Rápidos avanços estão acontecendo na inteligência artificial e no reconhecimento de voz. Smartphones, computadores e até carros escutam nossas perguntas e nos respondem de forma inteligente. Para você ter uma ideia, a Siri, assistente da Apple, troca mais de 1 bilhão de mensagens por semana com os seus usuários.
Com essa tecnologia amplamente disponível, era inevitável que também chegasse para as crianças.
E chegou. A Mattel revelou que a nova Barbie terá inteligência artificial, numa ação para deixá-la mais realista e mais interessante para as crianças.
A boneca, lançada na Toy Fair de Nova York, em 1959, rapidamente tornou-se um ícone para várias gerações. Agora, a próxima versão chamada “Hello Barbie”, irá conversar, trocar ideias, e não terá nenhuma dificuldade com matemática ou qualquer outra matéria.
Aperte a fivela do cinto
A Hello Barbie será produzida em parceria com a ToyTalk, empresa em San Francisco (EUA) especializada em inteligência artificial. De longe, será o brinquedo mais avançado a usar Inteligência Artificial e os fabricantes esperam persuadir as crianças de que ela é bem mais do que apenas uma “boneca inanimada”.
Além dos tradicionais acessórios, ela virá com um cinto em que a fivela funciona como um botão: basta apertá-lo para ativar o software de reconhecimento de voz. Através deste mecanismo, as garotas podem ter conversas interativas com a boneca.
Um microfone, escondido dentro do colar da Barbie, é ativado quando a criança pressiona a fivela do cinto. Cada conversa será gravada e transmitida via Wi-Fi para os servidores da ToyTalk. O software de reconhecimento de voz, então, converte o áudio em um arquivo de texto, que é analisado. Baseado na heurística e num mecanismo de decisão, a Inteligência Artificial escolhe a “resposta ótima” dentre as milhares de linhas escritas pelos roteiristas da ToyTalk. A melhor resposta é então direcionada para a boneca e ela responde à criança – tudo em menos de um segundo.
As gravações do áudio são armazenados nos servidores da ToyTalk e ficam disponíveis para as equipes que trabalham na melhoria da plataforma de reconhecimento de voz e também para os pais da criança. Os pais podem ouvir, apagar, ou até mesmo compartilhar as gravações no site.
Roteiristas escreveram 8.000 linhas de conversas
A inteligência artificial da Hello Barbie reconhece 8.000 linhas de diálogos, e pode improvisar conversas e falar sobre suas coisas favoritas, assim como uma “verdadeira amiga”, explica Oren Jacob, CEO da ToyTalk.
Sarah Wulfeck, Nick Pelczar, Dan Clegg e Danielle Frimer também trabalham na ToyTalk e foram os responsáveis por escrever os scripts (roteiros) que preencheram a “cabeça vazia” da Barbie. Wulfeck estudou escrita dramática e fez trabalhos de locutora em Hollywood. Pelczar e Clegg eram atores shakespearianos. Frimer, outra atriz, juntou-se à equipe depois. Os quatro estão tentando construir a personalidade da boneca a partir do zero para que seja “aquela amiga perfeita”.
A partir da esquerda: Nick Pelczar, Danielle Frimer, Dan Clegg e Sarah Wulfeck. Os quatro estão escrevendo os diálogos para a Hello Barbie. Crédito: Angie Smith do The New York Times
Cada potencial conversa que a Hello Barbie pode ter com as crianças foi mapeada. É como se cada conversa fosse os galhos de uma árvore, com perguntas que levam a longas listas de respostas previsíveis e que dão origem às próximas respostas da boneca, e assim por diante.
Se por acaso o reconhecimento de voz falhar ou a pergunta/resposta da criança não tiver sido prevista, os escritores programaram no brinquedo uma espécie de “fallback”’: um truque de conversação genérico – “mesmo?” “sério?”- que às vezes usamos quando estamos num lugar barulhento e não escutamos o que o outro diz.
A Hello Barbie também consegue lembrar as respostas que já deu e usá-las dias ou semanas depois em novas conversas. ”Ela sempre deve saber que a sua avó morreu, e evitar trazer esse fato à tona; que a sua cor favorita é o azul, e que você pretende ser uma veterinária quando crescer”, ilustra Wulfeck.
No desenvolvimento da tecnologia para tornar tais proezas possíveis, a ToyTalk está focada numa das coisas mais valorizadas no Vale do Silício hoje, que é criar “amigos” “movidos à inteligência artificial, com personalidade complexa e capazes de conversar.
A abordagem da ToyTalk, no entanto, centra-se na qualidade da conversa em vez da quantidade. Comparando com a tecnologia dos smartphones, que reproduzem conteúdo online usando vozes automatizadas, Jacob explica que cada palavra de um personagem da ToyTalk é roteirizada por escritores e gravada por atores com uma fala genuinamente humana.
No caso, para criar a personagem Hello Barbie, os escritores da ToyTalk receberam instruções da Mattel: a nova boneca precisava ser divertida, criar jogos imaginativos, contar piadas e ser meio “pateta”. “Mas queríamos também que ela tivesse sensibilidade e fosse empática com as jovens meninas”, complementa Julia Pistor, vice-presidente da Mattel.
Resgate da marca
Os executivos da Mattel precisavam tomar alguma ação para resgatar a Barbie. Em 2014, com a chegada de Elsa, do filme Frozen, ela deixou de ser a boneca mais desejada pelas crianças nos Estados Unidos.
Desde 2011, as vendas estão em declínio. A Mattel enfrenta um mercado desafiado por mudanças rápidas, concorrência de produtos eletrônicos e restrições à publicidade infantil. A empresa precisava modernizar a sua boneca.
A Hello Barbie vem com a sua própria estação de carregamento; Há ímãs em seus pés para que ela possa ficar de pé, enquanto suas costas ficam conectadas durante a recarga.
A nova Barbie “inteligente” estará disponível em Novembro para que as crianças já possam aproveitá-la nas férias. Custará 75 dólares e a Mattel espera faturar 6 bilhões de dólares nestas férias.