Esses dias, uma amiga me contou sobre sua ida à exposição A Magia do Manuscrito, em cartaz no Sesc Av. Paulista, em São Paulo.

A mostra reúne por volta de 180 cartas, desenhos, partituras, bilhetes e anotações pessoais de figuras como Mozart, Nelson Mandela, Frida Kahlo, James Joyce, Malcolm X, Tiradentes, Santos Dumont etc.

Para além do alívio de descobrir que a caligrafia de pessoas geniais pode ser tão deplorável quanto a nossa, a mostra evidencia uma parte importante dos processos de criação desses seres humanos.

Muitos documentos expostos foram escritos sem a intenção de ninguém ver. São registros da pessoa artista/criadora para si mesma, sem filtros, quase como uma via de digestão da realidade.

Outra reflexão compartilhada pela minha amiga tem a ver com um choque de época: antigamente não havia tanto papel disponível para escrever.

Hoje, não apenas dispomos de papel a um custo muito baixo – que possivelmente deveria ser maior, considerando sua pegada ambiental –, como também podemos aproveitar uma coisa totalmente nova: a possibilidade de fazer registros no meio digital.

Se pensarmos na história da humanidade e a sua relação com o conhecimento, a abundância de espaços e matérias-primas para dar vazão às nossas ideias é algo incrivelmente recente.

O que permanece desde os tempos antigos, no entanto, é a astúcia de determinadas pessoas em planejar de maneira meticulosa como irão “digerir” a própria realidade por meio de suas anotações.

A maneira com que fazemos algo importa. Com o hábito de anotar não é diferente.

Dizem que pessoas como Marco Aurélio, o imperador de Roma, o filósofo John Locke, Leonardo da Vinci e Virginia Woolf mantinham a prática de centralizar seus registros de criação e aprendizado em um único local ao longo da vida.

Em inglês, esse método ficou conhecido como commonplace book – o termo é difícil de traduzir, mas pense em um caderno central recheado de pérolas, ideias, reflexões, citações e informações importantes.

Leonardo da Vinci provavelmente teria em seu commonplace book um conjunto de esboços de suas invenções; Marco Aurélio poderia ter uma coleção de conselhos políticos e estratégias de guerra; e Virginia Woolf o utilizaria para rabiscar as características da psique de suas personagens.

No meu trabalho com aprendizagem autodirigida, já faz alguns anos que eu agreguei a prática do commonplace book como uma forma potente de registrar, rememorar e processar o que descobrimos a partir dos Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes que acessamos.

Quando estamos aprendendo algo, é comum acontecer uma de duas coisas: não registrar nada – seja por preguiça ou porque você não se organizou para isso antes, ou uma combinação de ambas – ou registrar em vários lugares diferentes (no celular, no computador, em diferentes arquivos, em um caderno físico etc).

Tudo isso não te ajuda a extrair sentido do seu aprendizado. O commonplace book é uma estratégia para centralizar em um único lugar as anotações mais relevantes – o que, por si só, já funciona como um processo de curadoria – e tornar mais fácil a “digestão” do conhecimento, garantindo que você não perca os tesouros do percurso.

Essa prática é das mais importantes no presente e no futuro do aprendizado, especialmente na esteira dos movimentos de aprendizagem ao longo da vida (lifelong learning) e em todas as ocasiões da vida (lifewide learning).

Mais recentemente, na minha tentativa de evitar palavras em inglês – afinal, temos uma língua maravilhosa e devemos nos orgulhar dela –, tenho optado por substituir o termo commonplace book por outro: segundo cérebro.

A primeira vez que li sobre o conceito de segundo cérebro foi por meio do Tiago Forte, um norte-americano com raízes brasileiras que popularizou essa ideia através de programas online.

“Um commonplace book digital é o que eu chamo de Segundo Cérebro. Pense nele como a combinação de um registro de estudos, um diário pessoal e um caderno para esboçar novas ideias. É uma ferramenta multiuso que pode se adaptar às suas diferentes necessidades ao longo do tempo”.

“Seja como for que você decida usá-lo, seu Segundo Cérebro é uma coleção de conhecimentos particulares projetada para servir a uma vida inteira de aprendizado e crescimento, e não apenas a um único momento de uso. É um laboratório onde você pode desenvolver e refinar seus pensamentos sozinho antes de compartilhá-los. Um ateliê onde é possível experimentar ideias até estarem prontas para serem colocadas em prática no mundo exterior. Um quadro em branco onde você pode esboçar suas ideias e colaborar nelas junto de outras pessoas”.

