Você reparou a presença crescente de imagens geradas pela inteligência artificial (IA) nas mídias e redes sociais?

Vamos considerar possíveis consequências disso?

Por um lado, a IA é uma baita ferramenta para aguçar a criatividade e motivar a experimentação e expressão artística.

A IA também pode agilizar a criação de conteúdo para produtores, influencers, redatores, jornalistas e agências de mídia e publicidade, liberando tempo para outras tarefas importantes. Inclusive, o aguardado GPT-4 foi apresentado ao mundo essa semana. Ele é incrivelmente mais potente do que seu antecessor ChatGPT (3.5).

Me chamou a atenção um fio no Twitter do @svpino (Santiago) que começava assim:

“O Instagram está morto.

Nos próximos 3 a 5 anos, todas as imagens nas mídias sociais serão geradas pela IA.”

No tweet, Santiago mostrou a facilidade de gerar imagens pela IA em apenas dois passos:

Primeiro, ele criou um código simples Python com o Google Colab e deu até deu o link para a base de código:

Generating AI Photos Of You – Colaboratory (google.com)

Em seguida, adquiriu uma chave de API no Leap API para ajustar um modelo de difusão estável. Aliás, quem se interessar, qualquer um de nós pode ter uma chave de API acessando www.tryleap.ai.

O processo foi todo gratuito e, em apenas 30 minutos, Santiago criou um gerador de imagens de uma certa pessoa, no caso, Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos usando menos de 100 linhas de código!

Para o ajuste fino, carregou duas fotos de Obama, e em menos de um minuto foi desenvolvido um modelo personalizado, que poderia gerar quantas imagens Santiago quisesse.

Quanto mais imagens forem usadas para treinar a IA, melhor será o modelo resultante.

Qual é o impacto da ascensão das imagens geradas por IA em nossa percepção da realidade?

A linha entre o real e o fake ficará ainda mais tênue.

E qual o problema disso?

Ficará mais difícil saber se as imagens que vemos são reais ou não. Isso pode ter implicações em tudo, desde as narrativas das marcas para mostrar seus produtos, até discursos e posicionamentos políticos, passando pelas relações pessoais. Será que marcas vão optar por não usá-las?

O uso generalizado de imagens geradas por IA também tem implicações éticas. Se essas imagens, por exemplo, forem usadas em publicidade ou marketing, vai ser complicado ter o consentimento das pessoas retratadas nelas.

Embora essas imagens possam, ou pelo menos tenham potencial para revolucionar a maneira como usamos as mídias sociais, também levantam preocupações sobre o impacto no nosso engajamento e o uso indevido. Alguns argumentam que o uso generalizado possa minar os próprios fundamentos das mídias sociais, pois os usuários podem se engajar menos com o conteúdo que consideram inautêntico ou falso.

Há também o risco de que as imagens geradas por IA possam ser usadas para manipular ou enganar as pessoas, seja espalhando informações falsas ou criando personas falsas. Essa prática pode corroer a confiança nas plataformas e impactar no engajamento dos usuários.

Outra preocupação é que também possam exacerbar desigualdades e preconceitos que já existem! Por exemplo, se certos grupos forem super-representados ou sub-representados nessas imagens, poderá perpetuar estereótipos e aumentar a injustiça social.

Por outro lado, à medida que elas se sofistiquem e se tornem prevalentes nas mídias sociais, podem também trazer benefícios, como termos uma experiência mais personalizada nas redes sociais, analisando dados e preferências, aparecendo no nosso feed imagens mais relevantes e envolventes.

Outra vantagem é que simplifica o processo de criação de conteúdo e de produção de imagens de alta qualidade, o que é ótimo para pequenas empresas e criadores de conteúdo que normalmente não têm recursos para criá-las na mesma escala que empresas maiores.

Além disso, as imagens geradas por IA têm potencial para frear a disseminação de conteúdo nocivo ou ofensivo nas mídias sociais. Ao sinalizar ou remover automaticamente imagens que violam as diretrizes da comunidade, a tecnologia pode ajudar a criar um ambiente mais seguro e inclusivo.

Se no futuro as imagens geradas por IA tornarem-se onipresentes nas mídias e redes sociais, será importante considerar a questão ética. Isso requer um esforço colaborativo de empresas de mídia social, desenvolvedores e reguladores, para garantir que essas imagens sejam usadas de maneira transparente, justa e respeitosa aos direitos individuais e de privacidade.

Imagem da capa gerada por Santiago.

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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