A Internet surgiu no final da década de 1960, mas foi somente nos anos 1990 que teve seu grande boom. Com ela, vivenciamos o grande movimento de globalização que impactou a forma como consumimos conhecimento e informação. A Internet abriu um novo horizonte de possibilidades com alcance irrestrito e imediato a todo conhecimento acumulado da humanidade. Esse movimento mudou a forma como lidamos com a nossa própria aprendizagem, com o nosso conhecimento, e como dividimos nossos aprendizados e experiências, ou seja, não retemos mais as informações em nossas mentes. A esse movimento que amplia o nosso saber para outras pessoas é o que chamamos de exteligência.

O conceito exteligência foi criado pelo matemático francês Ian Stewart e pelo biólogo inglês Jack Cohen e lançado no livro Figments of Reality: The Evolution of the Curious Mind (Invenção da realidade: a evolução da mente curiosa), em 1997.

Hoje, temos todo o conhecimento disponível na internet. Não precisamos mais armazenar ou decorar informações em nosso cérebro, já que elas estão sempre disponíveis em um clique. Neste sentido, estamos cada vez mais nos apropriando da exteligência, que é um dos grandes ganhos que a internet nos proporciona. Estamos deixando de assimilar informações dentro dos nossos hard drive. O lado negativo é que, quando precisamos ativar nossa criatividade, teremos menos informações armazenadas em nosso cérebro e assim faremos menos conexões que irão alimentar nossa criatividade, habilidade fundamental em um momento pautado pela Inteligência Artificial.

Vivemos atualmente um modelo de produção econômica centrado na inovação e na criatividade chamado Economia Criativa. Neste modelo, o principal ativo não são as fábricas ou as máquinas, mas o capital intelectual: ideias, culturas, design. Os produtos da economia criativa são dotados de valor simbólico.

A curiosidade é a válvula propulsora na atualidade. É por meio dela que alimentamos nosso repertório para, em determinados momentos de criação, onde for necessária a criatividade – seja no desenho de novos produtos ou em soluções para problemas -, todo este repertório seja acionado, intencionalmente ou intuitivamente, fazendo as sinapses necessárias para propormos soluções inovadoras.

Podemos dividir a curiosidade em três tipos:

Diversiva: uma curiosidade genérica para saber o que está acontecendo no ambiente. Queremos estar mais seguros no mundo em que vivemos. Saber como está o trânsito, se irá chover. É um tipo de conhecimento que nos permite estar mais seguros em nosso entorno.

Empática: curiosidade sobre a vida dos outros. Queremos saber coisas mais simples, como, por exemplo, porque tal casal se separou.

Epistêmica: curiosidade sobre o porquê das coisas. É a curiosidade mais profunda, mais estratégica, mais analítica. Infelizmente vemos que esta está cada vez mais rasa.

A exteligência faz parte do momento que vivemos, e vem impactando a “gestão” da inteligência em nossa sociedade. Em uma aula de pós-graduação, ouvi Walter Longo, especialista em Inovação e Transformação, dizer que que estávamos tendo uma polarização da sociedade entre os curiosos e os descuriosos. “A Internet está tornando os espertos mais espertos e os estúpidos muito mais estúpidos”, afirmou.

Apesar da palavra exteligência estar conectada automaticamente à inteligência, não deveríamos deixá-la se sobrepor [à inteligência]. Para nos destacar num mundo onde a inteligência artificial vem sendo um desafio para o futuro do trabalho, precisamos ser criativos. E, para que esse movimento aconteça, as informações precisam ser internalizadas. Sem essas informações guardadas no cérebro, os neurônios não fazem as sinapses e não surgem novas ideias. Nossa inteligência está ligada ao nosso DNA, aos nossos talentos, às nossas habilidades. E para que estas habilidades continuem sendo nossas forças precisamos cuidar, alimentar.

Não podemos nos fechar nas bolhas que a Internet, por meio das redes sociais, nos coloca. Precisamos expandir nossas fontes, vivenciar o contraditório. Devemos nos distanciar da imunização cognitiva, pois ela nos priva do convívio das opiniões contrárias e reduz nossa exposição às opiniões divergentes, nos colocando no grupo das pessoas “estúpidas”. Nossa jornada deve seguir outro caminho, ou seja, alimentar nossa curiosidade. Somente dessa forma aumentaremos nosso repertório de conhecimento e criaremos outros caminhos, novas ideias, novas soluções.

Ilustração da capa: Liza Rusalskaya

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Patricia Dalpra

Patricia Dalpra é estrategista em Personal Branding e Gerenciamento de Carreira, fundadora da PD Imagem e Carreira que surgiu da vontade de contribuir com as conquistas de pessoas e empresas através do desenvolvimento de uma estrutura que possa fundamentar e organizar uma marca e planejar uma carreira com base em seu DNA, preservando e valorizando sua essência para alcançar as melhores relações com a sociedade e o mercado. Pós- graduada pela Universidade Ramon Llull Barcelona – Madri e Formação Executiva em Brand Leadership pela Columbia University NY – EUA.

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