Minha intenção aqui é aprofundar tanto no conceito quanto na prática do segundo cérebro, de modo que você possa criar o seu, caso ainda não utilize, ou aprimorá-lo a partir de dicas simples.

Por que criar um segundo cérebro

Faz dois anos e meio que eu mantenho um segundo cérebro digital – comecei em meados de 2020, a partir do impulso de membros do MoL.

Eu já entendia o conceito de commonplace book, embora ainda o aplicasse parcialmente. A influência entusiasmada de algumas pessoas (obrigado, Victor e Luis Sérgio!) me fez apostar na ideia pra valer.

Hoje, posso dizer que alimentar um segundo cérebro ao longo desse tempo aumentou drasticamente meu aprendizado, criatividade e produtividade. E eu sei que isso é só o começo, pois quanto mais você mantém essa prática, mais seus benefícios se acumulam.

Tiago Forte, em seu livro sobre o tema, constrói o argumento de que apenas nossos cérebros biológicos não são mais capazes de lidar com o cenário de sobrecarga informacional que vivemos.

“As pessoas que aprenderem como aproveitar a tecnologia para dominar os fluxos de informação ao longo de suas vidas terão condições de realizar qualquer coisa que se propuserem. Ao mesmo tempo, quem continuar dependendo apenas de seus frágeis cérebros biológicos ficará cada vez mais sobrecarregado(a) com o crescimento explosivo da complexidade em suas vidas”.

Nosso cérebro – e especificamente nossa memória – operam de forma muito semelhante a de nossos ancestrais do período paleolítico.

No entanto, atualmente precisamos lidar com quantidades gigantescas de informação: um estudo citado pelo autor mostra que nós consumimos conteúdo equivalente à leitura de 174 jornais de notícias diariamente, um número cinco vezes maior do que na década de 80.

Somado a isso, cuidar da qualidade das informações que absorvemos nunca foi tão importante. Em um oceano de notícias falsas, conhecimento raso e produção de conteúdo digital em massa voltado para fins de marketing, quem tem um bom barco e sabe navegar se destaca.

Nessa analogia, podemos considerar que o barco é o nosso segundo cérebro, e a habilidade de navegação são os hábitos e rotinas de gestão do próprio conhecimento que se estabelecem a partir dele.

Autoria desconhecida.

Estamos todos e todas exaustas devido à poluição informacional. Tiago Forte afirma, e eu concordo com ele, que “o acesso instantâneo ao conhecimento mundial através da internet, que deveria supostamente nos educar e informar, criou em vez disso uma pobreza de atenção generalizada”.

Uma outra frase dele nesse mesmo sentido que me tocou profundamente é esta:

“Muitos e muitas de nós compartilhamos o sentimento de estarmos rodeados de conhecimento, mas ainda sedentos por sabedoria”.

Faz sentido, não é?

O grande ponto em favor do segundo cérebro é que ele não serve apenas como repositório para guardar sabedorias valiosas, como também altera fundamentalmente nossa relação com o consumo e a geração de informações.

O simples ato de selecionar o que entra e o que não entra no meu segundo cérebro já me faz ter mais discernimento (e menos ansiedade) nesse processo.

Muitas coisas eu absorvo sem me preocupar em registrar. Não quero ter essa responsabilidade o tempo todo, e isso é tranquilizador.

Mas, algumas vezes no dia, eu sou tomado pelo sentimento de “a-há”. Ao longo do tempo, eu aprendi a detectar nitidamente e a saborear esse momento.

Essa é a deixa para que eu abra o Notion – o aplicativo gratuito que utilizo para cultivar meu segundo cérebro – e crie uma nova anotação por lá.

Um pensamento, uma reflexão, uma ideia, uma citação, um registro mais denso de algo que estou estudando, uma descoberta a partir de uma conversa com alguém, um link que vale a pena guardar, um projeto incrível, uma informação valiosa, exótica ou simplesmente interessante, um relato de prática…

O que quer que seja, ficará a salvo ali, para a prosperidade e para o meu eu do futuro.

(Aplicativos como o Notion possuem um sistema de busca robusto, o que faz com que, mesmo com um grande acúmulo de notas, seja fácil encontrar aquilo que procuro ainda muito tempo depois)

Se a informação ou reflexão é realmente interessante ou importante, eu não confio apenas na minha memória paleolítica. Em vez disso, eu a transfiro para o meu segundo cérebro.

