Já pensou em ser um engenheiro ou engenheira que trabalha lado a lado com um historiador? Ou um médico que trabalha junto com uma designer?

Sabemos que o trabalho colaborativo promove a comunicação, o intercâmbio e o compartilhamento de conhecimento. A ausência de hierarquias, com pessoas de diferentes backgrounds trabalhando juntas, estimulando trocas entre diversos nichos, possibilita desfragmentar o ambiente de trabalho.

A tendência do futuro do trabalho é que escritórios e departamentos (ou áreas) continuem existindo, mas serão cada vez mais comuns projetos realizados em conjunto por equipes interdisciplinares e até globais.

Esta cooperação é possível graças às novas tecnologias de informação e comunicação (TICs), que tornam-se indispensáveis. São ferramentas que facilitam a maximização da produtividade e da criatividade dos envolvidos no projeto, mesmo que estejam trabalhando à distância.

Na indústria criativa, esse processo colaborativo é ainda mais evidente e tem produzido trabalhos fantásticos. A maneira de resolver problemas baseada em análise e síntese, comum entre arquitetos e designers, pode trazer contribuições e inovações relevantes em muitas outras áreas profissionais.

Na prática

Thomas Widdershoven, cofundador do estúdio de design holandês Thonik desenhou um projeto para sua empresa em colaboração com o escritório de arquitetura MMX. Widdershoven poderia ter simplesmente contratado o escritório, mas seu time apostou que trabalhar em colaboração traria frutos mais positivos para suas ideias.

Prédio da Thonik na Holanda criado em parceria com a MMX. (Fonte: Creative Review)

Por serem designers gráficos, Widdershoven e sua sócia, Nikki Gonnissen, basearam todo o edifício em uma grade, dispensando colunas internas, que impactariam a colocação dos vidros e das paredes. Deslocaram a escada de incêndio para a parte externa do edifício no intuito de ampliar o espaço interno, criando uma linha diagonal. As janelas, do chão ao teto, foram outra parte essencial do projeto.

Será mesmo que, se não fosse o olhar dos designers, o edifício seria tão icônico?

Gonnissen diz que tiveram como referência os edifícios que viram durante as viagens à Tóquio, onde blocos de escritórios com formatos inusitados são colocados em espaços minúsculos.

A abordagem diferenciada do estúdio Thonik ao design gráfico ficou evidenciada no edifício – particularmente em sua fachada listrada e escadarias cobertas de padrões. Não à toa, o edifício virou local de visitação de turistas e rende diversas matérias em revistas e jornais. Para Gonnissen, essas matérias são parte de uma conversa maior que precisa acontecer. Ela acredita que designers precisam ser trazidos para conversar e debates sobre questões sociais e outros grandes desafios.

Neri Oxman, designer e pesquisadora do MIT Media Lab (Cortesia: Surface)

Outro exemplo de como a colaboração induz à criatividade e a inovação é o trabalho da designer e pesquisadora do MIT Media Lab, Neri Oxman, que tem trabalhado com biocompostos. Ela estuda materiais como a pectina da casca da maçã, corais ou a seda do bicho da seda para entender a estrutura biológica por trás e a partir disso criar um tipo de matéria-prima artificial, mas que na verdade foi gerada pela natureza. Essa matéria-prima biodegradável e não-poluente é então colocada numa impressora 3D onde são construídas estruturas gigantes que vão desde instalações artísticas até abrigos de grande porte.

E o que esse trabalho tem de tão relevante?

Neri é a primeira pessoa a unir a natureza e as construções humanas de uma maneira tão sólida, resistente e ao mesmo tempo bela. Uma mistura incrível de tecnologia, arte e biologia.

Seu trabalho é um manifesto contra maneiras tradicionais de construção que poluem e são nocivas ao nosso planeta, por gerar elevadas taxas de gás carbônico e também por deixar inúmeros resíduos não-descartáveis em aterros e lixões.

Aquahoja de Neri Oxman, construída com pectina de maçã por meio de impressão 3D. (Cortesia: MIT Media Lab)

Neri talvez não tivesse criado essas inovações se sua equipe no MIT MediaLab não fosse multidisciplinar, formada por engenheiros químicos, cientistas da computação, biólogos e arquitetos; todos trabalhando juntos.

Colaboração e futuro

Em um breve futuro, será comum arquitetos e designers ou engenheiros e ambientalistas ou advogados e programadores colaborarem juntos. Quantas áreas diferentes podem encontrar intersecções para solucionar desafios ou resolver problemas comuns a partir da troca de olhares, conhecimento e experiências?

O processo de empatia ao se colocar no lugar do outro pode ser potencializado quando diferentes profissionais trabalham juntos: um arquiteto pode se atrelar à empatia estética, um biólogo à natureza e à sustentabilidade e um programador à experiência do usuário.

É preciso, de certa forma, que comecemos a conversar e pensar sobre isso. O Fórum Econômico Mundial cita inclusive que a colaboração entre diferentes áreas vai ser uma das ferramentas poderosas para potencializar o processo criativo num futuro próximo.

Configurar e gerenciar amplas redes de colaboração e aproveitar seu potencial ainda é um território desconhecido para a maioria das empresas e profissionais. Mas aqueles com visão de futuro podem capitalizar o potencial dos ecossistemas e colher enormes benefícios, ficando melhor posicionados num mundo não linear e de mudanças e transições rápidas.

Cortesia foto da capa: Form Finding Lab

Marilia Matoso

Arquiteta e urbanista, Marília também é Mestre em Design, educadora e é criadora da Tabulla, revista digital onde escreve sobre criatividade, tendências e inovação para arquitetos e designers. Tem um escritório focado em estratégias criativas e inovadoras para ambientes e produtos e também atua como docente em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras.

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