No início de janeiro fiz uma rápida pesquisa no  LinkedIn sobre qual assunto seria considerado mais importante para o futuro: Comportamento Humano (CH) ou Inteligência Artificial (IA)? Cento e onze pessoas responderam: o CH venceu com 77% das escolhas.

De qualquer forma, após leitura de todos os comentários, podemos intuir o impacto que mudanças terão nas nossas vidas e nos nossos comportamentos nos levando a acreditar que para sobreviver será preciso aprender assuntos novos o tempo todo. Mas, talvez, o desafio maior não seja isso, mas sim, desaprender coisas, digamos, velhas.

O desafio será atualizar ou substituir conceitos, hábitos, crenças e certezas já incorporadas no nosso modelo mental e trabalhar uma série de insights, afinal um novo conhecimento pode contrariar o que já tínhamos consagrado em nossa mente e, quando isso acontece, geralmente apresentamos uma imensa resistência para aceitá-lo.

Em um mundo atordoado com tantas novidades no dia a dia, novas tecnologias e produtos, abordagens inéditas em todas as áreas do conhecimento e profissões, a capacidade de desaprender e reaprender passou a ser tão importante quanto a de aprender.

Isso não significa esquecer, nem ignorar o conhecimento anterior. Até porque é justamente o nosso repertório acumulado na vida que pode alavancar o entendimento do novo. A proposta aqui não é partir do zero. O que necessitamos ter é uma qualidade que, quando crianças, possuíamos de sobra: a curiosidade. Ser curioso ou curiosa significa manter aberto o canal da aprendizagem. E no mundo conectado e hiperinformado, esse canal será essencial.

A curiosidade é muito mais do que uma simples vontade de saber tudo ou xeretar. Segundo os especialistas, é um ímpeto legítimo, que deve ser valorizado e cultivado. No ambiente profissional, por exemplo, a curiosidade pode ser uma ferramenta importante para a evolução intelectual; é o prazer e o encanto de aprender algo novo todo dia, tornando a vida mais interessante.

Não dá para imaginar um inimigo mais poderoso do aprendizado e da evolução do que o apego férreo a conceitos anteriores, por melhores que ele tenham sido até o momento. Porém, nós, adultos, temos dificuldade em admitir nossa ignorância e expor nossa necessidade de aprender o novo.

A famosa frase abaixo de Alvin Toffler, escritor e futurista norte-americano, já estabelece uma reflexão muito relevante sobre o que foi dito até aqui:

O analfabeto do século XXI não será aquele que não sabe ler nem escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender.”

Toffler, autor do best-seller “A Terceira Onda”, traz consigo um verdadeiro ensaio sobre o que deverá ser a sociedade pós-moderna do século XXI. Ele, em suas pesquisas, estabelece as “Ondas da Mudança”. Estas ondas representam o desenvolvimento do ser humano frente aos diferentes valores assumidos para a preservação da sua sobrevivência.

Primeira Onda (era da agricultura – até 1750): define que somos seres individuais e precisamos sobreviver. Aqui a propriedade é a representação máxima de toda a riqueza. É a época do Feudalismo. A forma de poder é física representada pelas terras.

Segunda Onda (era da indústria – de 1750 a 1960): define que somos seres separados e temos de competir. O sistema forte fará o homem feliz. A felicidade aqui é o ter. A forma de poder é o dinheiro.

Terceira Onda (era do conhecimento – a partir de 1960): define que somos seres vinculados e temos de cooperar. Aqui o bem estar humano é a base para um sistema forte. Necessidade de visão sistêmica. A felicidade aqui é o ser. A forma de poder é o conhecimento.

Perceba que a Segunda Onda é representada pelo materialismo e pela competição fruto de uma autopreservação do ser humano. Isso pode explicar os nossos problemas atuais, como poluição, armazenamento de resíduos sólidos, crime, violência, terrorismo, corrupção, má distribuição de renda etc. Já a Terceira Onda demonstra uma crescente preocupação com o equilíbrio e a sustentabilidade. É a era onde o ser humano é bombardeado por informações de todos os lados.