Isso resolveu a minha ansiedade em ter de ficar lembrando das coisas. O ser humano é muito melhor em reconhecer do que em lembrar – e a razão disso é evolutiva.

Em um estudo sobre os limites da capacidade de visualização mental, a pesquisadora Deborah Chambers e o seu colega Daniel Reisberg são categóricos ao afirmar que “as habilidades que desenvolvemos para lidar com o mundo externo vão além daquelas que dispomos para lidar com o nosso mundo interno”.

Faz sentido, uma vez que as estruturas cerebrais relacionadas ao nosso universo interior (em especial o neocórtex) são as mais jovens da nossa história como espécie.

É por isso que é estratégico dispor nossas sabedorias em algum local fora de nós: ao fazer isso, começamos a operar a partir do “reconhecer” em vez do “lembrar”.

Esse procedimento aumenta a criatividade – basta imaginar a clássica cena em que alguém tenta aflitamente iniciar um texto em uma tela em branco com o cursor piscando.

Começar um empreendimento criativo dessa forma geralmente é muito difícil pois o modo de operação básico é o “lembrar”. (“Sobre o quê mesmo eu queria escrever!?”)

Agora, imagine inaugurar a escrita de um texto passeando por uma coleção cuidadosamente curada e altamente customizada de ideias e informações instigantes.

Imagine selecionar algumas delas e já transferi-las para a tela em branco. O cursor piscando subitamente encontra companhia. A tela já não parece mais tão ameaçadora. As informações iniciam uma dança entre si, se conectando e revelando novas possibilidades de sentido.

Nesse momento, você saiu do modo “lembrar” e foi para o modo “reconhecer”.

Percebe como é transformador?

Ao criar o hábito de alimentar um segundo cérebro, Tiago Forte afirma que o modo com que nossa mente trabalha começa a mudar.

Com o tempo, começamos a enxergar padrões em nossos pensamentos. Algumas perguntas começam a ser respondidas de maneira empírica a partir dos dados que escolhemos para alimentar o nosso repositório central de relevâncias:

  • O que realmente está me interessando?
  • Quais são minhas prioridades?
  • Quais são minhas maneiras de enxergar o mundo?
  • O que é de fato importante pra mim?

Dessa forma, “seu segundo cérebro se torna um espelho, te ensinando coisas valiosas sobre você mesmo”.

Nesse processo, sua mente se entremeia com o sistema que você criou – o que, longe de representar alguma distopia futurista, é apenas mais um acoplamento da tecnologia com a vida cotidiana, assim como dirigir um carro ou usar lentes de contato.

O cérebro humano passa a trabalhar em harmonia com o seu par tecnológico, ambos se retroalimentando e se integrando cada vez mais.

Reaprendendo a anotar

Desde o ano passado, eu venho me dedicando a uma reflexão profunda sobre as influências do processo de escolarização tradicional em nossas vidas.

Esse trabalho culminou na publicação do livro Crenças Escolarizantes, que reúne mais de 90 interferências negativas do modelo educacional dominante nas nossas formas de pensar, sentir e agir.

Um aspecto dessa “herança” que eu ainda não havia analisado se refere a como fomos acostumados a fazer anotações.

Tiago Forte afirma que a primeira coisa que aprendemos sobre anotações na escola é que as informações que vão cair na prova são as mais importantes de serem registradas.

No segundo após você terminar de fazer a prova, suas anotações já não servem para mais nada.

[Na escola,] “o aprendizado era tratado como essencialmente descartável, sem uma intenção de que aquele conhecimento fosse útil no longo prazo”.

Na vida, porém, a maneira com que encaramos o registro de informações deveria ser exatamente oposta àquela da escola. No mundo real:

“Não está nada claro a respeito do quê você deve anotar.

Ninguém lhe diz quando ou como suas anotações serão utilizadas.

A ‘prova’ pode acontecer a qualquer momento e assumir muitas formas diferentes.

É permitido consultar suas anotações a qualquer momento, desde que você as tenha feito em primeiro lugar.

Espera-se que você aja a partir de suas anotações, e não apenas regurgite-as”.

É por isso que precisamos desaprender os velhos condicionamentos do modelo escolarizado e reaprender a anotar.

Alimentar um segundo cérebro é uma peça fundamental desse quebra-cabeça.

Como criar e manter um segundo cérebro

Eu gravei um vídeo mostrando como funciona meu segundo cérebro na prática.

Creio ser a maneira mais fácil e completa de mostrar o meu processo e o que tem sido importante pra mim dentro desse método.

