Uma pesquisa apresentada essa semana na Conferência de Epidemiologia, Prevenção, Estilo de Vida e Saúde Cardiometabólica da American Heart Association 2022, em Chicago, demonstrou que mulheres que entram precocemente na menopausa, antes dos 40 anos, são mais propensas a desenvolver demência no futuro, em comparação com aquelas que entram por volta dos 50 a 51 anos.

A demência envolve mudanças no cérebro que prejudicam a memória, a tomada de decisão e a linguagem, e a doença de Alzheimer é o tipo mais comum. Sabe-se que mulheres correm risco muito maior do que os homens de desenvolver demência. Uma hipótese é que as elas vivem mais, então estatisticamente, apresentam mais casos. Porém, cientistas e pesquisadores consideram essa explicação simplista e acreditam que os motivos podem ser bem mais complexos.

Mais recentemente, surgiu uma ideia chamada “hipótese do estrogênio”: as mulheres parecem mostrar maior suscetibilidade ao Alzheimer porque a queda nos níveis de estrogênio, após a menopausa, pode exacerbar predisposições às alterações cerebrais associadas à essa doença.

Um estudo importante, publicado em 2003, descobriu que a terapia com estrogênio e progestina em mulheres na menopausa com mais de 65 anos aumentava o risco de demência. Portanto, a relação entre estrogênio e demência é claramente complexa.

No atual estudo, os pesquisadores analisaram a potencial relação entre a idade do início da menopausa e o diagnóstico de demência. Os dados examinados foram relativos a 153.291 mulheres com idade média de 60 anos e que tornaram-se participantes do Biobank do Reino Unido entre 2006 e 2010. O UK Biobank é um grande banco de dados genéticos e de saúde de meio milhão de pessoas que vivem no Reino Unido.

Os pesquisadores calcularam o risco de ocorrência da demência em termos da idade em que as mulheres relataram ter entrado na menopausa, em comparação com as que entraram por volta de 50 a 51 anos. Os resultados foram ajustados para fatores como idade no último exame, raça, escolaridade, uso de cigarro e de álcool, índice de massa corporal, doenças cardiovasculares, diabetes, renda e atividades físicas e de lazer.

A análise encontrou que:

– Mulheres que entraram na menopausa antes dos 40 anos tiveram 35% mais chances de serem diagnosticadas com demência.

– Mulheres que entraram na menopausa antes dos 45 anos foram 1,3 vezes mais propensas a serem diagnosticadas com demência antes dos 65 anos.

– Mulheres que entraram na menopausa aos 52 anos ou mais tiveram taxas semelhantes de demência daquelas que entraram entre 50 a 51 anos.

Embora mulheres na pós-menopausa tenham maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) do que as mulheres na pré-menopausa, neste estudo, os pesquisadores não encontraram associação entre a idade na menopausa e o risco de demência vascular.

Os pesquisadores sugerem que níveis baixos de estrogênio podem ser um fator na possível conexão entre menopausa precoce e demência. “Sabemos que a falta de estrogênio em longo prazo aumenta o estresse oxidativo, o que pode aumentar o envelhecimento cerebral e levar ao comprometimento cognitivo”, explica Wenting Hao, da Universidade de Shandong, na China e pesquisadora nesse estudo.

Hao recomenda que médicos que cuidam de mulheres devem monitorar de perto o declínio cognitivo daquelas que entraram na menopausa antes dos 45 anos.

“Estar ciente desse maior risco pode ajudar mulheres a criar estratégias que previnam a demência, e, junto com seus médicos, monitorar de perto seu estado cognitivo à medida que envelhecem” – Wenting Hao

Hao orienta que mulheres que chegam à menopausa antes dos 45 anos devem criar hábitos de vida que minimizem o risco de declínio cognitivo. “A demência pode ser prevenida, desde criar uma rotina de exercícios, ter lazer, continuar aprendendo coisas novas, não fumar, não beber álcool, manter um peso saudável, monitorar o nível de vitamina D e, se recomendado pelo médico, tomar suplementos de cálcio” detalha.

Próximos passos

“Mais pesquisas são necessárias para avaliar o valor agregado de incluir o momento da menopausa como um preditor nos modelos de demência existentes”, diz Hao. “Isso permitirá aos médicos uma maneira mais precisa de avaliar o risco de demência em mulheres”.

O estudo tem limitações. Os pesquisadores se basearam em informações autorrelatadas de mulheres sobre sua idade na entrada da menopausa. Além disso, eles não analisaram as taxas de demência entre mulheres que tiveram menopausa precoce natural daquelas com menopausa por oferectomia (cirurgia para retirada de um ou dois ovários), o que pode afetar os resultados. Os dados usados ​​para este estudo incluíram principalmente mulheres brancas que vivem no Reino Unido e podem não generalizar para outras populações.

Fonte: American Heart Association

Imagem da capa: cortesia women´s agenda

O Futuro das Coisas

Somos um ecossistema de futuros e inovação que atua para desenvolver pessoas, times e lideranças, por meio de educação e cultura de aprendizagem, conteúdo de impacto e estudos de futuros.

Ver todos os artigos