Recentemente, publiquei no meu Linkedin um post sobre automatização no atendimento ao cliente. Foi mais uma pesquisa contextual para suprir uma curiosidade particular, já que na maioria das vezes que vou a algum supermercado que possui caixa automático, o mesmo está vazio. Então questionei: na sua opinião, qual(is) seria(m) o(s) motivo(s)?

( )1. Medo do novo.

( )2. Vergonha de não saber mexer.

( )3. Estou pagando então quero ser servido(a).

( )4. Raiva, pois está deixando pessoas desempregadas.

( )5. Todos os itens acima.

( )6. Outro(s). Especifique_____

As respostas foram variadas, mas a mais votada foi a número 1, medo do novo.

Com isso surge a seguinte pergunta: em quantos momentos do nosso dia temos contato com a tecnologia?

Nos dias atuais, ela é quase que onipresente, não é verdade? Começa com o despertador do celular pela manhã e segue até à noite, passando por dispositivos tais como: ponto eletrônico; computador; aplicativos diversos, em destaque os de conversas on-line e por aí vai. Dificilmente alguém consegue passar 24 horas sem ela.

E, se isso nos faz pensar que as pessoas estão habituadas a esse mundo digital, acreditemos, estamos longe da verdade. Há quem tenha aversão à ela, e até de forma extrema, fenômeno que é conhecido como tecnofobia.

Esse medo pode se manifestar em maior ou menor grau. Há casos mais extremos em que uma pessoa ao ser confrontada com uma tecnologia que não domina, pode apresentar sintomas como respiração ofegante, palpitações, tontura, irritabilidade e outros sinais associados à ansiedade.

E, mesmo diante desta conclusão sobre a existência do medo do novo relativamente à tecnologia, o objetivo aqui não é tratar especificamente sobre isso, mas sim, abordar o crescimento exponencial da tecnologia através da Indústria 4.0, mais especificamente na área da saúde.

Entende-se por Indústria 4.0 como sendo o novo modelo de produção desenvolvido nas organizações, a qual trouxe como marca um significativo avanço na relação entre homem e máquina, fruto da chamada quarta revolução industrial.

Esse novo modelo está impulsionando vários avanços, trazendo para o centro da questão aspectos relacionados ao uso da tecnologia, elevando a automatização a patamares bem acima do que a indústria está habituada.

Indústria 4.0 possui uma relação muito íntima com a conectividade, inteligência artificial, ciência de dados, big data, Internet das Coisas (IoT), machine learning, chatbots e tantos outros, transformando a maneira como máquinas se comunicam e utilizam as informações para otimizar o processo de produção, tornando-o mais econômico, ágil e autônomo.

O tema aqui no Brasil ainda é pouco conhecido. Segundo pesquisa da FIESP, cerca de 30% das empresas nunca ouviram falar nesse termo, o que nos leva a concluir que o grau de conhecimento das empresas está em uma, digamos, crescente. Em outras palavras, existe uma tendência de que a Indústria 4.0 se inclua de maneira gradual nas empresas, conforme elas forem sentindo necessidade de inovar.

O Setor Saúde

saúde é fundamental para o ser humano, inclusive, impacta na produtividade de um país. Ter profissionais saudáveis e ativos na maior parte do tempo é uma condição básica para um melhor desempenho. Em função de fatores como envelhecimento populacional e doenças crônicas, que são os maiores causadores da elevação das demandas por assistência, fatalmente geram custos muito elevados, mas que podem ser equacionados com a incorporação tecnológica que auxilie às práticas de controle e promoção à saúde, que é então o grande objetivo do momento.

O setor da saúde possui uma representação significativa na atividade econômica, pois o ecossistema de  profissionais é amplo e há uma enorme cadeia produtiva. Segundo dados da OPAS, os gastos com saúde estão crescendo mais rapidamente do que o resto da economia global, representando 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. No Brasil, conforme publicação da Conta-Satélite de Saúde 2010-2015, do IBGE, as despesas com o consumo final de bens e serviços de saúde atingiram R$ 546 bilhões em 2015, correspondendo a 9,1% do PIB.

Saúde 4.0: alguns exemplos e insights

Na saúde, o campo para a Indústria 4.0 é considerado vasto, principalmente pelas inúmeras falhas e gaps existentes em toda sua cadeia produtiva. Uma delas é a assimetria informacional, ou seja, nas transações entre os atores: geralmente, uma parte tem maior ou melhor informação do que outra parte, gerando, assim, desequilíbrios tanto econômico-financeiro quanto assistencial.

Automação e Sistematização

De cara, quando se fala de Indústria 4.0, se pensa logo em automatização, como por exemplo, o processamentos de exames laboratoriais, através de interconexões entre máquinas, levando até o envio de material biológico para o equipamento correto e que geram resultados mais precisos, em um tempo cada vez mais curto. Os benefícios destas automações se estendem também ao médico, que não apenas é avisado quando os exames estão prontos como pode acessar os resultados em uma plataforma pela internet. De todas as perspectivas para o uso de tecnologia na área da saúde, a IoT é uma das mais promissoras.

