Quando pensamos em saúde e em tratamentos, logo vem à mente médicos, enfermeiros, cirurgiões, radiologistas, anestesiologistas – todos aqueles profissionais que  tratam e previnem doenças e salvam vidas.

Normalmente, esquecemos outro grupo de profissionais que também têm um papel importante em salvar vidas, como arquitetos, engenheiros hospitalares, atuários, estatísticos, advogados especializados em bioética e outros especialistas que atuam nos bastidores para trazer resultados positivos para a saúde.

Só o mercado de arquitetura hospitalar deve crescer 4% e atingir US$ 8 bilhões até o final de 2027, de acordo com o relatório “Mercado Global de Arquitetura para Cuidados com a Saúde”,

A saúde é um campo complexo no que se refere à diversidade de tarefas envolvidas na prestação de cuidados. Desde a admissão do paciente na recepção do hospital à jornada e logística de tratamento, cada etapa requer diferentes ferramentas, aplicações e diretrizes.

De longas filas no hospital a esperas infinitas nos consultórios médicos, a qualidade da experiência do paciente ainda não é o que deveria ser. Problemas e lacunas podem estar à espera do olhar de um time solucionador: pessoas que investigam loops, falhas e pontos de gargalo e que fazem perguntas para descobrir falhas nos processos existentes.

Será que não precisamos de mais pessoas criativas nos sistemas de saúde como designers, engenheiros e arquitetos resolvendo desafios que médicos e enfermeiros não têm tempo suficiente para enxergar, descobrir e solucionar?

Além do mais, com os novos desafios advindos da pandemia, precisamos de uma abordagem orientada para compreender e descobrir as lacunas na área da saúde. Os criativos, com sua curiosidade e habilidades de resolução de problemas, podem aproximar consumidores e fornecedores de serviços de saúde de uma maneira mais humana.

Um problema a ser pensado, por exemplo, é o design dos espaços de saúde que podem ser intimidantes, dando a sensação de prisão e dificultando os processos de cura.

No The Royal Marsden Hospital, em Surrey, centro criado para tratar pacientes com câncer, pacientes sempre têm acesso a portas e saídas a partir de qualquer cômodo, para que não tenham a sensação de estar presos – claustrofobia arquitetônica – comum em diversos hospitais, como no Brasil.

Em Doha, no Qatar, o escritório OMA buscou reimaginar o hospital tradicional criando um projeto de um complexo de saúde condizente com o rápido avanço da inovação médica. Chamado de “Al Daayan”, terá 1.400 leitos, todos em uma única estrutura. As instalações clínicas ocupam o primeiro andar, enquanto as enfermarias ficam no térreo, reduzindo a dependência de elevadores, facilitando o deslocamento e permitindo que os pacientes desfrutem dos amplos jardins do complexo que funcionam como espaços de cura – na arquitetura islâmica, os jardins são usados como espaços de arejamento para tratar enfermidades.

O complexo Al Daayan será composto de unidades modulares em forma de cruz, pré-fabricadas no local. Esses módulos podem ser reconfigurados e expandidos com o mínimo de interrupção das atividades em andamento no hospital, reduzindo significativamente o custo de futuras adaptações.

Também foi criada uma fazenda altamente tecnológica que fornece alimentos e plantas medicinais para a produção local de medicamentos. Todas as instalações de apoio estão conectadas ao hospital por um sistema automatizado de circulação subterrânea. Um centro de logística e uma fazenda solar permitem que o distrito funcione de forma autônoma.

A fazenda ressalta a importância da alimentação saudável para a recuperação dos pacientes em um cenário em que quase todos os hospitais do mundo estão terceirizando a alimentação para produtos industrializados, pobres em nutrientes.

Quais perguntas podemos formular nesse momento para melhorar os hospitais brasileiros e que pessoas criativas como arquitetos, designers e engenheiros poderiam resolver com facilidade?

Algumas delas seriam:

– O que podemos fazer para gerar uma melhor mobilidade dos pacientes, especialmente para aqueles que têm problemas de acessibilidade?

– Como podemos combinar pontos de contato digitais e físicos na área de saúde?

– Como transformar hospitais em ambientes com mais empatia e que sejam mais humanos?

– O que podemos fazer para melhorar as relações médico-paciente no mundo virtual?

– Como podemos usar o design para reduzir tarefas administrativas de médicos e de outros profissionais de saúde?

– Como incluir terapias integrativas nos espaços de saúde?

– Como melhorar a alimentação nos hospitais?

– Como criar espaços mais abertos, iluminados e que tenham integração com a natureza?

A criatividade e a engenhosidade não são respostas para todos os problemas de saúde. Mas, definitivamente, são ferramentas para tornar a saúde mais inclusiva, humana, acessível e eficiente.

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Marilia Matoso

Arquiteta e urbanista, Marília também é Mestre em Design, educadora e é criadora da Tabulla, revista digital onde escreve sobre criatividade, tendências e inovação para arquitetos e designers. Tem um escritório focado em estratégias criativas e inovadoras para ambientes e produtos e também atua como docente em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras.

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