Introvertidos são mal compreendidos e confundidos como antissociais ou tímidos. Mas são apenas socialmente diversos. Na realidade, cada um de nós – introvertidos ou extrovertidos – tem uma necessidade diferente de conexão social.
Muitas vezes, o que os introvertidos querem é ficar em paz. São pessoas reservadas, observadoras, que curtem ficar sozinhas. Direcionam as suas energias para o mundo interior, segundo Carl Jung.
Já escrevi um artigo sobre a preferência dos introvertidos ao trabalho remoto. Sua personalidade não se encaixa em um formato aberto, vibrante e com muitas pessoas ao redor. Os extrovertidos nem sempre entendem essa perspectiva.
Senti vontade de abordar novamente sobre eles (me incluo também) quando li o novo artigo de Catherine Pearson, no The New York Times. Ela traz alguns recortes de visões de especialistas que estudam a introversão – todos eles também introvertidos – que concordo muito e que já uso como estratégias. Vou reproduzi-los nesse texto.
Como pensadora de futuros melhores, incluindo o futuro do trabalho, é preciso desfazer estigmas e equívocos.
Uma das percepções equivocadas é pensar que alguém que prefere levar uma vida mais isolada é antissocial. Ao contrário do que se pensa, antissocial não é quem prefere ficar em casa no sábado à noite. O antissocial não prefere ficar sozinho. Ele se entrosa na sociedade desconsiderando e violando os direitos dos outros.
Os introvertidos avaliam muito bem “com quem” e “como” querem direcionar sua energia e seu tempo. Conversar superficialidades em uma festa ou em uma grande roda de pessoas que pouco conhecem pode lhes deixar desconfortáveis, sugar suas energias. Por outro lado, pode ser energizante estar com duas ou três pessoas com quem sentem conexão naquele momento.
Não é que os introvertidos não queiram ou não precisem do convívio social. É só uma questão de “quando” e em qual “intensidade”.
Embora haja vários estudos que mostram que pessoas com fortes laços sociais e convívio social têm menos estresse e uma vida mais longa, esse estudo observou que os laços não precisam ser fortes: existe força nas conexões mais fracas. Podemos ter diferentes graus de amizade – com nossos vizinhos, colegas de trabalho ou conhecidos casuais. Todos eles, de alguma forma, podem nos energizar positivamente.
Duas abordagens aprovadas por introvertidos
“Sair da toca” não é só uma questão de “sair da zona de conforto”. Os muitos conselhos sobre como fazer amigos na idade adulta não ressoam com os introvertidos. Pessoas próximas podem dizer: “O que custa dar apenas uma saidinha?” e tudo que queremos responder é “Não, obrigada.”
Susan Cain, autora de O poder dos quietos: Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar, por exemplo, quando é aconselhada a se expor mais, aí é que ela se fecha.
Como citei no início desse artigo, Catherine Pearson perguntou a especialistas que estudam a introversão sobre o que introvertidos querem e precisam. E como eles podem fazer novos amigos sem lhes trazer conflitos ou exaustão.
Não há uma definição fechada do que é introversão. Laurie Helgoe, professora clínica da Augsburg University e autora de Introvert Power: Why Your Inner Life Is Your Hidden Strength (O Poder da Introversão: Por Que Sua Vida Interior é Sua Força Oculta, em tradução livre) define assim:
“Se você me perguntar como anda meu dia, vou fazer uma pausa, observar como me sinto, analisar meu dia e só depois formulo uma resposta. Meu marido, o extrovertido, vai dizer a primeira coisa que vem à cabeça para fluir a conversa, porque sua orientação é para a interação.”
Marisa Franco, autora de Platônico: como a ciência do apego pode ajudá-lo a fazer – e manter – amigos, define a introversão pela forma como alguém responde aos estímulos sociais:
“A principal característica da introversão é que o gasto de energia é maior e acontece mais rápido durante as interações sociais e eles precisam de mais tempo para se recuperar.”
Enquanto os introvertidos tendem a fazer amigos de forma mais gradual, os extrovertidos são mais propensos a fazer amigos de primeira. Considerando essa forma mais calma de fazer amigos, Kasley Killam, cientista social e fundadora da Social Health Labs, organização sem fins lucrativos que cria soluções para o isolamento e a solidão, considera saudável interagir com pessoas pouco conhecidas ou mesmo estranhas:
“Interações casuais nos fazem bem. Muitos introvertidos que conheço, inclusive eu, adoram ir à cafés para trabalhar ou ler um livro, porque é uma maneira de estar perto de outras pessoas e sentirem-se conectados à comunidade. Faz bem conversar com a atendente ou com a pessoa ao lado.”
Felizmente, especialistas garantem que a pessoa introvertida não precisa sair por aí para arranjar amizades ou estreitá-las. Algumas estratégias ajudam muito. Vamos falar de duas!
1-Tome a iniciativa para marcar encontros
Introvertidos estão sempre tendo que conciliar a necessidade de aceitar convites com a vontade de dizer não ou de cancelar esses encontros. O desejo de ficar só é real!
