O modo como fazemos as coisas está mudando muito rápido. Estamos vivendo o “Maker Movement“, que é uma extensão mais tecnológica da cultura Faça-Você-Mesmo ou, em inglês, Do-It-Yourself (DIY).

Este “Movimento” tem como premissa que qualquer pessoa pode projetar, construir, consertar, modificar e fabricar os mais diversos tipos de objetos com suas próprias mãos, usando a sua própria impressora 3D e ou então utilizando FabLabs, que estão sendo criados em todo o mundo.

Uma das empresas que mais incentivam esse empoderamento das pessoas é a Autodesk, líder mundial em software de projeto 3D para entretenimento, manufatura e engenharia. Ela é a fabricante do AutoCAD, Maya, 3ds Max, Revit, entre outros.

Desde softwares para construção até sua presença em filmes de Hollywood, a Autodesk está ajudando a desencadear o que os especialistas estão chamando de ‘A Nova Revolução Industrial‘.

Conversamos com Paul Sullivan, que é Tech Trends Evangelist, para a América Latina, da Autodesk. Nessa entrevista ele falou sobre a “razão” de existir da empresa, sobre disrupturas, impressão 3D e 4D, o futuro dos empregos, a sua visão do Brasil e compartilha o seu sonho pessoal.

A versão original em Inglês dessa entrevista está AQUI.

Qual o propósito, o “porquê” da Autodesk?   

Há inúmeros desafios globais que enfrentamos no nosso mundo que vão desde o acesso aos cuidados com a saúde, passando pela melhoria das condições de vida, da educação da próxima geração, a densa urbanização, a escassez da água doce, a poluição e a pobreza.

A visão da Autodesk é ajudar as pessoas a imaginar, a projetar e a criar um mundo melhor. Essa clareza impulsiona a nossa empresa e todos os nossos colaboradores.

Por que criar um mundo melhor é o nosso “propósito”?  Porque é a coisa certa a fazer. Esta é a nossa oportunidade de demonstrar responsabilidade, de contribuir e de retribuir, de uma forma que esteja alinhada com os negócios da Autodesk e com os nossos valores. Nossos funcionários amam trabalhar para uma empresa verdadeiramente voltada em fazer a diferença no mundo, e não apenas vender produtos.

O CEO da Autodesk, Carl Bass, ao inaugurar o Pier 9, em San Francisco (EUA)

 

O que vocês estão fazendo para incentivar o “Maker Movement“, a extensão mais tecnológica da cultura “Faça-você-mesmo”?

A Autodesk tem impulsionado a criatividade numa escala massiva, quando coloca a tecnologia nas mãos de milhões de pessoas de forma que possam compartilhar suas ideias e transformá-las em realidade – de estudantes e amadores aos profissionais de cinema e de games.

A tecnologia 3D não é mais só uma curiosidade tecnológica nas mãos da elite. Acreditamos que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa projetar, desenvolver e fabricar os mais diversos objetos usando apenas um software e uma impressora 3D. Bilhões de pessoas que anteriormente não tinham acesso a esses mercados globais, ou ferramentas de produção estão agora conectadas e têm acesso, graças à proliferação de impressoras 3D, à tecnologia mobile e à nuvem.

O futuro de fazer as coisas – incluindo os meios de produção, os comportamentos dos consumidores e até mesmo a definição de um produto – está causando uma disruptura nos modelos antigos. Isto inclui novos métodos de crowdsourcing para levantar capital, novos métodos de produção, novas formas de compra, uma interpretação atualizada do que é um produto, da propriedade intelectual e das novas formas de compartilhar ideias.

Nós também criamos o workshop Autodesk Pier 9, em San Francisco, na Califórnia. É um espaço de 2.500 metros quadrados que oferece aos “makers” uma experiência de construir colocando a mão na massa e de também experimentar uma vasta gama de materiais, como madeira, metal e compósitos. No Pier 9, há impressoras 3D de qualidade, ao lado de um serviço completo de CNC (comando numérico computadorizado) e salas de madeira e aço no estado da arte. É lá onde a Spark, nossa plataforma de impressão 3D, e a impressora Ember, foram desenvolvidas.

O Pier 9 é um lugar onde a Autodesk faz e testa novos produtos. Idéias lá geradas podem rapidamente ser prototipadas e testadas. (Crédito: Blake Marvin)

 

Como a Autodesk pretende causar uma disruptura na manufatura com a inteligência e a impressão 3D?