Assista abaixo (você pode adicionar legendas clicando no ícone ao lado da engrenagem no vídeo):

Para pessoas que, assim como eu em muitos momentos, preferem a praticidade de ler à assistir um vídeo, eu resumi as principais dicas e informações abaixo:

1. A primeira e mais importante recomendação é: não complique! Crie uma estrutura de segundo cérebro que seja a mais simples possível, pois é a simplicidade e a facilidade de uso que irão te fazer criar o hábito de usar a ferramenta.

2. Não existe segundo cérebro sem o hábito frequente de se alimentar um segundo cérebro. A ideia é que o sistema se torne algo regular na sua vida, assim como se exercitar e socializar, por exemplo.

3. Existem várias formas de se estruturar um segundo cérebro. A minha não é a única e também provavelmente não é a melhor, mas foi a que me possibilitou criar consistência ao longo do tempo. Você pode experimentar com diferentes formas no início até encontrar uma que seja adequada ao que você precisa. A partir daí, você vai evoluindo seu método lentamente, fazendo pequenos ajustes a partir da necessidade.

4. Há diversos aplicativos disponíveis para ser a base tecnológica do seu segundo cérebro. A minha escolha no momento é o Notion, que é gratuito e bastante versátil. Algumas alternativas que podem cumprir um papel parecido são o Evernote e o OneNote, além de ferramentas mais complexas como o Obsidian, que é focada especificamente na construção de um segundo cérebro.

5. Também é possível criar um sistema baseado em pastas dentro do Google Drive, por exemplo, ou até mesmo offline, no seu computador, mas eu não recomendo que você faça isso. O fato de se ter toda a sua coleção de conhecimentos mais valiosos salvos seguramente na nuvem, além das possibilidades de visualização que aplicativos como o Notion ou o Obsidian permitem são benefícios que justificam a sua utilização, mesmo que você precise “pegar o jeito” no início.

6. Uma prática que me ajudou muito a criar o hábito de alimentar meu segundo cérebro foi colocar um atalho para acessar o Notion na tela inicial do meu celular. Com isso, adicionar uma nota é tão fácil quanto enviar uma mensagem no Whatsapp – são apenas dois cliques de distância, um para desbloquear o telefone e outro para acessar minha curadoria particular. Eu recomendo muito que você faça isso – ou pense em outros caminhos para diminuir ao máximo a fricção do ato de anotar. Lembre-se: precisa ser o mais simples e conveniente possível, senão você não criará o hábito, e com isso seu segundo cérebro se tornará inviável.

A tela inicial do meu celular, com o aplicativo do Notion circulado em vermelho. Parece bobo, mas esse pequeno truque ajuda muito.

7. A melhor hora para capturar uma nova nota é no exato instante em que o sentimento de “a-há” acontece. O “a-há”, no caso, pode ser definido como aquele momento em que você se depara com uma descoberta interessante – seja gerada pelo seus próprios pensamentos e ideias, seja pinçada do mundo exterior. Não deixe pra depois! Se você postergar a anotação, é provável que acabe esquecendo não apenas de registrar, como também da própria descoberta em si. De vez em quando eu interrompo até o meu banho para anotar um pensamento valioso, ou então faço uma micropausa em uma interação com alguém para coletar algo fascinante que me atravessou durante a conversa.

8. Enfim, falemos de estrutura: o modo como eu organizo meu segundo cérebro pode ser visto abaixo. Atualmente, eu utilizo quatro subdivisões, sendo que as três primeiras compõem o meu “acervo permanente” e a última é uma “exposição temporária”.

✎ Registro de estudos

Essa página é onde eu faço anotações mais densas/profundas sobre todos os Conteúdos, Experiências, Pessoas e Redes (CEP+Rs) que eu julgo importante registrar.

Uma observação: nem todas as informações que absorvemos precisam ser anotadas.

Para me ajudar a entender o que faz sentido anotar e o que não, eu criei dois conceitos:

  • Processamento natural: indicado para os CEP+Rs que você está acessando simplesmente por prazer. Não requer nenhuma anotação.
  • Processamento intencional: indicado para os CEP+Rs que você deseja reter, aprofundar e aplicar. É o que entra no seu segundo cérebro.

Com essa abordagem, eu consegui tirar um peso das minhas costas.

Seja intencional e cuidadoso naquilo que de fato você deseja registrar… e esqueça do resto – ou melhor, viva esse “resto” de corpo e alma, se jogando por inteiro nas experiências, sem se preocupar com registros.

