Longevidade.

Diversos estudos já estimam que poderemos viver para além dos 80 anos. Sim, poderemos ser centenários e isso demanda, a partir de hoje, mudanças nas nossas vidas e na forma como queremos envelhecer.

E a sua vida? Qual o ritmo que você escolheu para bem viver e envelhecer? Já pensou que um bom ritmo deveria se assemelhar ao de atletas de longas distâncias, como os maratonistas cujas provas duram horas e, às vezes, dias?

Nem sempre se acaba a prova dando o melhor da sua condição física, em termos de potência e da real velocidade que temos. Muitas vezes, são vencedoras todas as pessoas que finalizam a prova. Mas já pensou em fazer a prova da sua vida em outros ritmos?

Pense em um corredor de provas como as de 1500 metros, como foi Joaquim Cruz e tantos outros atletas, desde aqueles que fazem o decatlo até os especialistas em provas de 800m e o próprio 1500m. Nessa última prova, há muitas habilidades que podemos levar para a nossa vida. Vejamos algumas delas:

Escolha uma trilha sonora da sua vida: em tempos atuais, o termo correto poderia ser escolha uma playlist para a sua vida! Muitos atletas, não só do atletismo, costumam treinar ao som de muitas músicas, de diversos tipos, mostrando qual o ritmo que devem fazer naquele momento. Analisando a linha de chegada cujo logotipo pode ser “viver mais e bem”, precisamos encontrar um ritmo de vida que traga alegria nas fases de nossas vidas. Na infância e adolescência, a trilha sonora é predominantemente repleta de risadas e poucas preocupações. É uma espécie de…, ou como essa geração fala, “tipo…” uma playlist automática. Mas, da fase adulta em diante, é necessária mais autonomia da nossa parte e uma atenção maior para as escolhas das músicas.

Aproveitando: valorize o máximo que puder a sua autonomia. Ela é mais importante que sua saúde física. Seria como compararmos uma máquina perfeita sem alguém no controle. Quando ambas, autonomia e saúde física, são cuidadas e presentes na sua vida, o alcance do céu ou da lua são o limite!

Continuando a falar da corrida da nossa vida. Corredores nunca começam a prova dando o seu máximo, correndo na maior velocidade que podem. Eles procuram acompanhar o ritmo da prova de todas as pessoas participantes. Pode ser que, vez ou outra, alguém acelere, talvez para impor um ritmo mais veloz, seja para se testar ou porque está se sentindo muito bem e, de acordo com o planejamento da prova, consiga concluí-la da melhor forma possível.

Na busca para a longevidade pode-se pensar assim também: sentindo as tendências, analisando os valores morais vigentes, os hábitos de vida que se têm à disposição ou procurando encontrar outra profissão (talvez aqui um insight para quem pensou em carreira e trabalho: não seremos como nossos pais que, muitas vezes, envelheceram fazendo a mesma atividade ocupacional).

Lá pelo meio da prova, aqui podemos fazer uma analogia aos 40 ou 50 anos, cada atleta já encontrou o seu ritmo da corrida que, no nosso contexto, é a forma como escolhemos viver. Poderá até existir momentos de tensão, como uma trombada entre os corredores, uma queda, mas tudo ainda é possível, desde o chegar em último lugar até alcançar a almejada vitória. Muitos atletas sentem o que ainda podem fazer na prova e já projetam suas colocações nessa corrida.

Na perspectiva para o bom envelhecimento, talvez seja o momento de pensar, antes de mais nada, em usufruir o presente, o tempo das oportunidades. Nessa nova forma de envelhecer, talvez muitas pessoas possam pensar se ainda querem ou não constituir uma família, seja de filhas e filhos biológicos ou adotivos, se terão uma vida conjugal com alguma pessoa, se o plano ainda será de viver na casa dos pais ou sozinha em uma moradia que lhe agrade.

Nesse momento da prova, tudo pode ganhar contornos agradáveis ou não. Alguns corredores podem desistir de ganhar e só pensar em concluir a prova e fazer o seu melhor tempo (aqui, pode-se deduzir viver mais tempo que seus pais), mas para outras pessoas é o dia de fazer a prova da vida. Repensar a carreira, pausar, valorizar a maternidade ou paternidade, rever valores morais, sair de amarras que o impediam de voar ou de ser livre das opiniões e visões de outras pessoas. Essa fase da prova pode ser maravilhosa e tão boa quanto a parte final da corrida (pense nisso, tá?).

Na parte final da corrida, há a aceleração das passadas e um pelotão de potenciais ganhadoras e ganhadores é formado. Dali sairão medalhistas que, no nosso caso, serão as pessoas que chegarão bem aos 80, 90 ou 100 anos!  Isso não é maravilhoso? Um pelotão de pessoas vitoriosas! É assim que vejo a Revolução da Longevidade, um mundo de pessoas grisalhas, um mundo que viverá mais a intergeracionalidade, que aprenderá e precisará ensinar às mais velhas e aos mais velhos! E teremos a chance de ver duas, três até quatros gerações de uma mesma família, a biológica ou a estendida, convivendo juntas.

Nesse momento da prova, é possível ver o potencial de cada corredor e corredora. O final é repleto de surpresas, de conquistas, de satisfações pelo bom planejamento da prova. Não há sentimento de derrota para quem envelhece bem e aprende com tudo aquilo que a vida mostra.

Asè, Yin Yang, ou qualquer outro saber que você conheça nos mostra a importância do equilíbrio, da sabedoria em aprender com acertos e erros, em usufruir a trajetória e as possíveis companhias para, só ao final da prova, ficar feliz por chegar ao destino, cruzar a linha de chegada, a boa longevidade!

E você? Já definiu a estratégia da sua corrida para a boa longevidade?

É assim que inauguro minha participação como colunista no O Futuro das Coisas! Espero que possamos nos encontrar mais vezes para trocarmos reflexões, aprendermos juntos, rir e, quando necessário, termos indignação ou necessidade de chorar!

Alexandre da Silva

Alexandre da Silva é Secretário Nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa - MDHC, Especialista em Gerontologia pela Unifesp e Doutor em Saúde Pública pela USP. Ponto focal para questões raciais do Centro Internacional de Longevidade (ILC-Brasil), Membro do GT Racismo e Saúde (Abrasco).

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