A tecnologia disruptiva pode ser qualquer inovação que cria um novo mercado e interrompe um mercado já existente. Ela causa uma mudança radical para os negócios e para a sociedade na forma como as coisas são concebidas e realizadas. A Autodesk está na vanguarda dessa mudança.

Estamos vivenciando o início de uma nova revolução industrial na manufatura global, e isso está acelerando a adoção de métodos digitais como a fabricação de aditivos (por exemplo, CNC, impressão 3D) e criando conexões mais estreitas entre o design e os processos de fabricação, anteriormente separados. Avanços para tornar o design 3D acessível e também na tecnologia de fabricação estão causando uma disruptura nas profissões de design, construção, manufatura, engenharia e entretenimento, como nós as conhecemos hoje.

Há um tremendo potencial para tecnologias de manufatura aditivas que irão revolucionar a forma como projetamos e criamos coisas. A Autodesk vê uma oportunidade – e uma necessidade – em acelerar o ritmo das inovações na indústria de impressão 3D. Queremos ajudar a tornar a impressão 3D acessível a milhões de pessoas, e relevante para bilhões (em comparação ao total de 100 mil impressoras vendidas até o momento), diminuindo as barreiras existentes à entrada.

Para ajudar a tornar a impressão 3D mais acessível, a Autodesk desenvolveu a Spark, uma plataforma gratuita, com software aberto, para a impressão 3D, a qual conecta informações digitais de uma nova maneira. A plataforma Spark fornece os blocos de construção para que designers de produto, fabricantes de hardware, desenvolvedores de software e empresas de materiais possam usá-los para inovar e extrapolar os limites da tecnologia de impressão 3D, e assim, acelerar a nova revolução industrial.

Hardware totalmente integrado, software e materiais também serão elementos críticos para acelerar a inovação em impressão 3D. Nós também lançamos a Ember, uma impressora 3D que demonstra o poder da plataforma Spark e estabelece um marco em experiência do usuário na impressão 3D … De acordo com nossa filosofia de abertura, estamos fazendo com que fique mais fácil integrar novos materiais e deixando as informações do design dessa impressora disponíveis publicamente. A eletrônica e o firmware da Ember são de código aberto, e estão disponíveis para download, verificações, modificações e melhorias.

Também estamos trabalhando em algumas tecnologias algorítmicas, incrivelmente surpreendentes, que chamamos de design generativo. Nós precisamos parar de pensar nos computadores como simples ferramentas para desenhar e começar a pensar neles como portais para uma exploração mais ampla. O design generativo tem uma abordagem que imita a natureza: ele começa cumprindo os objetivos para, em seguida, explorar todas as melhores possíveis permutações de uma solução – através de sucessivas gerações – até que a melhor solução seja encontrada.

Um modelo vai tomando forma na máquina DMS 5-Axis, no Pier 9.  (Crédito: Blake Marvin)

 

O que as jovens empresas de tecnologia podem fazer para posicionarem-se na vanguarda da inovação e das disrupturas?

A Autodesk começou sendo uma disruptora. Então, hoje, muitas vezes eu vejo a empresa como uma cultivadora da criatividade – ajudando a capacitar e inspirar os outros a se tornarem disruptores inovativos. Ao derrubar os custos da tecnologia e democratizá-la para que todos tenham acesso – jovens empresas de tecnologia podem tornar-se verdadeiramente disruptoras.

Deixe-me dar apenas um exemplo em como estamos permitindo que jovens inventores causem disrupturas: engenheiros mecânicos e designers de produto podem agora usar o inovador Autodesk Fusion 360, que possui recursos de simulação que podem dramaticamente acelerar e melhorar o desenvolvimento de um produto. O Fusion 360 traz junto o CAD, CAM e CAE, na nuvem. É uma plataforma integrada, conectada e acessível, construída especialmente para atender as novas maneiras de projetar e fabricar produtos. Isso é uma virada de jogo.

Fusion 360

 

Como você acha que a indústria AEC (Arquitetura, Engenharia e Construção) irá se beneficiar com o boom 3D?

A indústria da construção é sem dúvida a indústria mais antiga do mundo. Ela também tem sido tradicionalmente, uma das mais retardatárias na adoção de tecnologias. Com a proliferação da impressão 3D, a indústria AEC pode começar a criar os modelos para edifícios, pontes e até mesmo cidades. Ela também pode utilizar isso para preparar os componentes de pré-fabricação que seriam difíceis de criar usando as ferramentas tradicionais.

