Biomimética e Biofilia. Dois termos fáceis de misturar, pois são semelhantes em alguns aspectos. Ambos se relacionam com a natureza, mas têm objetivos diferentes. Compreender como eles diferem e quais problemas resolvem é a chave para entender a amplitude de soluções que a natureza tem a oferecer – de projetos sustentáveis ​​e inovadores à melhoria da saúde e bem-estar humano.

Então qual a diferença?

Podemos entender a biomimética como a “imitação”, ou mais precisamente, a emulação da engenharia da vida. Por outro lado, a biofilia descreve a conexão dos seres humanos com a natureza e o Biophilic Design (design biofílico) replica experiências da natureza no design para reforçar essa conexão. A biomimética é um método de inovação que busca obter melhor desempenho; O design biofílico é um método de design baseado em evidências para melhorar a saúde e o bem-estar. A biomimética é mais usada nos círculos de tecnologia e de desenvolvimento de produtos; A biofilia se aplica mais diretamente ao design de interiores, à arquitetura e ao design urbano.

Essencialmente, esses dois conceitos se baseiam na natureza, mas de maneiras diferentes. A biomimética reconhece o potencial de inovação das “tecnologias da vida” já testadas. A biofilia reconhece os benefícios da conexão da humanidade com a natureza. Juntos, eles mostram a diversidade de inspirações que podem derivar da natureza.

Ambientes hospitalares são estressantes, desde o cheiro à decoração monótona e aos sons metálicos de equipamentos médicos. Não é o cenário mais reconfortante para pacientes e visitantes. No Hospital Khoo Teck Puat, em Singapura, mais de 700 espécies nativas de plantas e árvores perfumadas foram integradas à estrutura e aos arredores do hospital. (Fonte: Good News Network)

Biomimética é a emulação consciente de formas, padrões e processos naturais para solucionar desafios tecnológicos, tirando proveito dos 4 bilhões de anos de soluções evolutivas da natureza para criar projetos e tecnologias de alto desempenho e geralmente mais sustentáveis. É, em essência, um método alternativo para inovar, onde o primeiro passo é entender como a natureza supera desafios semelhantes aos desafios de projeto ou engenharia encontrados e aplicar esse conhecimento.

Biomimética é um dos termos – assim como biomorfismo e bioutilização – que se enquadram no que se chama de inovação bioinspirada. A biomimética e outras formas de inovação bioinspirada podem ser usadas para enfrentar desafios em muitas escalas e entre indústrias (veja esse infográfico interativo que explora mais de 100 tecnologias bioinspiradas).

A biofilia – que se traduz em “amor à vida”, significando a necessidade biológica e emocional inata dos humanos de se conectar com a natureza – está ganhando interesse crescente da comunidade de designers. Um projeto biofílico se esforça para forjar essa conexão, aproveitando ou inserindo instâncias da natureza, padrões naturais ou condições espaciais no ambiente construído. Pesquisas em psicologia ambiental e neurociência demonstram que certos elementos e condições da natureza têm benefícios significativos para a nossa saúde e bem-estar. Elementos biofílicos podem reduzir o estresse, melhorar o desempenho cognitivo e estimular emoções positivas. O design biofílico aplica a ciência para criar espaços saudáveis ​​em uma variedade de ambientes, desde escolas, a escritórios, hotéis e paisagens urbanas.

Entretanto, especialistas recomendam que os projetos deem ênfase em um habitat e NÃO em uma ocorrência isolada da natureza. Habitats compostos por elementos desconectados ou simplesmente inserir um item da natureza que esteja em desacordo com outras características mais dominantes do cenário, exerce impacto pouco positivo na saúde e no desempenho das pessoas que ocupam esses espaços. Como é algo complicado trazer “uma floresta” para um ambiente fechado, a Terrapin sugere 14 padrões de design biofílico para criar a natureza nos espaços. Cada padrão refere-se a um elemento natural específico que tem benefícios comprovados à saúde. Alguns padrões são intuitivos, como a Conexão Visual com a Natureza (Visual Connection with Nature), que pode ser alcançada com plantas ou água. Outros são menos óbvios, como o Prospect, que se refere a condições espaciais nas quais se pode observar um espaço ou ter uma visão mais ampla. O escritório da Cookfox é um ótimo exemplo de espaço que contempla os dois padrões.

Landesgartenschau Exhibition Hall 2014 © ICD/ITKE/IIGS University of Stuttgart

Mesmo com essa diferenciação e comparação acima, é possível ainda argumentar que a diferença entre biomimética e biofilia nem sempre fica clara. Biomimética e biofilia se sobrepõem. Mais comumente, biomimética e design biofílico se reúnem no biomorfismo, ou na imitação de formas naturais. Veja, por exemplo, o impressionante Landesgartenschau Exhibition Hall, criado por Achim Menges, na ICD Universität Stuttgart, que deriva sua forma da morfologia do ouriço do mar. Certamente é biomimético porque suas características estruturais foram inspiradas no ouriço do mar. Mas também é biofílico porque possui características do Padrão 8: Formas e padrões biomórficos, da Terrapin.

No entanto, nem todos os desenhos biomórficos são necessariamente biomiméticos ou biofílicos. Se o design não aderir aos princípios biológicos que lhe conferem desempenho superior, não é considerado uma verdadeira biomimética. Da mesma forma, nem todas as formas biomórficas são biofílicas. Se uma forma biomórfica imita uma cobra ou uma aranha que são consideradas pelos humanos como perigosas, ela pode provocar uma resposta de medo – uma reação denominada “biofobia”.

Tais projetos não podem gerar benefícios positivos para a saúde e, portanto, não são considerados biofílicos. Em casos ambíguos, o que é considerado biomimética ou biofilia pode se tornar apenas uma questão de opinião. Por fim, o que realmente importa é se o design, a tecnologia ou o produto atingem os resultados desejados, como alto desempenho, sustentabilidade ou efeitos positivos para a saúde e o bem-estar. O uso dos termos biomimética e biofilia nos permite uma linguagem comum e metodologias aceitas que produzem consistentemente projetos eficazes.

Além de alguns resultados semelhantes, a biofilia e a biomimética também se baseiam em uma profunda apreciação da natureza. Cada conceito reconhece que a natureza nos fornece uma fonte inexplorada de soluções para os nossos problemas mais complexos e ameaçadores. Tecnologias biomiméticas podem fornecer soluções para reverter as mudanças climáticas por exemplo. O design biofílico age contra os efeitos adversos à saúde dos ambientes urbanos e da rápida urbanização.

Mais profundamente, esses conceitos representam uma reação coletiva contra os efeitos nocivos da era industrial e do nosso domínio sobre a natureza. A biomimética, a biofilia e outras ramificações do movimento de sustentabilidade e construção verde anunciam uma mudança de paradigma em nosso relacionamento com a natureza.

Começamos a perceber que nosso modo de vida atual é insustentável e que dependemos profundamente da saúde dos ecossistemas naturais e do planeta para sobreviver e prosperar. O sucesso da biomimética e da biofilia demonstra como trabalhar com a natureza pode ser o próximo passo para criarmos sistemas restauradores que nos ajudem a criar futuros desejáveis.

Fonte: Terrapin Bright Green

Cortesia da imagem da capa: Biomimicry 2016

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