Vivemos em um país com uma das maiores mazelas da sociedade contemporânea: a falta de moradia. No Brasil, o déficit habitacional hoje é de 5,2 milhões de unidades.

Embora o programa governamental “Minha Casa, Minha Vida” tenha reduzido esse déficit em 8%, o número de famílias de baixa renda que moram em condições precárias – como favelas e áreas de riscocontinuará crescendo, conforme a população se expande.

Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas estima que 11,2 milhões de moradias devem ser construídas para erradicar o déficit habitacional em dez anos.

No entanto, não será possível acabar com o problema se a indústria da construção civil continuar a usar os mesmos métodos e recursos que vêm utilizando.

Para suprir essa demanda de unidades, precisamos de processos mais eficientes que permitam construir de forma mais rápida, mais barata, promovendo ainda o desenvolvimento urbano sustentável.

Tecnologias disponíveis

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Casa de 2 andares sendo montada em apenas três horas da empresa chinesa Zhuoda

A imensa demanda mundial por novas unidades habitacionais – 600 milhões ao longo dos próximos 15 anos – tem motivado a busca por novas técnicas de construção.

Quatro tecnologias exponenciais já estão disponíveis para remodelar o mercado imobiliário: a impressão 3D, a robótica, a realidade virtual e a inteligência artificial.

Infelizmente, o setor imobiliário e a construção civil têm demonstrado lentidão na adoção destas novas tecnologias. Tanto aqui no Brasil, como em outros países.

Algumas startups ao redor do mundo estão se firmando no mercado nascente da impressão 3D para moradias. A empresa chinesa Winsun divulgou no ano passado, a sua capacidade de imprimir em 3D, em um único dia, 10 casas completas.

No mês passado, outra empresa chinesa, a Zhuoda, provocou olhares assustados nos moradores de um bairro na China quando montou uma casa de 2 andares em apenas três horas.

Cada módulo dessa casa (sala de estar, quarto, cozinha, etc.) foi impresso em 3D na fábrica e, em seguida, montado no local.  Todo o processo, incluindo a impressão e a montagem, foi feito em 10 dias de acordo com o fabricante, sendo que 90% do processo feito na fábrica. Foi possível reduzir drasticamente os custos de construção para cerca de US$ 400 a $480 por m2.

O grupo Zhuoda entrou com mais de 22 patentes sobre sua tecnologia, mantendo seu material em segredo. No entanto, o vice-presidente da empresa Tan Buyong, revelou que o novo material é proveniente de resíduos industriais e agrícolas, é à prova de fogo e à prova d’água, e livre de substâncias nocivas.

Inclusive esse é um dos fortes questionamentos entre os construtores: o material de construção adequado. Várias startups estão trabalhando em novas soluções. A italiana D-Shape tem trabalhado com areia e compósitos poliméricos e a holandesa Canalhouse tem usado plástico.

A startup brasileira Urban 3D, está desenvolvendo um novo produto, que substituirá o concreto (altamente poluente). Na prática, a Urban 3D construirá moradias de baixo custo utilizando uma tecnologia inovadora, que alia robótica e impressão 3D, para criar em série módulos pré-formatados digitalmente.

Novas técnicas de construção também estão sendo direcionadas para o planejamento de cidades. Softwares de simulação e de design como o UrbanSim permitem o planejamento simultâneo em múltiplos fluxos de trabalho, integrando diferentes departamentos governamentais e fluxos de projeto. Este novo método já é visto ao redor do mundo – de San Francisco a Paris.

As vantagens

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A velocidade de construção é apenas uma das vantagens destas novas tecnologias. A redução de custos também é uma grande vantagem. Yaron Schwarcz, fundador da Tridom, uma startup em Israel que utiliza máquinas autônomas de construção, as quais podem ser adaptadas em máquinas existentes, nos explica o potencial:

Nós estimamos que possamos construir um prédio de quatro andares, com 16 apartamentos no prazo de uma semana, em vez de quatro meses como é o usual. Isso causará uma redução no custo de trabalho e no custo de construção em até 60%. O processo também permitirá uma maior complexidade de projetos arquitetônicos com margens menores de erros.”

Outro fator benéfico é a queda significativa da geração de resíduos durante todo o processo de construção. Resíduos de construção são atualmente responsáveis por quase 30% do resíduo global e a maioria dos resíduos em áreas urbanas.

Reformulando a compra e a venda

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Novas tecnologias não são apenas fundamentais para remodelar o processo de planejamento e de construção, elas também irão remodelar a nossa maneira de comprar e de vender imóveis, criando novas oportunidades.

O avanço na tecnologia de captura de vídeo em 360 graus tem dado forte impulso nas plataformas de realidade virtual – um mercado em expansão no qual o Google, Facebook, Microsoft e outros atualmente estão investindo bilhões de dólares.

Com a realidade virtual, o processo de compra de imóveis do futuro vai ser feito no conforto de casa, usando dispositivos como o Oculus VR. As visitas aos imóveis podem ser feitas a qualquer hora.

Várias empresas como a Studio 216, Vieweet, Arch Virtual, Soluções Arx, Rubicon Media, estão desenvolvendo soluções interativas e em 3D para o setor imobiliário. O objetivo é que clientes e investidores possam explorar melhor os empreendimentos e o imóvel em si, seja apartamento ou casa.

A realidade virtual também permitirá a simulação de mudanças na planta, como por exemplo, tirar as paredes de um quarto, mudar pisos ou testar cores de paredes ou ainda testar diferentes tipos de decoração. Tudo em tempo real.

Empresas imobiliárias como a ZillowTruliaMoveRedfin e ZipRealty estão investindo milhões em aprendizado de máquinas (Inteligência Artificial) para que a experiência de compra de um imóvel seja a melhor e a mais impactante possível para seus clientes.

O futuro

Há disrupturas significativas chegando ao setor imobiliário: Num futuro próximo, iremos ver enormes mudanças na forma de construir moradias, na maneira de comprá-las e na maneira como iremos vivers nelas.

Espera-se também que à medida que essa indústria construtiva e imobiliária se desenvolva, os preços dos imóveis caiam.

Construtores, incorporadores, imobiliárias e arquitetos, é hora de mudar este status quo! Embora a situação econômica no Brasil seja incerta, sempre haverá oportunidades e crescimento para empresas dispostas a causar uma disruptura nos seus mercados.

Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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