Nós simplesmente não mais projetamos, nem fabricamos, construímos ou sequer imaginamos os produtos e o ambiente de construção exatamente da mesma maneira que costumávamos fazer. As empresas de construção estão funcionando mais como fábricas ao pré-fabricar e montar coisas como apartamentos, paredes e canalização.

Como novas tecnologias sendo adotadas, estamos começando a observar uma maior criatividade na indústria da arquitetura, da engenharia e da construção. Isso significa que eles estão usando a realidade virtual (como por exemplo, o Oculus Rift ou o HoloLens) para criar um edifício virtual e, em seguida, construí-lo de forma real. Isso significa adotar soluções de realidade aumentada com sensores, que permitam que os trabalhadores da construção vejam o que é real – mas escondidos atrás das paredes ou até mesmo no subsolo. Isso significa colocar sensores em estradas, rodovias, pontes para tornar o transporte e os edifícios mais inteligentes.

Robôs programados e drones irão gerenciar e supervisionar e, realmente construir edifícios. Eventualmente a impressão 3D vai se transformar em impressão 4D. Esta é a tecnologia que irá imprimir materiais inteligentes – que criam produtos e edifícios que podem gerenciar a si próprios e modificarem-se ao longo do tempo.

SHoP Architects (Autodesk)

 

Scanners, imagens, sensoriamento remotos, big data, tricorders… Qual será o futuro da medicina e dos cuidados com a saúde nos próximos 15 anos? 

A impressão em 3D de próteses e partes do corpo já acontece hoje. Algum dia, os órgãos serão impressos. Um dos eminentes cientistas da Autodesk afirmou que os vírus são os aplicativos do mundo biológico. Neste sentido, a tecnologia bio-nano irá permitir a cura para as doenças mais devastadoras. Assim, o desenvolvimento de projetos em escala nanométrica, incluindo modelagem molecular e de simulação, irá ajudar os biólogos moleculares.

A Autodesk está envolvida em educação. Vocês pretendem oferecer ensino gratuito?

Nós nos esforçamos para tornar a invenção e a criatividade acessíveis. Como as ideias são a moeda do século 21, estamos capacitando os alunos a cultivar a curiosidade e a re-imaginar como o nosso mundo pode parecer. A Autodesk oferece software para todos os alunos, todos os professores, educadores e mentores, em toda parte, gratuitamente. O aluno “médio” só precisa ir ao nosso site para ter acesso a este software.

Estamos abraçando o poder que a nuvem e as tecnologias sociais móveis estão trazendo para a sociedade.

Um exemplo deste novo empoderamento é a proliferação dos smartphones. Uma criança brasileira com um smartphone está andando por aí com um trilhão de dólares de poder computacional vindo desde 1970. E hoje existem mais de 7 bilhões de smartphones. Um smartphone de baixo custo e um software gratuito Autodesk possibilita que um usuário capture e imprima projetos em 3D! Pense no poder que está sendo liberado para esta próxima geração!

Em sua opinião, qual será o futuro dos empregos?

Não dá para usar ferramentas, ideias, modelos de negócios ou tecnologias de ontem para lidar com as mudanças que virão no futuro. Como resultado, haverá muitos empregos substituídos. O futuro de postos de trabalho será muito diferente do que é hoje.

Eu vejo várias carreiras emergindo, como a genômica, a biologia sintética, a medicina digital, a nanotecnologia, a inteligência artificial e a robótica. A indústria da construção está mudando à medida que começa a atuar mais como uma indústria transformadora; usando técnicas como a pré-fabricação. Haverá também mais empregos nas indústrias de manufatura aditiva e subtrativa. O automóvel do futuro (por exemplo, Tesla), será um computador sobre rodas. Veículos autônomos provavelmente poderão eliminar a necessidade de taxistas, e até mesmo a necessidade de possuirmos um carro.

Algumas décadas atrás, centenas de milhares de pessoas estavam empregadas para produzir o papel fotográfico e produtos químicos para o processamento do filme da câmera. Com o início das câmeras digitais, estes postos de trabalho já não eram necessários. Agora, com os smartphones, até mesmo as câmeras digitais não são mais necessárias.

Da mesma forma, trabalhos que são repetitivos, serão substituídos pela inteligência artificial (reconhecimento de padrões e robôs). Empregos como os dos contadores, caixas de banco e corretores não serão tão valiosos, no momento em que os computadores assumirem estas funções por um custo muito menor (e menos dias de licenças para doenças).