Às vezes, eu vivo uma situação que me gera aprendizado e não penso em anotar, mas depois de algum tempo sinto essa vontade. E aí, caso seja uma anotação mais profunda, o Registro de estudos acaba sendo o lugar onde eu a deposito.

Eu não acesso tanto esse caderno quanto alguns outros, e é normal que seja assim. Não é sempre que estou estudando minuciosamente algo. É possível se manter aprendendo muito mesmo sem fazer isso.

Eu também não me preocupo em anotar de um certo jeito ou utilizando determinado método. Pra mim isso não importa muito: o que mais faz diferença é o hábito de anotar (quando queremos obter os resultados do processamento intencional).

Minha “metodologia” de anotação é bastante orgânica e composta por citações, trechos, reflexões, diálogos meus com o autor ou a autora (no caso de livros, por exemplo), ideias, pensamentos e o que mais me der na telha.

Bem no estilo marginália – sabe aqueles registros belos e caóticos que fazemos nas margens dos livros?

Por último, pode ser benéfico revisar suas anotações de tempos em tempos. Mas, sendo honesto, eu praticamente só as reviso quando me deparo com algum episódio concreto que me demanda voltar em algum registro específico e relê-lo.

E tá tudo bem.

📓 Frases, reflexões e pérolas

Frases, reflexões e pérolas é o espaço onde eu coloco aprendizados, citações, trechos, pensamentos, informações relevantes, links que quero guardar e todo tipo de reflexão curta e valiosa.

Esse é o caderno que mais abro dentro do meu segundo cérebro. Utilizo-o praticamente todos os dias, e é por isso que, com mais de dois anos de uso, ele já acumula várias centenas de notas.

O truque de inserir o atalho para o Notion na tela inicial do celular faz muita diferença no caso dessa seção, justamente pelo fato de ser um local para registros rápidos e pontuais.

A dica de anotar o “a-há” no exato momento em que ele acontece também faz especial sentido aqui, dada a efemeridade desse tipo de registro.

Olhando em retrospectiva, eu vejo que o caderno de Frases, reflexões e pérolas talvez seja o mais valioso de todos do meu segundo cérebro.

É interessante inclusive “passear” pelas notas inseridas nele e rememorar o que eu estava pensando e o que estava me chamando atenção meses e até anos atrás.

Trata-se de uma verdadeira excursão pelos recônditos do meu próprio ser ao longo dos tempos, agora iluminados por uma feliz combinação de bons hábitos de curadoria pessoal + o poder da tecnologia.

É a maravilhosidade do segundo cérebro em ação.

Um bom sistema de busca também conta muito nesse tipo de caderno de anotações mais ágeis, uma vez que elas tendem a ser mais frequentes e a se acumularem. E o Notion tem uma ótima busca interna.

Uma dica importante nesse sentido é anotar palavras-chave sempre que inserir uma nova nota. Eu costumo me fazer a seguinte pergunta: “O que precisa estar escrito nessa anotação para que eu consiga me lembrar depois ao tentar buscá-la?”

Isso não significa, porém, que meus registros sejam muito caprichosos. Em geral, minhas notas no Frases, reflexões e pérolas são bastante displicentes, mas isso não é ruim.

O ruim seria se eu não as anotasse.

🎾 Ideias de posts

Como eu escrevo textos com frequência, percebi que faria sentido criar o espaço Ideias de posts para ser o meu repositório de pensamentos sobre assuntos que poderiam render novos textos.

Quando eu uso alguma das ideias que registrei lá, eu dou um “check” nela para que depois eu saiba que ela já foi utilizada. Isso me ajuda a não repetir exatamente os mesmos temas – algo necessário quando você publica há vários anos e perde a noção sobre o que já escreveu e o que ainda está por ser escrito.

O caderno Ideias de posts, de certo modo, tem uma dinâmica semelhante ao Frases, reflexões e pérolas no sentido de ser um local de anotações mais curtas e rápidas. No entanto, ele tem um direcionamento mais específico voltado para a minha atividade de escrita/produção de conteúdo.

Frases, reflexões e pérolas por vezes também me dá ideias para novos textos, assim como o Registros de estudos. O fato de haver um caderno cuja pauta exclusiva seja orientada para a escrita não quer dizer que eu precise sempre tirar todas as minhas ideias de lá.

Na verdade, depois que eu comecei a ser disciplinado na alimentação do meu segundo cérebro, eu nunca me senti desabastecido de criatividade para escrever.

