Essa semana a computação cognitiva teve um marco.
Cientistas da IBM divulgaram que conseguiram criar neurônios e sinapses artificiais usando memórias de mudança de fase (PCM, na sigla em inglês) que imita a capacidade cognitiva de aprendizado de nosso cérebro.
Essa é a primeira vez que pesquisadores conseguem “neurônios spiking” usando matérias que mudam de fase para armazenar e processar dados.
Por isso, essa descoberta é um marco no desenvolvimento de energia e redes neurais densas que podem melhorar significativamente os processadores de hoje a uma taxa incrivelmente rápida.
Isso é só o começo…
A “Era dos Ems” começou. (Crédito: Turing Church)
Espera-se que dentro dos próximos 100 anos, já tenhamos desenvolvido tecnologia que emule cérebros em computadores. Essas emulações são chamadas de ‘Ems’ e são “imitações” super-detalhadas do cérebro humano.
É disso que trata o novo livro do economista Robin Hanson “The Age of Em: Work, Love and Life when Robots Rule the Earth” que se passa em um futuro quando os robôs farão parte do nosso cotidiano.
Hanson, o autor, é professor de economia na George Mason e pesquisador na Universidade de Oxford, com doutorado em Ciências Sociais pela CalTech e nove anos de experiência em pesquisa sobre AI na Lockheed Martin e na NASA.
Vantagem competitiva
Já imaginou digitalizar e duplicar o cérebro de um Stephen Hawking para trabalhar na sua empresa? Isso pode ser tentador.
Pois no livro, a vantagem competitiva dos ‘ems’ é que eles conseguirão processar as coisas 1.000 vezes mais rápido do que um cérebro humano real. Também poderão ser copiados, e uma vez que o próprio ser humano descubra como criá-los e replicá-los de forma barata, eles poderão assumir a maior parte dos trabalhos humanos.
O momento em que isso acontecerá pode coincidir com a famosa singularidade proposta pelo futurista Ray Kurzweil. Hanson prevê que acontecerá antes da ´AI consciente´, já que os ‘ems’ serão recriações de cérebros em vez de “consciências do cérebro” que são mais difíceis de criar.
Como vamos criar os ‘ems’?
Os ‘ems’ irão advir da culminação da tecnologia já empregada, como por exemplo, varreduras do cérebro. O livro explica que é como se um dia o ser humano soubesse tudo o que há para saber sobre o cérebro e sejamos capazes de criar computadores que possam imitá-lo:
“O ‘em’ será um cérebro humano com suas características celulares e suas conexões escaneadas e gravadas nele. Então, será construído em um modelo computacional que processa os sinais de acordo com essas mesmas características e conexões. Podemos conversar com ele, e convencê-lo a fazer trabalhos úteis.”
“Uma vez que isso aconteça, os ‘ems’ serão basicamente mais rentáveis em qualquer tipo de trabalho” disse Hanson, em uma entrevista na Business Insider.
Acaba a Era Industrial e começa a Era do Em
As emulações vão realizar a maior parte das tarefas em realidade virtual, e em trabalhos físicos, com “órgãos” especializados e irão se desenvolver e viver com os seres humanos.
Porém, uma vez que os ‘ems’ poderão assumir a maioria dos postos de trabalho (empresas e governo), nós humanos teremos de criar uma nova civilização.
Uma nova civilização de humanos e ‘ems’. (Crédito: Eugene Sergeev / Shutterstock)
No início Hanson imagina ‘ems’ aglomerados em algumas grandes cidades repletas de tecnologias e que propiciem mais liberdade para que possam fazer as coisas de forma diferente. Já os seres humanos irão viver em lugares mais tranquilos.
A maior parte das pessoas não irá trabalhar, especialmente se conseguirem fazer bons investimentos ou tiverem algum seguro corporativo. Alguns irão se beneficiar financeiramente por permitirem que seus cérebros fossem escaneados para criar ‘ems’. Curiosamente, o descendente desse original humano ou “cópia”, será chamado de “clan“.
E o futuro?
Apesar de tudo, Hanson não vislumbra um futuro sombrio. A Era do Em virá, mas acabará sendo substituída por algo talvez ainda mais estranho (ele não diz o que seria).
Do ponto de vista humano, essa Era será o resultado final da nossa atual trajetória, que é maior parte tem sido positiva:
“As pessoas têm visto tendências consistentes, no sentido de mais democracia, menos escravidão, mais lazer. Em outras palavras, o mundo está ficando melhor. Sempre haverá pessoas dizendo o contrário, que o mundo está cada vez pior. Objetivamente, isso é menos verdade hoje.”
Hanson não imagina um cenário como a do “exterminador do futuro”. Em vez disso, ele vê ‘ems’ se comportando mais como corporações gigantes que expandem-se rápido dentro de meios legais.
Nós, do O Futuro das Coisas, ainda não lemos o livro de Hanson, mas pelo que pudemos apurar ele entra profundamente em como “nossos sucessores” vão trabalhar, amar e viver. No entanto, o livro é superficial em abordar o que poderia acontecer aos seres humanos.
Ainda na entrevista que Hanson deu à Business Insider, o conselho que ele dá aos jovens é que estejam prontos:
“O conselho é simples. A maior parte do que eu estou falando não vai acontecer tão cedo, mas quando acontecer, vai acontecer muito rápido.”
Na verdade, isso tudo mais parece u roteiro de uma ficção hollywoodiana já bem batida.
Se tomarmos por base o livro de Aldous Huxley “Admirável mundo novo” que vislumbra uma sociedade condicionada pela informação, temos uma realidade bem próxima em termos subjetivos, porém, a produção de seres humanos, andróides ou robôs tal como a descrição acima nem a ficção de qualidade superior consegue imaginar e se aproximar da realidade do que, de fato, vai acontecer.
Sempre sonhamos com uma sociedade do futuro sob diversos aspectos, porém, nossa maldade, perversidade, limitação moral, etc, é tamanha, que continuamos os mesmos que lascavam ou poliam pedras para construir as ferramentas utilizadas não apenas para caçar o básico para subsistência, mas também para atentar contra a vida do outro. Essa nossa característica, ao que parece, nunca vai mudar, independente das tecnologias que desenvolvemos para nos “facilitar a vida”.