A melatonina, um hormônio produzido naturalmente pelo corpo humano, também conhecido como hormônio do sono, pode ser um elemento-chave na prevenção da COVID-19 e na diminuição de sua gravidade. Inclusive, o presidente americano Donald Trump tomou melatonina como parte de seu tratamento quando esteve internado no Centro Médico Militar Water Reed para se recuperar da doença.

Em março, um estudo publicado na revista Cell Discovery já tinha sugerido que a melatonina – atrelada a alguns medicamentos – poderia ser a chave para regular a COVID-19 no corpo. Feixiong Cheng – autor do estudo – e sua equipe investigaram a estrutura do vírus, tentando descobrir como ele invade as células humanas e teorizaram que o vírus poderia ser bloqueado pela melatonina.

Cheng descobriu depois que outros pesquisadores desenvolveram teorias semelhantes e ouviu de outros cientistas que poderia haver algo a mais. Todos notaram que, além dos efeitos da melatonina no sono, esse hormonio desempenha um papel crítico na calibração do sistema imunológico. Seu papel moderador pode proteger o corpo de colapsar quando exposto a doenças.

Outro estudo divulgado em outubro por pesquisadores da Columbia University mostrou que pacientes intubados, quando tratados com melatonina, tiveram maiores taxas de sobrevivência à COVID-19. Um estudo, publicado em novembro no PLOS Biology, examinou mais de perto a teoria. Pessoas que tomaram melatonina pareciam ter chances significativamente menores de desenvolver a doença. Foi então que outros pesquisadores começaram a notar um padrão. No momento, existem oito ensaios clínicos que estão sendo realizados para determinar se a relação entre a melatonina e o novo coronavírus de fato se confirma. Se for comprovada que é benéfica, já estaria amplamente disponível como um suplemento de venda livre, e as pessoas poderiam começar a tomá-la o mais rápido possível.

Cheng acredita que a melatonina provavelmente não tem um efeito direto sobre o vírus, mas acredita que a maneira como melhora nosso sono por meio do sistema nervoso pode desempenhar um papel na modulação da doença. Mas, como qualquer substância capaz de desacelerar o sistema nervoso central, seu aparente benefício para pacientes com COVID-19 poderia ser simplesmente um sinal alertando para outra coisa que está realmente melhorando a recuperação dos doentes: o sono. ⁠

De acordo com o The Atlantic, cerca de 75% das pessoas no Reino Unido relataram mudanças em seus padrões de sono durante a pandemia. Mas embora a natural ansiedade em relação à pandemia possa explicar a insônia, especialistas britânicos observaram que pacientes com COVID-19 tiveram um aumento de insônia e relataram sintomas como névoa cerebral, dores de cabeça e fraqueza muscular, mesmo após a infecção.

⁠“Estamos recebendo referências de médicos de que a própria doença afeta o sistema nervoso”, diz Rachel Salas, neurologista da Universidade Johns Hopkins, que estuda a relação entre COVID-19 e insônia. Salas teme que a insônia possa atormentar durante anos aqueles que se recuperaram da doença.

Especialistas acreditam que se a insônia perdurar a longo prazo possa ser devido à inflamação que desencadearia uma série de sintomas neurológicos, como a síndrome da fadiga crônica (SFC). Inclusive, uma das ferramentas cruciais no combate à SFC é o sono. Para quebrar o ciclo vicioso da insônia e outros problemas neurológicos causados ​​por inflamação pós-infecciosa, pesquisadores acreditam que a melatonina possa ser útil.

Russell J. Reiter, Ph.D., da University of Texas Health, publicou centenas de artigos científicos sobre a melatonina e é considerado um dos maiores especialistas nos Estados Unidos desse suplemento. Ele está convencido de que deveria ser uma prática padrão utilizar a melatonina para tratar pacientes com COVID-19. Em maio passado, Reiter publicou uma recomendação para que a melatonina fosse imediatamente administrada terapeuticamente a todas as pessoas com COVID-19.

Na verdade, há mistérios de como o novo coronavírus funciona convergindo para a questão de como a doença afeta nosso sono e como nosso sono afeta a doença. O vírus é capaz de alterar processos delicados do nosso sistema nervoso, em muitos casos de formas imprevisíveis, às vezes criando sintomas que podem perdurar durante muito tempo. Avaliar melhor a relação entre imunidade e o sistema nervoso pode ser fundamental para compreender a COVID-19 – e preveni-la.

Fontes principais: The Atlantic e News Medical.

Ilustração: Molly Fairhurst

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Lilia Porto

Economista, fundadora e CEO do O Futuro das Coisas. Como pensadora e estudiosa de futuros tem contribuído para acelerar os próximos passos para organizações e para uma sociedade mais justa e equitativa.

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