Um grupo de alunos da Universidade de Toronto desenvolveu um programa que faz pesquisas na área jurídica de forma muito mais precisa, mais rápida e mais profunda se comparado com os seres humanos, no caso, os advogados.
Mas, qual a origem desse programa? Como tudo começou?
Jimoh Ovbiagele tinha dez anos, quando seus pais decidiram se divorciar. Como o casal tinha assuntos mal resolvidos, o processo de divórcio acabou estendendo-se mais do que deveria, e, consequentemente, os honorários dos advogados e as taxas foram bem maiores do que previram. Até que os pais dele abandonaram o processo. Isso teve um impacto muito negativo sobre toda a família.
Já no ensino médio, Ovbiagele avaliou as opções de carreira que melhor combinavam com o seu perfil. Descobriu que um advogado passa a maior parte do tempo pesquisando casos e lembrou as dificuldades de seus pais. Essas lembranças ainda o incomodavam, a ponto de descartar a ideia de fazer Direito. Acabou optando por Ciência da Computação.
Mais adiante, teve a oportunidade de desenvolver um projeto de inteligência artificial na Universidade de Toronto. Ele já tinha uma boa ideia do que queria fazer: lembrou o grande problema – gasto excessivo de tempo – que os advogados enfrentam no seu dia-a-dia, e como isso afeta outras pessoas.
Ovbiagele imaginou que poderia aplicar os recursos de aprendizagem de máquina para resolver este problema e tornar as coisas melhores para os advogados e para os seus clientes.
E assim, a ideia ROSS Intelligence nasceu.
O que faz esse “advogado inteligente”
Ross funciona meio parecido com a Siri, assistente da Apple, só que melhor. Os usuários podem fazer qualquer pergunta, da mesma maneira que um cliente faz perguntas ao seu advogado: “Se meu funcionário não conseguir desempenhar tarefas básicas da função a qual foi contratado, posso demití-lo sem aviso prévio?”
O sistema recebe as perguntas jurídicas específicas e, em seguida, faz uma varredura no seu banco de dados para retornar com respostas precisas e contextualizadas, juntamente com uma citação. Ele ainda inclui um nível de confiança em sua resposta.
Abaixo da resposta, o usuário pode visualizar os documentos os quais Ross puxou as informações; se a resposta for precisa, o advogado pode apertar o botão “thumbs up” para salvar a fonte. Ou selecionar “thumbs down” para que ele faça uma nova pesquisa, retornando com outra resposta.
O programa usa o reconhecimento de voz da IBM Watson e o serviço de aprendizado de máquina com base no sistema cognitivo Jeopardy. Ross aprende a partir do feedback que seus usuários dão e vai ficando cada vez mais inteligente, a medida que recebe os inputs dos usuários.
Andrew Arruda, co-fundador e advogado, explica que a equipe começou com uma versão “lousa em branco” da IBM Watson. Eles alimentaram o Ross com milhares de páginas de documentos legais e o treinaram sobre as taxonomias e ontologias do Direito usando uma das APIs de perguntas e respostas do Watson. Em seguida, construíram uma camada de aprendizagem de máquina de sua própria LegalRank – uma espécie de brincadeira com o algoritmo PageRank do Google – para refinar ainda mais o sistema.
“Sem exatamente dar o nosso molho secreto, o LegalRank pode descobrir quais são os resultados que tiveram mais preferências, ou seja, ele pode priorizar um caso que tem mais citações, sabendo que um caso da Suprema Corte teve classificação mais elevada do que uma decisão local, e outras nuances.” (Andrew Arruda)
Akash Venkat, Andrew Arruda, Shuai Wang, e Jimoh Ovbiagele (da esquerda para a direita). NATHAN CHAN/THE VARSITY
Restrições eliminadas
Advogados podem passar quase um quinto de seu horário de trabalho realizando pesquisas legais. Escritórios de advocacia gastam $9,6 bilhões em pesquisas anualmente.
As pesquisas do Ross são mais rápidas e mais amplas. Arruda explica que ele pode procurar em lugares que nenhum ser humano teria pensado em buscar. “Os advogados podem começar a elaborar argumentos mais perspicazes”, diz ele.
Ross também pode ajudar a aliviar parte do trabalho básico que muitas vezes é terceirizado em lugares como Índia e Filipinas, onde o trabalho muitas vezes é mais barato.
Outro benefício seria para aquelas pessoas que precisam de um advogado, mas não podem pagar. Elas encontrariam ajuda legal dentro de suas possibilidades.
O futuro
Neste momento, Ross se concentra na área de falência e de insolvência, mas Ovbiagele e Arruda sinalizam a capacidade de dimensioná-lo para outras áreas. Hoje, o sistema também está focado em perguntas sobre a lei canadense, mas eles planejam expandir para leis no mundo todo.
Nós, aqui do O Futuro das Coisas, não testamos o Ross, portanto não há como saber se o aplicativo funciona como anunciado. Porém, Ovbiagele e Arruda informam que desde Junho estão testando o sistema em projetos piloto de pequena escala dentro de escritórios de advocacia, e estão confiantes nos resultados obtidos até agora.
No momento, o serviço – em beta privado – é gratuito, com um número não revelado de clientes. Sabemos que há uma indicação de que o Ross tenha potencial: uma subsidiária da empresa de advocacia global Dentons, NextLaw Labs, contratou o programa.
Arruda acredita que o Ross está chegando ao mercado em um momento perfeito. Vários escritórios de advocacia estão buscando melhorar seus processos porque há mais pressão pelo lado do cliente para que tornem-se mais eficientes.
Fontes: Ross Intelligence e PSFK.
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