Imagine um contador de células sanguíneas que não precisa de sangue. E ainda, a contagem possa ser realizada pelo próprio paciente, em casa, e diariamente se for preciso.

Pacientes que estão fazendo quimioterapia precisam monitorar com frequência a contagem dos glóbulos brancos no sangue. Esse controle é crucial.

Isso porque alguns tipos de quimioterapia podem levar à supressão do sistema imunológico, com um declínio no nível de glóbulos brancos do sangue, podendo dar origem a infecções e outras complicações sérias. Por esse motivo, os pacientes precisam fazer regularmente exames de sangue.

Porém agora, está sendo desenvolvida uma alternativa mais prática e não invasiva para monitorar os glóbulos brancos, usando tecnologia óptica, através da pele, e em tempo real.

Uma equipe formada por cientistas da Universidade de Boston, da Universidade Politécnica de Madrid e do Spanish National Cancer Research Centre (CNIO) desenvolveu um novo dispositivo que pode simplesmente ser encostado na ponta do dedo para ajudar os médicos a prescreverem tratamentos mais personalizados e oportunos.

A maior vantagem desse novo dispositivo – chamado de Leukometer – em comparação ao atual método de coleta de sangue é a rapidez da visualização do resultado.

Se houver uma queda nos níveis dos glóbulos brancos, e a contagem puder ser feita logo no início, os médicos poderão prescrever mais rapidamente a medicação para restabelecer os níveis seguros e permitir que o corpo combata melhor as infecções. Além disso, quando um paciente está se recuperando da imunossupressão, mais rápido do que o esperado, a medicação pode ser ajustada para reduzir o tempo total de recuperação.

A equipe de cientistas explica que alguns pacientes com câncer podem tolerar uma maior frequência de sessões de quimioterapia do que costumam ter, e assim, elevar o potencial para melhores resultados do tratamento. Foi essa uma das razões que levou a equipe a desenvolver um exame de sangue diário que indicasse quando os pacientes já estariam prontos para a próxima sessão, acelerando a programação inicial.

Isso tem um potencial transformador na gestão da quimioterapia feita pelos médicos.

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Como funciona

O Leukometer funciona de forma semelhante a um oxímetro de pulso, um dispositivo que mede os níveis de oxigênio no sangue, de forma não invasiva, utilizando um sensor que contém duas fontes de luz que são absorvidas pela hemoglobina e transmitidas através dos tecidos a um fotodetector. A quantidade de luz transmitida através do tecido é então convertida para um valor digital que representa a percentagem de hemoglobina saturada com oxigênio.

De forma semelhante, o Leukometer com uma matriz de LEDs e uma pequena lente, projeta luz e reúne as imagens de capilares logo abaixo da superfície. Como a luz, em determinadas frequências, é absorvida pela hemoglobina do sangue (a proteína que transporta o oxigênio pelo corpo), e não pelas células brancas, elas aparecem como pequenas partículas transparentes se deslocando através da capilaridade.

O dispositivo usa então algoritmos para analisar essas imagens e dar uma estimativa da concentração de glóbulos brancos no sangue.

Isso resulta em um dispositivo fácil de usar, portátil, que permite que os pacientes monitorem suas próprias contagens de glóbulos brancos em casa, ou em qualquer lugar que quiserem. Essa portabilidade poder ser um atributo muito valioso em áreas rurais ou em países em desenvolvimento.

Carlos Castro-González, engenheiro biomédico no MIT e membro da equipe de pesquisa, também afirma que é possível realizar as medições de forma contínua, abrindo opções de tratamento que anteriormente não eram possíveis.

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Carlos Castro-González apresentando o estudo na 2014 M+Vision Biomedical Innovation Conference em Madrid (site: Leuko)

 

Castro e sua equipe desenvolveram três protótipos para o Leukometer. O primeiro, um microscópio portátil que é colocado na ponta do dedo do paciente. O segundo teve melhorias no microscópio, o que resulta em melhor qualidade de imagem, enquanto o terceiro funciona com uma câmera de telefone celular e envia imagens para um servidor para análises.

O projeto concluiu sua fase de testes e está agora entrando em seu primeiro teste clínico. Até dezembro de 2015, os três protótipos terão completado várias rodadas de testes clínicos e de revisão de projeto.

Os pesquisadores esperam que o produto beta esteja disponível em 2017. Se conseguirem captar recursos suficientes, o produto estará disponível para o mercado em 2019.

 

Fonte: Leuko/MIT

 

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