Para o Brasil, ainda é uma prática distante, mas médicos e terapeutas nos Estados Unidos e no Reino Unido estão usando a realidade virtual (RV) como uma forma de distrair pacientes durante procedimentos que causam dor, além de tratar fobias e outros distúrbios.

Imagine a seguinte cena: uma vítima de queimadura se contorce de dor quando vê a enfermeira se aproximar para trocar suas bandagens. No entanto, antes de fazer os curativos, ela coloca delicadamente um par de óculos de realidade virtual nele.

O paciente então, começa a entrar num mundo onde há canyons de gelo com ursos e outros animais árticos. Lá, ele pode atirar bolas de neve nos pinguins, se esconder em iglus ou simplesmente admirar os cenários, distraindo-se das sensações de queimadura do seu corpo.

Essa realidade virtual na neve, chama-se SnowWorld.

snow 2SnowWorld

 

Desenvolvido pelo Dr. Hunter Hoffman e seu colega Dave Patterson, SnowWorld é usado como um método para distrair pacientes com queimaduras que causam dor excessiva.

Dr. Hoffman afirma que os estudos clínicos com pacientes queimados apresentam, de forma consiste, excelentes resultados.

Com os avanços dos softwares de RV, estes ambientes virtuais ficam cada vez mais dinâmicos e realísticos, permitindo que os usuários fiquem completamente absortos e envolvidos na experiência.

Esta é apenas uma das muitas maneiras da realidade virtual ser introduzida na medicina.

Soldados pós-guerra

snow 5Dr. Albert “Skip” Rizzo

 

Dr. Albert “Skip” Rizzo, diretor de Realidade Virtual Médica no Institute for Creative Technologies, na Califórnia, usa a realidade virtual na terapia com soldados que sofrem de estresse pós-traumático de guerra.

Os pacientes são colocados em simulações, como por exemplo, dirigindo um Humvee, em que podem estimular a imaginação e processar o trauma de uma forma provocativa.

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Ambiente virtual que simula a guerra

 

Dr. Rizzo diz que o paciente tem a oportunidade de dizer: “Olha isso… foi horrível!

O mundo virtual torna-se um espaço para expor os soldados a ambientes tipicamente estressantes. Claro, que eles podem optar por sair a qualquer momento.

Para o Dr. Rizzo, a RV uma ferramenta que amplia as habilidades do médico, permitindo que os pacientes se envolvam em desafios de uma forma única.

O caso de um músico inglês

snow 3Alika Agidi-Jeffs

 

A Dra. Lucia Valmaggia – psicóloga clínica da King’s College London – e seus colegas, estão usando a realidade virtual em pessoas com depressão e trantornos.

Neste mês de Julho, a Dra. Valmaggia apareceu na Al Jazeera para demonstrar como funciona o processo. Ela explicou o caso de Alika Agidi-Jeffs, um músico inglês diagnosticado com transtorno bipolar que ofereceu-se para fazer o tratamento com RV.

Antes de conhecer a Dra. Valmaggia e iniciar o tratamento, houve um episódio traumático para Agidi-Jeffs. Ele foi filmado, sem saber, cantando uma música da Rihanna.

O vídeo tornou-se viral no YouTube. Mais de 2 milhões de pessoas assistiram. O que ninguém sabia é que Agidi-Jeffs estava passando por um momento de muita ansiedade, depressão, e basicamente, tendo um colapso.

A experiência humilhante do vídeo o levou a se esconder do mundo. Ele mergulhou numa espiral, com pensamentos suicidas, acreditando que sua família e amigos ficariam melhor sem ele.

Neste contexto, a Dra. Valmaggia, iniciou as sessões de realidade virtual com Agidi-Jeffs. Ela o colocou em uma situação em que ele fugiria a qualquer custo: entrar em um metrô lotado de gente.

Se você não sabe, utilizar transporte público pode ser um desafio para pessoas que sofrem de esquizofrenia ou paranóia. Normalmente, estas pessoas imaginam que outras estão julgando ou falando delas.

sony 4Ambiente virtual no metrô

 

Na experiência virtual com Agidi-Jeffs, enquanto o metrô seguia sua rota, a Dra. Valmaggia pedia para ele pensar na impressão que estava causando nos passageiros, e também pedia para que ele pensasse nas suas impressões em relação aos passageiros.

Enquanto isso, os pesquisadores monitoravam como ele reagia às pessoas e aos eventos que encontrava ao longo da jornada.

Depois de várias sessões virtuais no metrô lotado, os pensamentos paranóicos – sobre pessoas olhando, apontando ou rindo – foram perdendo força.

Com estas sessões em Agidi-Jeffs e em outros pacientes, os pesquisadores da King’s College London buscam melhorar as técnicas de diagnóstico e, assim, criar tratamentos mais eficazes que utilizam a tecnologia RV.

A criação de um ambiente simulado permite aos psicólogos trabalhar pontos de pressão mentais e saber em que exato momento os pacientes começam a se preocupar, que tipos de cenários dão mais medo, e assim por diante.

Tratamento de fobias

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Nos Estados Unidos, a Escola de Medicina da Universidade de Duke nos dá outro exemplo.

A realidade virtual está sendo usada lá para tratar fobias e transtornos de ansiedade causados por exemplo, por medo de altura, de falar em público, de elevadores, de tempestade e de aranhas.

Depois de uma entrevista de diagnóstico, a qual assegura que o tratamento com RV será adequado, os participantes são colocados no ambiente virtual e tridimensional gerado por computador.

São necessárias entre 6 a 12 sessões, de 45 a 50 minutos cada, para conseguir o benefício máximo. Várias sessões podem ser agendadas na mesma semana.

O software de realidade virtual utilizado na Duke foi cuidadosamente projetado pela Virtually Better.

Quase tão real…

oculus-rift-insideOculus Rift visto por dentro

 

Todos os especialistas citados acima – Dra. Valmaggia, Dr. Rizzo e os médicos da Universidade de Duke – acreditam que lidar com desafios no mundo virtual equivale a lidar com eles na realidade.

A RV cria cenários muito reais e feitos sob medida. É difícil descrever um ambiente virtual para quem nunca esteve em um. É muito diferente de assistir a um filme 3D. É uma experiência de imersão total, em que você realmente sente como se estivesse lá.

Essa natureza envolvente da RV pode criar o mesmo tipo de reações físicas e mentais como na vida real. Em contrapartida, os médicos podem monitorar as respostas dos pacientes em primeira mão e até mesmo ajustar o que está acontecendo.

Ou seja, a realidade virtual dá aos médicos mais detalhes sobre os pacientes, para que utilizem mecanismos mais eficazes de tratamento.

O Futuro

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Apenas poucos médicos e terapeutas estão usando a realidade virtual para tratar seus pacientes, mas não há dúvida de que ela está prestes a ter um grande impacto na medicina e nas terapias.

A medida que hardwares e softwares se desenvolvem, kits de RV serão utilizados não só em games, mas para melhorar a vida das pessoas com diversos problemas médicos, como paranóia, fobia, estresse pós-traumático e ansiedade.

Também é possível que, num futuro próximo, o médico ou terapeuta possa ser um dos avatares no mundo virtual.

Uma em cada 4 pessoas no mundo sofrem algum tipo de problema de saúde mental em algum nas suas vidas. Dispositivos como o Oculus Rift podem oferecer um caminho para tratamentos mais eficazes e melhores chances de recuperação.

 

Fontes: Aljazeera e Science Alert.

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