Isso é uma das grandes vantagens de se ter um sistema como esse incorporado na sua rotina.

Em alguns momentos, a faísca geradora de uma nova postagem está bastante viva em mim, e por isso eu nem preciso abrir o Ideias de posts para me inspirar.

Em outros, porém, quando a inspiração me falta, eu posso confiar na contínua transpiração em pequenas doses que o hábito de anotar minhas descobertas e ideias sempre no mesmo lugar representa.

Um segundo cérebro ajuda a compensar quando nosso primeiro cérebro falha.

✨ O Prazer de Estar Errado

O Prazer de Estar Errado é uma seção dedicada a uma jornada de aprendizado específica que iniciei em 2020.

Nesse ano, eu comecei a fazer uma pesquisa para escrever um novo livro com esse mesmo título, e então optei por centralizar todas as anotações e materiais relativos a esse projeto criando uma subdivisão específica no meu segundo cérebro.

Os registros dessa pesquisa, como se pode ver na imagem acima, ainda estão bem caóticos, mas num primeiro momento a ideia é essa mesmo.

Em um segundo momento, pretendo revisar tudo e fazer um processamento do que entrará e do que não entrará no livro (e de que forma entrará).

Esse caderno é um exemplo de uma “exposição temporária” que você também pode criar para si dentro do seu “museu” de conhecimentos ao longo da vida.

Caso esteja criando um novo projeto, iniciando um novo trabalho/hobby ou simplesmente querendo cuidar do armazenamento de informações mais específicas e momentâneas, aplicativos como o Notion te permitem criar seções e estruturas adicionais que podem auxiliar na maneira com que você se organiza.

Ainda assim, pelo fato de prezar pela simplicidade, eu evito ficar inserindo mais subdivisões além das minhas três principais.

Isso faz com que eu tenha a sensação de que o meu segundo cérebro está sempre “limpo”, além de ser mais fácil a tomada de decisão sobre onde criar uma nova nota – o que, mais uma vez, contribui para reduzir a fricção e aumenta a consistência do hábito.

Liberando o potencial humano

Tiago Forte, em sua defesa apaixonada sobre os benefícios de se alimentar um segundo cérebro, afirma que:

“Cada fração de energia que gastamos nos esforçando para recordar coisas é uma energia que não aproveitamos para o tipo de pensamento que apenas seres humanos podem fazer: inventar coisas novas, elaborar histórias, reconhecer padrões, seguir nossa intuição, colaborar com outras pessoas, investigar novos temas, fazer planos e testar teorias”.

Desde que o segundo cérebro saiu do território das ideias e se tornou uma prática fundante do meu aprendizado e da minha vida, eu assino embaixo de cada uma dessas palavras dele.

A partir de um sistema de curadoria e criatividade pessoal criado para ser o meu fiel acompanhante a cada momento, eu aprendi a cuidar muito bem de um dos ingredientes definidores da minha vida: informação de qualidade.

E você, como tem tratado as suas descobertas? Como tesouros valiosos ou como acessórios dispensáveis?


Obs.: um agradecimento especial à Marina Judice, que me contou sobre a exposição A Magia do Manuscrito e com quem tive algumas conversas bem ricas sobre o assunto deste texto antes de publicá-lo 🙂


Referências

– Livro Building a Second Brain: A Proven Method to Organize Your Digital Life and Unlock Your Creative Potential. Tiago Forte. 2022.

– Eu já havia escrito antes sobre a prática do segundo cérebro em alguns outros lugares (na época, utilizando o nome commonplace book):

  • Ebook 25 Comportamentos de Aprendizes Altamente Eficazes, comportamento nº 10 – Alimentar um commonplace book (faça o download gratuito do ebook aqui)
  • Desafio #8: Use um commonplace book (Desafio 30 Dias de Hábitos de Aprendizagem)
  • Curso A2: Aprendendo a Aprender, aula 23 – Registro, organização e sensemaking: como sistematizar e extrair sentido do que você aprende
  • Infográfico da aula mencionada acima em PDF

Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e especialista em aprendizado autodirigido e lifelong learning. É o idealizador do MoL, uma comunidade de aprendizagem autodirigida, e coautor do livro Core Skills: 10 habilidades essenciais para um mundo em transformação. Colabora com as empresas na redefinição da sua cultura de aprendizagem e com os indivíduos na sua capacidade de aprender a aprender. Saiba mais em www.alexbretas.com

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