Em vez de prever que tipos de empregos poderão existir ou não, talvez possamos também falar sobre as habilidades necessárias para o futuro.

O progresso tecnológico ainda é impulsionado pela Lei de Moore. Esta lei é exponencial, digital e combinatória. Hoje, a tecnologia progride mais rápido do que nunca. Como tal, as inovações tecnológicas serão os principais motores do crescimento econômico, resultando na evolução dos trabalhos e numa maior qualidade de vida. Isto significa que conhecimentos e habilidades tecnológicas trarão vantagem comparativa.

Os computadores serão realmente tão inteligentes quanto os seres humanos (como o Watson da IBM), então os trabalhadores no futuro terão de ser aprendizes rápidos, e saber onde encontrar informações e processá-las rapidamente. Isso é chamado de consciência preditiva. Trabalhadores do futuro terão de ser mais compreensivos e compassivos, com foco centrado no ser humano quando forem desenvolver produtos. E sim, eles também estarão trabalhando ao lado de robôs e computadores na maioria das profissões.

Que visão você tem do Brasil?

Estamos otimistas sobre o futuro do Brasil. Nosso negócio, em todos os setores que atendemos, tem crescido ao longo dos últimos anos; e, como resultado, estamos nos mudando para um novo escritório em São Paulo, com um espaço maior.

Vejam o que faz do Brasil um país forte, como os recursos naturais em abundância. O país enfrenta grandes desafios, como outros países também, mas está passando por esses testes com uma população jovem, vibrante e tech-savvy. A criatividade e a sensibilidade da próxima geração em adotar novas tecnologias me dá a certeza de que os brasileiros não irão apenas saber gerenciar esses desafios, mas prosperar nele também.

A Autodesk vê o Brasil como uma oportunidade e é por isso que nós expandimos o escritório em São Paulo e os recursos aqui. Nosso negócio expandiu-se em todos os setores no Brasil.

(Imagem: Shutterstock)

 

Qual o seu sonho?

Estou muito entusiasmado com o futuro. E vou dizer porquê.

Historicamente, a tecnologia sempre impulsionou o progresso e os avanços pra humanidade. Podemos citar ferramentas como a roda, a máquina impressora, o aproveitamento da energia elétrica, o telefone, o microscópio, as fábricas, a máquina a vapor e até mesmo o desenvolvimento dos computadores no século 20. O crescimento a longo prazo de uma economia avançada será sempre ditado pelo progresso tecnológico.

Há muita coisa para nos deixar animados. Alguns exemplos são os órgãos impressos em 3D, os produtos impressos em 4D que se “montam sozinhos”, a criação de novos materiais e compósitos e as fábricas flutuantes.

Estamos entrando numa era emocionante: a “Era da Conexão”. Nosso CEO, Carl Bass tem falado sobre os benefícios que virão com a computação infinita. Alguns se referem a essa era como “A Internet das Coisas”. Será um mundo conectado com trilhões de sensores nos produtos que compramos, sensores que serão incorporados em nossas casas, nos dispositivos portáteis, nos carros autônomos, nos edifícios e cidades inteligentes. Este mundo conectado, com computação infinita, funciona através da nuvem que se torna o “cérebro digital” da nossa sociedade, numa rede mundial.

Estes sensores irão ajudar os nossos produtos se comunicarem uns com os outros, assumindo tarefas cotidianas, melhorando nossa qualidade de vida e tornando nossa vida mais eficiente. Este será um mundo de realidade virtual e realidade aumentada. Nesta Era, nós estaremos trabalhando para ajudar a resolver alguns dos problemas mais complexos do mundo, a curar doenças como o câncer; a imprimir próteses e órgãos em 3D economicamente viáveis ​​e disponíveis para a maior parte da população; a resolver prementes desafios ecológicos; e a desenvolver infraestruturas inteligentes e escaláveis. A impressão 3D vai finalmente cumprir a sua promessa quando se tornar impressão 4D. Isto é, quando imprimir materiais inteligentes e até mesmo produtos que possam se auto-montar.

Se eu tivesse que compartilhar um sonho pessoal, seria que as aplicações de inteligência artificial pudessem nos permitir implantar chips de silício no cérebro de um paciente, para reverter os efeitos da doença de Alzheimer ou de uma vítima de acidente vascular cerebral.

 

A versão original em Inglês dessa entrevista está AQUI.

 

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