Em essência, a IoT é definida como a habilidade que as máquinas têm de monitorar, analisar, predizer e verdadeiramente automatizar  negócios em tempo real. Segundo a consultoria Gartner, entre 2014 e 2015, houve um aumento de 30% no uso de aparelhos inteligentes, alcançando 4,9 milhões de dispositivos conectados no período, e esse número deve chegar em 2020 a mais de 25 milhões.

A contribuição da IoT para a saúde é ainda maior, visto que este conceito engloba não somente a conexão de dados em tempo real, mas também a análise e a reação com base no entendimento dos dados capturados. Podemos exemplificar destacando a conexão de monitores que podem permitir ao médico acompanhar os seus pacientes e até prescrever medicamentos com base nas informações coletadas.

Basicamente, a IoT facilitará muitos processos, atuando a favor da saúde e aprimorando o relacionamento entre médico e paciente. Entretanto, não podemos esquecer que é necessário também compreender que a inteligência artificial pressupõe a inteligência humana. 

Health Analytics

A saúde 4.0 não se limita a processos de automatização e sistematização, através de sensores que capturam informações, mas também na análise desses dados recolhidos. Essa será uma das maiores tendências para os humanos e máquinas atuarem juntos.

Com o Machine Learning é possível conhecer informações para poder analisá-las, processo esse conhecido como Health Analytics. Essas tecnologias possuem um papel fundamental na tentativa de equilibrar os custos, que, por sua vez, são crescentes, sem desconsiderar o oferecimento maior e melhor da assistência em si.

Nesta linha, podemos pensar em um outro benefício do uso das tecnologias da Indústria 4.0: o monitoramento do paciente à distância, que pode contribuir para facilitar a vida das equipes de saúde e promover a redução de custos, além de possibilitar comodidade ao paciente.

Foco no Paciente

Um dos maiores desafios e aprendizados disso tudo é o foco no paciente. Desta forma, é preciso repensar a relação dos atores da cadeia produtiva para atender cada vez melhor quem procura os serviços de saúde. Para uma leitura complementar e importante para uma melhor noção deste ponto, clique aqui.

A Indústria 4.0 na saúde impacta diretamente no desenvolvimento de novos tratamentos, no monitoramento do paciente e na gestão dos recursos das unidades de saúde. Em um hospital, por exemplo, a Indústria 4.0 incentivará a colaboração e geração de conhecimento, o que leva cada vez mais inteligência ao processamento de exames laboratoriais e outros diagnósticos. 

O Profissional e a Saúde 4.0

Na Saúde 4.0 será necessário profissionais com manuseio satisfatório para realizar a gestão dessas tecnologias, bem como desenvolver projetos de educação continuada bem específicos para tecnologias emergentes, as quais são criadas a cada instante.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)

A questão da privacidade é também um ponto a ser levantado e observado. O que se discute muito atualmente é a privacidade dos dados do paciente ou a privacidade dos dados da instituição em ambientes online, os chamados “nuvem”. Dentro de uma organização de saúde já existe o consenso de que os dados são dos pacientes (titulares dos dados), então qual é o tipo de controle na entrada, tratamento, armazenamento, compartilhamento e descarte desses dados? Um ponto de atenção neste universo são os prontuários eletrônicos implantados, pois neles constam dados pessoais sensíveis.

Os portfólios de empresas que estão oferecendo essas soluções no mercado devem incluir um acervo de informações que contribua para as melhores práticas médicas em todas as instâncias. Não teremos lugar para empresas que estiverem em desacordo à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Por Fim…

Das quatro revoluções industriais, que vão do século 18 ao 21, esta atual é a que traz maiores desafios e oportunidades o que é essencial para vencer em um mercado cada vez mais competitivo. E não tem volta. A produção automatizada já é uma exigência há tempos. Quem não aderir mergulhará em mares de dificuldades para se manter na competitividade no mercado. A disputa será cada vez mais acirrada por entregas de tecnologia de ponta. A moeda desta nova era é a inovação associada ao conhecimento.

Em vez de grandes mudanças estruturais, a Indústria 4.0 requer uma grande adaptação no modo em como vivemos e transformamos a atividade econômica nos dias atuais. Apesar de ser uma questão tecnológica, essa Indústria possibilita oferecer modelos de negócios inovadores e experiências diferenciadas em detrimento dos antigos padrões de consumo.

Com esta condição, se torna possível adotar gradualmente as melhorias, com custos menores e experimentos constantes.

Então, continuaremos com medo do novo?

Cortesia da imagem da capa: EY

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Nazareno Maciel Junior

Nazareno é atuário, perito, palestrante, escritor e mestre em Economia. Atua no segmento de Saúde Suplementar. É membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), do Comitê Nacional dos Atuários do Sistema Unimed e do Comitê Permanente de Solvência da ANS.

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