Imagine que faltam 10 anos apenas para você se aposentar. De repente, você toma a decisão de começar o seu próprio negócio. Ou, aos 60 anos, você decide entrar numa área completamente diferente da sua. Ou, aos 20, você opta por adiar uma análise mais aprofundada para descobrir o que realmente te impulsiona.
Todos esses cenários são possíveis, de acordo com Lynda Gratton, professora da London Business School de Práticas de Gestão. Cada vez mais as pessoas fazem coisas diferentes, independentemente de suas idades.
Porém, Lynda argumenta que a trajetória de nossas vidas – tanto profissional quanto pessoal – permanece ainda presa numa mentalidade que era válida quando a expectativa de vida era muito menor.
Para explicar o que mudou, ela deu uma entrevista à McKinsey & Company, divulgada agora em Junho. Baseada em seu novo livro, The 100-Year Life: Living and Working in an Age of Longevity, ela explica como nossas vidas estão progredindo de duas para três fases e o que isso significa, não só para nós como indivíduos, mas também para as empresas e o governo.
O Futuro das Coisas fez a transcrição e a tradução dessa entrevista. Veja abaixo do vídeo.
Entrevista transcrita e traduzida
Como professora, uma das coisas que estou sempre pensando é qual vai ser a próxima “big question”?
E parece-me que, realmente, uma pergunta que a maioria de nós tem em mente agora é o que vai acontecer se vivermos cem anos? O que acontecerá se os nossos filhos viverem cem anos?
Um dos pontos mais fundamentais sobre viver cem anos é se você vive 100 e faz uma poupança para se aposentar com 50% de sua renda, e estará trabalhando até chegar aos 70, início dos 80 anos. Isso é apenas um fato.
Três cenários da vida
Nós acompanhamos a vida de três pessoas. Uma se chamava Jack, e morreu quando tinha 70. Outro se chama Jimmy, e talvez viva 80 a 90 anos (ele tem atualmente 40), ou até viva mais tempo do que isso. E a outra é a Jane, que está agora com 20 anos. Esperamos que ela viva, pelo menos, cem anos.
Por que Jane viveria tanto tempo? Não seria mais sensato se ela checasse suas opções e, em seguida, começasse a fazer suas escolhas? Já estamos vendo isso.
Não é nenhuma surpresa que os jovens estejam se casando mais tarde. Eles estão comprando suas casas mais velhos. Eles estão tendo filhos mais velhos. Eles estão começando suas carreiras mais tarde. Isso tudo faz todo o sentido, de modo que esperamos ver uma nova fase de exploração emergindo.
Há duas consequências muito importantes disso. A primeira é que, quando novas etapas surgem, as transições tornam-se realmente importantes. O que é interessante sobre a vida em três estágios é que existiam apenas duas etapas: há uma transição da educação para o trabalho, e, em seguida, do trabalho para a aposentadoria.
E em segundo lugar, e esta é profunda: Jimmy estava em sintonia com a mentalidade de sua época. Todo mundo da geração de Jimmy foi educado como ele. Todo mundo se aposentou na mesma idade.
Já a Jane não está em sincronia com isso. Se você refletir sobre o que cada pessoa quer para a sua própria vida, elas não vão querer fazer as coisas no mesmo tempo que as outras.
Quando pensamos sobre as implicações para a política e para as empresas, o fim dessa sincronicidade entre idade e estágios é uma delas. É fácil pra nós imaginar que, se você sabe a idade de alguém, você imagina a fase de vida em que ela está. Mas se você desconecta a idade da fase, de repente você pode estar na universidade aos 60 anos. Você pode estar criando o seu portfólio aos 20. Você pode estar explorando coisas novas, se você tem 70 ou 17 anos.
Mais fases de vida, mais conexões
Uma das coisas interessantes sobre ter uma vida longa é que você atravessa mais fases, e mais fases significam mais transições. Mas, estas transições também significam criar networks.
De fato, a gente observa que ter conexões com outras pessoas é realmente importante para uma vida longa. Todo tipo de conexão. Conexões que ajudem nestas transições, as quais os sociólogos chamam “weak ties”: pessoas que são diferentes de você, e que você não conhece muito bem.
O problema com as transições é que as pessoas que lhe conhecem bem e que são mais parecidas com você, não querem que você mude. Se você mudar, então elas ficam pensando: “Bem, tenho que mudar também.”
Se você pensar “Quem eu poderia ser? Como poderia ser o meu futuro?”, os vislumbres do seu próprio futuro não vão vir das pessoas que você conhece bem. Eles vão vir da imensa multidão, das diversas pessoas que você conhece.
O que a longevidade significa para os negócios
Então, o que isso significa para as empresas? A resposta mais óbvia é: “não devemos aposentar as pessoas aos 60”. É a ideia mais louca que existe. Temos que parar de fazer isso, pois pode causar enormes problemas para o futuro. Deixe as pessoas trabalharem, desde que elas possam, e isso significa que elas têm de estar saudáveis cognitivamente.
Número dois, considere que nem todas as pessoas vão ter uma carreira de três estágios. Elas podem mudar a rota às vezes. Elas vão querer rejuvenescer. Vão querer aprender uma nova habilidade. Vão querer períodos sabáticos. Acadêmicos também querem períodos sabáticos. E por que não os consultores? Temos que pensar de forma mais criativa sobre os planos de carreira.
Uma das perguntas que fazemos a nós mesmos é onde está mudança vai acontecer? São os governos que irão mudar? Não, não serão eles.
Será que vão ser as empresas? Sim, mas provavelmente de forma muito lenta.
As mudanças irão acontecer em nível do indivíduo. Vamos ver, e eu não posso esperar para ver, já estamos vendo, inclusive – muitas e muitas experimentações de como as pessoas, individualmente, em suas comunidades e em suas famílias, começam a construir vidas mais sustentáveis a longo prazo.
Estamos observando, com enorme interesse, e convidamos as pessoas para o nosso site, 100yearlife.com, para também compartilharem suas histórias.