Toffler vai mais além. Como futurista, ele considera que já estamos na Quarta Onda.

Quarta Onda?

Sim! A da era da inteligência, onde somos um só e escolhemos cocriar. A da sociedade que não vai mudar em termos de explosão de informações. Não importa mais o modelo do Homem Máquina (aquele que responde a tudo e que transmite informações a cada momento) e sim aquele voltado aos cuidados com os animais, com as pessoas e com as obras sociais. Até porque a Inteligência Artificial (IA) estará mais do que nunca incluída no nosso dia a dia, fazendo esse papel referente às informações.

A Quarta Onda está relacionada à capacidade que o ser humano tem de adquirir novos conhecimentos frente ao processo do reaprendizado. Essa onda nasce então de uma teoria chamada “inteligências múltiplas”, que foi estudada por Howard Gardner, psicólogo cognitivo e educacional estadunidense, ligado à Universidade de Harvard.

Gardner propôs que a vida humana requer o desenvolvimento de vários tipos de inteligências. Portanto, ele não entra em conflito com a definição científica de inteligência como sendo “a capacidade de resolver problemas ou de fazer coisas importantes”.

Gardner e seus colegas de Harvard advertiram que a inteligência acadêmica (obtida por meio de qualificações e méritos educacionais) não pode ser o fator decisivo para determinar a inteligência de uma pessoa, afinal nós sabemos que nem sempre os melhores alunos do colégio ou da faculdade serão os melhores profissionais no mundo corporativo ou do empreendedorismo.

Neste contexto, já podemos enxergar que há um problema com a Terceira Onda, não diretamente ligado ao conhecimento, mas sim relacionado à velocidade das mudanças que, por sua vez, tornam o conhecimento, em muitos casos, perecível. A dificuldade de conciliar a teoria ensinada nas universidades com a prática que é exigida no mercado de trabalho é o principal sintoma deste problema.

Embora empresas tentem minimizar essa lacuna entre conhecimento e prática, criando as suas universidades corporativas, há muito mais coisas envolvidas; networking e a criatividade, por exemplo, não são ensinados e referendados como importantes. Além destes, podemos citar o uso da subjetividade (com bom senso e prudência), o equilíbrio no uso dos aspectos qualitativos e quantitativos, o exercício da empatia e da colaboração, comunicação, inteligência emocional e por aí vai.

Fazendo uma rápida reflexão, percebemos ainda que, muito provavelmente, estamos ainda na fase de aprendizado e muitas organizações ainda sequer conseguiram situar-se na era do conhecimento, o que dirá na era da inteligência. Porém, o cenário atual das empresas está em mudança e fortalece a disseminação do conhecimento. Mas, a maior barreira continua sendo a nossa cultura. Enquanto continuarmos presos à melhoria apenas em nível pessoal em vez do todo, estaremos fadados ao fracasso diante deste novo jogo que está iniciando.

O fato de, eventualmente, não nos sentirmos inseridos na era da informação, ou não estarmos prontos para a era da informação, pode ser percebida por atitudes individualistas, de manutenção do poder e do status diante da forte concorrência e disputas enfrentadas dentro de organizações ou mercados.

Entretanto, o fato de ainda não estarmos prontos não pode ser motivo para não aceitarmos ou ficarmos insensíveis à tendência de mudança ininterruptas e intensas que estamos vivendo. Torna-se imprescindível estarmos preparados para surfar a quarta onda, onde o comportamento humano estará ligado ao processo de aprendizagem e se utilizará das múltiplas inteligências como estratégia para sobrevivência no futuro.

Ou você tem dúvidas disso?

Crédito da imagem da capa: pxhere.com

Nazareno Maciel Junior

Nazareno é atuário, perito, palestrante, escritor e mestre em Economia. Atua no segmento de Saúde Suplementar. É membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), do Comitê Nacional dos Atuários do Sistema Unimed e do Comitê Permanente de Solvência da ANS.

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