Quando falamos em sucesso na vida profissional, duas variáveis são sempre mencionadas – os talentos/habilidades e a disposição para continuar aprendendo e se desenvolvendo (lifelong learning). Não há dúvidas sobre a importância de ambas na gestão de uma carreira. Entretanto, existe outra variável que raras vezes entra como protagonista quando pensamos em jornada profissional.
Pouco se fala sobre a importância do alinhamento entre carreira e valores humanos – ou seja, valores pessoais que são essenciais e inegociáveis para alguém. Apenas uma minoria reflete sobre os impactos dos valores pessoais na jornada profissional, muito pelo desconhecimento da relação direta que existe entre felicidade na carreira e esses valores.
Um trabalho que não esteja alinhado aos seus valores dificilmente fará você se sentir feliz e realizada ou realizado. Não importa quanto dinheiro você ganhe.
Os nossos valores são o nosso drive. Eles orientam decisões simples ou complexas que tomamos no dia-a-dia. E não seria diferente nas escolhas referentes à nossa jornada profissional. Trazê-los à consciência pode inspirar e direcionar o pensar sobre a carreira, orientando decisões estratégicas e que se farão necessárias durante toda uma jornada profissional.
Decisões alinhadas aos valores pessoais fazem com que as escolhas sejam mais conectadas com quem somos e com o que buscamos para nossa vida.
O que observo é que é muito mais comum o profissional buscar possibilidades de trabalho considerando seus talentos e habilidades. Raramente essa busca tem como objeto de análise a coerência entre o sistema de valores pessoal, ou seja, aquilo que é importante para si e os valores da empresa. Aqui nos deparamos com uma questão relevante, que nos leva a uma reflexão importante: existe relação entre valores humanos e burnout?
Este questionamento tem despertado interesse em diversos pesquisadores. Existe uma linha de pesquisa que estuda o impacto da congruência entre os valores dos colaboradores e os valores do local de trabalho como um fator importante para a prevenção do burnout. O artigo publicado na RAM (Revista de Administração Mackenzie), a “Teoria Funcionalista dos Valores Humanos: Aplicação para as Organizações”, apresenta os resultados da pesquisa que indicam que as subfunções dos valores estão relacionadas ao comprometimento organizacional, bem-estar afetivo no trabalho, burnout e fadiga.
Valores compartilhados levam a melhores relacionamentos e maior desempenho e produtividade, enquanto uma incompatibilidade pode dificultar que os profissionais trabalhem juntos e de forma colaborativa em direção a objetivos comuns, Essa desconexão em relação aos valores, impacta negativamente o moral, a criatividade, a produção e a satisfação no trabalho. O olhar para os valores pessoais não deve ser uma preocupação apenas para o profissional, mas também para as organizações.
De modo geral, as pessoas acham difícil agir consistentemente de maneira que vá contra seus valores, e elas se saem melhor quando encontram uma ocupação que seja compatível com o que elas acreditam ser importante.
Vale salientar que, aqui não existe julgamento de valores bons ou ruins, melhores ou piores. O ponto relevante é a coerência entre aquilo que você faz com aquilo que você sente. Quando as suas ações impactam negativamente os seus sentimentos, as suas emoções, é sinal de que algo está desalinhado com os seus valores pessoais.
Decisões de carreira que não consideram valores importantes para você, podem levar à culpa e à insatisfação, seja na vida profissional quanto na vida pessoal. Identificá-los ajudará a tomar as decisões mais coerentes e consistentes com quem somos, o que buscamos e o que nos motiva.
Conhecer nossos valores orientadores é um passo importante para planejar e dar novos direcionamentos a uma carreira que leve ao sucesso profissional. Para quem tiver interesse, aqui você pode identificar seus valores orientadores.
Ilustração: Ka Young Lee