Seres sintéticos melhorados que assumem trabalhos humanos degradantes nas colônias espaciais ou no que restou da Terra. Esse é o panorama do Blade Runner 2049. O novo filme mostra uma espécie mais sofisticada de replicantes, feitos com partes orgânicas, que combinam força e emoções de seus criadores humanos.

Mas, será que nos próximos 30 anos, teremos tecnologias que irão permitir criar os “replicantes” de Blade Runner?

Fumiya Iida escreveu um ótimo artigo sobre esse assunto no The Conversation. Sendo pesquisador na área de robótica bioinspirada na natureza e biomecânica, e já tendo participado de vários projetos de pesquisa sobre locomoção com pernas dinâmicas, navegação de robôs autônomos e interações homem-máquina, na visão dele, a realidade é que estamos muito longe de construir robôs assim. Porém, avanços na chamada robótica suave mostram um caminho promissor para uma tecnologia que poderia ser uma nova base para os androides do futuro.

Do ponto de vista científico, segundo Fumiya, o verdadeiro desafio seria replicar a complexidade do corpo humano. Cada um de nós é composto por milhões e milhões de células, e não temos ideia de como podemos construir uma máquina tão complexa. As máquinas mais complexas de hoje – ele ilustra o exemplo do maior avião de passageiros do mundo, o Airbus A380 – são compostas por milhões de partes. Mas, para chegar ao ponto de combinar o nível de complexidade dos seres humanos, precisaríamos escalar essa complexidade em cerca de um milhão de vezes.

Atualmente, existem três maneiras da Engenharia diminuir o gap entre humanos e robôs. Mas, essas três abordagens são apenas pontos de partida e não estão nem perto do mundo de Blade Runner.

Hoje temos robôs com sensores, motores e computadores que se assemelham ao corpo humano e aos seus movimentos. No entanto, componentes artificiais como sensores e motores, ainda são completamente primitivos se comparados aos seus homólogos biológicos.

Temos também a tecnologia cyborg, onde o corpo humano é aprimorado com a incorporação de membros robotizados e dispositivos portáteis e implantáveis. Esta tecnologia ainda está muito distante de “combinar” com partes do nosso corpo.

Em terceiro, existe a tecnologia de manipulação genética, onde o código genético de um organismo é alterado para modificar o corpo desse organismo. Embora seja possível identificar e manipular genes individuais, nossa compreensão ainda é muito limitada de como um ser humano completo emerge do código genético. Como tal, não sabemos o grau em que podemos realmente programar o código para projetar tudo aquilo que desejamos.

A robótica suave – robôs suaves

A robótica suave busca uma interação sensível e intuitiva com o robô. Esta interação pode ser alcançada através de, primeiro, estruturas orgânicas e suaves e, segundo, através de componentes altamente inteligentes como sensores ou algoritmos programados.

Essa robótica, inspirada na biologia, utiliza estruturas suaves e orgânicas que imitam os movimentos da natureza em vez de utilizar movimentos rígidos e inflexíveis. Na última década, pesquisadores têm feito esforços consideráveis ​​para tornar os robôs macios, dobráveis ​​e flexíveis.

Esta tecnologia é inspirada pelo fato de que 90% do corpo humano é feito de substâncias suaves como a pele, cabelos e tecidos. A maioria das funções fundamentais em nosso corpo depende de partes suaves que podem mudar de forma, como o coração e os pulmões bombeando fluido em nosso corpo. As células também mudam de forma para desencadear a divisão, a regeneração e, finalmente, a evolução do corpo humano.

A suavidade de nossos corpos é a origem de todas as suas funcionalidades que são necessárias para nos manter vivos. Então, talvez a capacidade de construir máquinas suaves, nos aproximaria do mundo robótico de Blade Runner. Corações artificiais feitos de materiais funcionais suaves são um exemplo dos avanços tecnológicos recentes. Da mesma forma, a “eletrônica epidérmica” nos permitiu tatuar circuitos eletrônicos em nossos corpos.

Suavidade seria então a palavra-chave: os sensores, os motores e os computadores seriam integrados aos nossos corpos uma vez que tornaram-se macios, diminuindo a fronteira entre os humanos e os dispositivos externos, da mesma forma como as lentes de contato macias se tornaram parte de nossos olhos.

No entanto, o desafio mais difícil é fazer com que partes individuais de um robusto robô possam se auto regenerar, crescer e se diferenciar. Afinal, cada parte de um organismo vivo também está viva em sistemas biológicos, a fim de tornar nossos corpos totalmente adaptáveis ​​e evolutivos.

É impossível prever quando o mundo robótico de Blade Runner pode se tornar realidade. Mas, para Fumiya, a revolução robótica pode ser um caminho para construir máquinas que sejam indistinguíveis dos seres humanos.

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