Por isso, eles não gostam de combinar nada em tempo real, ali de bate-pronto, segundo Laurie Helgoe. A comunicação assíncrona é a preferida, pois dá tempo de refletir com calma se vale a pena embarcar no programa ou sugerir outra data. Ou seja, você recebe a mensagem pelo whatsapp, lê ou escuta, pensa, e só depois responde.
Por essa razão, tomar a iniciativa é uma boa estratégia. Significa que você pode sugerir o programa ou a atividade que se encaixa ao seu jeito e estilo de se socializar. E essa habilidade de dar o primeiro passo para combinar ou planejar algo, “pode ser aprendida”, esclarece Marisa.
Quando é você quem toma a iniciativa de marcar o encontro, também fica mais à vontade pra cancelar ou adiar.
2-Procure pessoas que deixam você confortável & lugares também confortáveis
Introvertidos adoram suas zonas de conforto e preferem passar o tempo com pessoas que os deixem “confortáveis”. Se você sente constrangimento quando está com um amigo e, em alguns momentos, ficam sem assunto, é porque não existe muito conforto nessa relação. Quando as pessoas nos deixam confortáveis, não há necessidade de conversar o tempo todo. O silêncio não é motivo de desconforto para nenhum dos lados.
Uma maneira fácil de saber se uma pessoa te deixa “confortável” é prestar atenção em como você se sente depois de passar um tempo com ela. “Um introvertido quando está com alguém que o deixa confortável, passa horas a fio e não se sente esgotado”, diz Kasley.
“Em vez de sugerir ao introvertido que saia da sua zona de conforto, melhor sugerir que procure amigos que se encaixem em seu ritmo e interesses”, recomenda Laurie. “Qualquer atividade tem pontos em comum e tendem a ser mais agradáveis (como por exemplo, uma caminhada) para os introvertidos do que participar de eventos sociais que dependem de conversas”, compara.
Marisa destaca uma característica valiosa dos introvertidos: como são bons ouvintes, eles têm uma habilidade natural de fazer as pessoas se abrirem.” Uma pesquisa chamou esse grupo de “Openers” (ou pessoas “abridoras”) e mostra que elas tendem a sentir maior conexão social quando têm conversas mais íntimas ou profundas, comparadas aos extrovertidos.
Introvertidos preferem muito mais criar laços fortes com um pequeno grupo de amigos. “Pra mim, ter uma conversa profunda e significativa é muito mais importante. Adoro longos jantares com meus poucos amigos. São nutritivos para minha alma”, admite Kasley.
Penso eu que o ponto principal seria não deixar que a introversão seja um impedimento para a vida pessoal ou profissional gerando desconforto. É pensar na introversão como um estilo diferente de conexão.
E já que os introvertidos têm habilidades maiores de escuta e empatia, usar isso a favor, para tornar as conexões mais verdadeiras.
Ser uma boa amiga e um bom amigo significa oferecer o seu apoio em momentos de necessidade e aceitar e apreciar a pessoa do jeito que ela é. Apenas lembre-se: às vezes menos é melhor do que mais.
Ilustração: ISTOCK
Lilia, me identifiquei muito com seu texto. Também sou introvertida e valorizo muito meus poucos amigos com os quais tenho conversas profundas. Ao mesmo tempo, ao viajar, tenho descoberto como criar conexão com novas pessoas, algo que antes de fazer a mala eu estava com receio. Seu texto me fez lembrar que pessoas introvertidas tem apenas uma maneira diferente de se conectar, mas que conseguem sim fazer (e principalmente manter) boas amizades.
Enfim alguém que me entende! Me definiu em tudo!!!
Introvertido!!!
Sim! Isto mesmo!
Sim! Isto mesmo!
Adorei o artigo e tudo o que eu tinha lido sobre os introvertidos era Susan Cain! Vou buscar as outras referências e pesquisas e já aproveito para deixar a sugestão de abordar como os introvertidos podem fazer melhores conexões e networking especialmente pensando em trabalho. Os eventos e “troca de cartões “ sempre foram um suplício!
Eu achava que eu era tímida até encontrar artigos bons e explicativos como esse, hoje eu entendo que sou introvertida e não há nada de errado com isso.
Confesso que fiquei um pouco decepcionada com as sugestões, pois o texto fala o tempo todo de aproveitar os benefícios da personalidade introvertida, mas as sugestões são pra nos adequar ao estilo extrovertido.
Ao ler o texto, fiquei um pouco incomodada com a seguinte afirmação: “E já que os introvertidos têm habilidades maiores de escuta e empatia, usar isso a favor, para tornar as conexões mais verdadeiras.”
Pois, eu sou uma pessoa extrovertida e sempre recebi comentários da parte dos meus melhores amigos e pessoas que recém conheci de que, sou uma boa ouvinte, que eles se sentem acolhidos e conseguem se abrir comigo e até encontrar boas soluções para os problemas que eles contam para mim.
E ao ler essa afirmação, senti como se isso não fosse características dos extrovertidos.
É apenas uma observação, desejo que você leitor e autora possam compreender esse incômodo.
Como foi importante pra mim ter contato com este texto agora.
Fez muito sentido pra mim que a introversão é só uma forma diferente de se conectar e não uma recusa á conexão.
Como me nutro com encontros que me fazem se sentir à vontade e como me suga os encontros superficiais.