A Indústria 4.0, ou de forma mais ampla, a 4a Revolução industrial, tem sido um tema de crescente interesse entre todos os setores, aparentemente em grande parte devido às dúvidas sobre o seu real significado no cotidiano das pessoas e das empresas.

Seus efeitos – ainda não muito claros – provocam grande entusiasmo quanto ao desenvolvimento tecnológico, mas também grande preocupação quanto aos impactos no emprego global.

Aqui, neste artigo, procuro contextualizar o momento em que estamos e quais as expectativas para o futuro, numa tentativa de clarificar o tema.

Um Case

Recentemente, a Adidas, gigante alemã de produtos esportivos, anunciou a ampliação de seu modelo de fábrica chamado Speedfactory.

Essa concepção de fábrica de alta produtividade teve início com a construção da primeira unidade Speedfactory em Ansbach, na Alemanha, no início desse ano.

Nesse primeiro momento, o projeto piloto da Adidas está produzindo em pequena, e ainda não há definição quanto aos passos seguintes.  A planta é 100% robotizada em sua linha de produção, contando com apenas dez profissionais altamente qualificados.

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Unidade da Adidas Speedfactory em Ansbach, na Alemanha. (Cortesia: Fast Company)

Em agosto, a empresa anunciou sua segunda planta, localizada em Atlanta, EUA, com início das operações em 2017. Essa unidade americana irá produzir no próximo ano 50 mil pares de tênis de corrida com o apoio de 160 profissionais. Essa produção é uma pequena fração, comparada aos 301 milhões de pares produzidos pela marca em 2015.

A expectativa da Adidas é que essas duas unidades da Speedfactory produzam cerca de meio milhão de pares em médio prazo.

Como há uma tendência para a implantação de novas Speedfactory em outros grandes centros, esta forma de produção tornar-se-á predominante. Inclusive, esse movimento de aproximar a produção dos grandes centros consumidores, como Américas e Europa, vai se confirmando como grande tendência.

Outra vantagem promovida pela proximidade física de uma planta com os mercados consumidores é o impacto nos custos de distribuição e estoque.

Dentre os principais fatores para essa mudança, está o crescente custo de mão de obra em países como China e região do sudeste asiático, onde se localiza a maioria das fabricas das empresas multinacionais, e problemas de cunho ético, como o trabalho infantil.

Em um recente relatório, a consultoria BI Intelligence destacou os seguintes pontos:

– Expectativa de triplicar o número de robôs nas indústrias entre 2015 – 2021.

– O setor industrial continuará sendo líder em adotar robôs. Uma pesquisa recente da Boston Consulting Group (BCG) aponta que 44% das empresas americanas e 66% das alemãs pretendem adotar robôs autônomos em suas plantas nos próximos cinco anos.

– O aumento global dos salários é apenas um dos principais motivos da adoção de robôs.

– Robôs têm o potencial para substituir empregos, assumido as funções mais repetitivas e de força, além de novas funções, desenvolvidas especialmente para esse tipo de execução.

O gráfico abaixo mostra a estimativa de venda de robôs para as indústrias:

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Um exemplo recente do impacto da automação de fábricas foi a divulgação, no início deste ano, da gigante industrial Foxconn sobre a demissão de 60 mil funcionários em uma única fábrica onde os robôs assumiram a produção.

Indústria 4.0 e 4ª Revolução Industrial

Quando combinamos todas essas tendências de automação, estamos nos referindo principalmente a tecnologias como robótica, inteligência artificial, manufatura aditiva (impressão 3D), sensores (IoT), e outros.

Em um processo que avança cada vez mais, a substituição da mão de obra humana com o desenvolvimento das indústrias 4.0, será o principal elemento de uma 4ª revolução industrial.

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Gráfico inspirado no Boston Consulting Group discussion on industry 4.0

Não é difícil imaginar todo o ganho de produtividade e, consequentemente, os benefícios para os consumidores. Podemos incluir nessa lista, os benefícios energéticos, ambientais e urbanos.

Entretanto, são exatamente os “pontos negativos” que despertam bastante incerteza. Acho que a primeira coisa que vem à cabeça de qualquer pessoa é: “E o desemprego?”.

Existe muita discussão sobre os impactos dessa revolução e muitas entidades e governos vêm dando bastante atenção ao tema, incluindo ONU, Fórum Econômico Mundial, OECD e outras.

Logicamente existem opiniões centrais e outras bem polarizadas sobre esses impactos. Alguns otimistas como o VP dos Estados Unidos, Joe Biden argumentam que a mão de obra vai ficar mais qualificada e com salários melhores ao assumir outras funções, inclusive em novos mercados. Do outro lado, existe quem teme mais pelo fato de não acreditar que os empregos perdidos possam ser recolocados na mesma proporção.

De fato, estamos iniciando uma etapa de grandes transformações, na qual a indústria e o trabalho de maneira geral são os principais elementos de definição desse paradigma social.

É muito importante que exista a consciência desse processo por parte de toda sociedade, para que as discussões levem a um entendimento e planejamento, assim reduzindo os impactos negativos.

Então, como nos anteciparmos aos problemas?

A resposta fácil é: educação.

Sem dúvida é consenso de que os empregos de maior qualificação estão mais protegidos.

Outro ponto é desenvolver habilidades mais difíceis de serem executadas pelas máquinas, como negociar, coordenar e realizar ações criativas.

Outra vantagem que temos sobre as máquinas é a nossa capacidade de empatia, que é fundamental em diversas profissões.

Acredito, por fim, que se trata de mais um momento de readaptação do homem aos novos tempos, com tudo o que eles trazem de inovação.

Fontes: hsf, Weforum, Fortune, Adidas

Flavio Liberal

Flavio Liberal é futurista, cientista de dados, empreendedor e co-fundador da Tesi Educação.

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