Para que você possa entender o contexto, adentremos em minha história de vida. Tenho 37 anos. Comecei dando aulas aos  16 anos. Vivo no mundo do design há mais de 18 anos. O início foi com a faculdade de design de produto, que me levou ao design de moda. Este me conduziu ao design de vitrines e ao design de interiores, para então voltar onde tudo começou: o produto. Mas não acabou aí. Hoje desenvolvo inúmeros projetos de produtos utilitários para casa, mas também trabalho com eventos de design autoral e cenografia.  Continuo dando aulas. Já ensinei inglês, desenho de moda, desenho de interiores, diversas matérias relacionadas ao design de produto, autoconhecimento, empreendedorismo e desenvolvimento pessoal.

Posso dizer que tenho interesses diversos e desenvolvi inúmeras habilidades. Leio muito, de realismo fantástico à filosofia. Não posso dizer que minha vida é chata! E com certeza não é enfadonha. O certo é que encaro sempre às perguntas:

“O que você quer fazer da vida?” (essa escuto desde muito cedo…)

“Quando vai parar de fazer tudo e focar em uma apenas uma coisa?”

Você pode achar que sou maluca. Mas se pintou em você uma curiosidade, aquela pulga atrás da orelha, que fez com que olhasse para sua própria vida e se sentisse conectado de alguma forma, continue por aqui. Não podemos dividir todos os seres humanos em grupos específicos e dizer que são uma coisa ou outra. A riqueza está em sermos todos diferentes. Isso é maravilhoso!

Mas se você tem um perfil parecido com o meu, tem dificuldade em se adaptar aos estereótipos comuns, gosta de variedade em seu trabalho, não se enxerga fazendo a mesma atividade por toda a vida, toca vários projetos ao mesmo tempo e mesmo assim encara uma enorme dificuldade para monetizar todo o seu capital intelectual, então bem vindo ao mundo multipotencial! Caso não tenha se encaixado neste perfil, te convido a conhecer este universo e aprender a valorizar os “colecionadores de habilidades”.

Um ponto de partida pode ser o livro How to Be Everything de Emilie Wapnick. Sua narrativa inspira a nos libertarmos da obrigatoriedade de sermos uma só coisa. Elucida o universo multipotencial como uma habilidade do futuro. Tira o véu de cima de todos os seres humanos que não se conformam com a estabilidade, que desejam o novo sempre, que estão em busca de novos desafios constantemente e que, quando alcançam seus objetivos, partem para outra jornada, sem olhar para trás, sem apego.

Emilie destaca três fortalezas de um “multipotentialite”, nome que ela dá aos indivíduos multipotenciais:

1) Síntese de ideias (combinar talentos e criar algo novo a partir daí)

2) Aprendizagem rápida

3) Adaptabilidade

Os multipotenciais são pesquisadores assíduos e curiosos implacáveis. Aceitam a mudança com extrema naturalidade e abraçam o novo com bravura. São pessoas habilitadas para lidar consigo mesmas, o que é chamado de inteligência intrapessoal e também em lidar com outras pessoas, desenvolvendo empatia e liderança, a chamada inteligência interpessoal.

No mundo atual, possuir todas essas skills pode ser perigoso, para colocação no mercado de trabalho. Socialmente e culturalmente aprendemos que a especialização gera um conhecimento mais profundo e melhores oportunidades. Generalistas são vistos como superficiais, instáveis e sem foco. Será? Vamos ao significado da palavra:

Generalista

adjetivo e substantivo de dois gêneros

1. diz-se de ou indivíduo cujos talentos, conhecimentos e interesses se estendem a vários campos, não se confinando em uma especialização.

E agora? Continua com o mesmo conceito de que generalistas não tem foco?

Esse tema ainda é recente, ainda há pouca literatura sobre ele; alguns tratam como uma nova espécie de seres humanos, outros – como na psicologia clássica – como uma evolução social de gerações expostas ao excesso de informações. O fato é que nem todos são multipotenciais, mas todos acabarão por conhecer e respeitar este novo grupo.

A multipotencialidade vem de encontro à Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, o grande pensador que trouxe esse termo à vida; para Bauman o mundo aumenta sua velocidade de mudanças exponencialmente, a tecnologia traz às pessoas a um ritmo cada vez mais frenético de informações e de transformações. Estamos cada vez mais conectados, aumentando nossa habilidade em ser e deixar de ser algo nas redes sociais. Isso cria um senso novo de individualidade, porém estamos cada vez mais desconectados pela conectividade, deixando de ser pessoas que estão inseridas em uma comunidade real e física; cada vez mais reclusos em nossas telas particulares.

A Modernidade Líquida aliada ao envelhecimento da população e baixos níveis de natalidade nos faz criar uma imagem futura de velhinhos sozinhos em suas casas cápsulas, relacionando-se uns com outros por meio de seus dispositivos eletrônicos, sem mais saber qual a sensação de um abraço ou de amizade verdadeira, como uma boa conversa olho no olho. Não ache que isso é um futuro distante, já esta acontecendo!

É neste cenário que os multipotenciais terão lugar efetivo no mundo futuro, aplicando suas inúmeras habilidades para tornar a vida menos líquida e mais sólida. Fazendo a ponte entre essas pessoas desconectadas, facilitando a (re)humanização de um mundo de avatares digitais. Usando as múltiplas habilidades de inteligência inter e intrapessoal para reconectar pessoas e devolver ao mundo o senso de comunidade. Tratar a doença da solidão com atenção, bate-papo, carinho, presença e tempo. Tempo para sociabilizar e gerar laços.

O que você faz com seu tempo? Como usá-lo de forma eficiente?

A administração do tempo é um recurso que hoje passa a ser muito valioso. O tempo passará a ser ainda mais valioso quando usado para o progresso pessoal. A nova abordagem será em como desfrutar de forma positiva seu tempo, visando o desenvolvimento pessoal e o retorno à essa busca pelo senso de comunidade.

Podemos chamar de Personal Bonder o profissional que usa de todas as suas habilidades para (re)humanizar os indivíduos. Oferecendo aulas, cursos e consultorias para quem deseja “aprender a desaprender para aprender novamente”, como nos ensinou o futurista Alvin Toffler. Frase antiga, mas que irá perdurar no futuro; visto que a única certeza que podemos ter é a MUDANÇA CONSTANTE, onda perfeita para o multipotencial surfar.

O Personal Bonder poderá reapresentar conceitos como:

– Autoconhecimento,

– Sociabilização,

– Atividades em grupo,

– Organização de eventos presenciais,

– Inteligência Interpessoal.

Esse profissional poderá ser um empreendedor ou um intraempreendedor, neste caso, ajudando empresas a conectarem seus colaboradores internamente e inovar em seu posicionamento com o consumidor; ambos com as mesmas necessidades de reconexão, sendo veículo para as mudanças do futuro.

Agora, tendo em vista um horizonte mais amplo, responder às perguntas iniciais fica mais fácil. Eu começaria a responder por esta:

“-O que você quer fazer da vida?”

Resposta: TUDO.

Crédito da imagem da capa: Sofiane Samlal

Ana Penso

Ana Penso é designer autoral, professora e especialista em educação moderna com ênfase em ensino digital. Apaixonada por ensinar e fazer conexões, acredita no poder de mudança do ser humano através da cultura, da educação e do design.

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