Uma nova pesquisa da University College London sugere que uma ultrassonografia de pescoço, de apenas cinco minutos, examinando o fluxo dos vasos sanguíneos, pode prever, dez anos antes dos sintomas aparecerem, o risco de uma pessoa desenvolver declínio cognitivo.
Por que examinar os vasos sanguíneos? Quando o coração bate, o sangue sai do músculo cardíaco e viaja pelo corpo. Artérias saudáveis e elásticas perto do coração amortecem o sangue para garantir que, uma vez alcançado o cérebro, o sangue flua suavemente, a uma velocidade constante através dos frágeis vasos sanguíneos.
Fatores como envelhecimento e pressão alta causam o endurecimento dos vasos sanguíneos, diminuindo seu efeito protetor. Como resultado, uma pulsação progressivamente mais forte pode penetrar profundamente nos vasos que suprem o cérebro.
Com o tempo, isso pode causar danos aos pequenos vasos do cérebro, mudanças estruturais na rede de vasos sanguíneos cerebrais e pequenos sangramentos conhecidos como mini-derrames, os quais podem contribuir para o desenvolvimento de demência.
A pesquisa
Desde 2002, uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo professor John Deanfield (Instituto de Ciências Cardiovasculares da UCL), estuda um grupo de 3.191 voluntários de meia-idade, todos saudáveis, que fizeram um ultrassom para medir a intensidade do sangue que passa pelos vasos sanguíneos no pescoço. Nos 15 anos seguintes, os pesquisadores monitoraram a memória e a capacidade de resolver problemas de cada participante.
A conclusão foi que os participantes cujo sangue atingiu o cérebro com a maior intensidade no início do estudo tinham em média um risco 50% maior de desenvolver declínio cognitivo na década seguinte ao exame em comparação ao restante dos participantes. Essa diferença foi observada mesmo após ajustes para possíveis fatores como idade, IMC, pressão arterial, diabetes e se os participantes tinham outras doenças cardíacas.
O declínio cognitivo é perceptível e mensurável em habilidades como memória, linguagem, pensamento e julgamento. Muitas vezes, é um dos primeiros sinais de demência, mas nem todos que mostram sinais de declínio cognitivo desenvolverão demência.
“Essas descobertas demonstram a ligação direta entre a pulsação do coração transmitido para o cérebro e os futuras declínios na função cognitiva”, afrma Scott Chiesa, um dos pesquisadores da UCL que trabalha no projeto. “É uma causa potencialmente tratável em adultos de meia-idade, que pode ser detectada com bastante antecedência – antes de qualquer mudança perceptível na estrutura ou função cerebral.”
O diagnóstico se concentra na detecção da segunda forma mais comum de demência depois do Alzheimer, a chamada demência vascular. Uma das causas desse tipo de declínio cognitivo é o fato de pequenos vasos no cérebro serem danificados por irregularidades no suprimento de sangue do cérebro. A hipótese por trás do teste era que medir a força na qual o sangue está viajando através dos vasos no pescoço poderia ser um biomarcador eficaz, apontando para um dano lento na rede de vasos sanguíneos do cérebro. Com o tempo, essas pulsações constantes e mais altas poderiam levar ao declínio cognitivo e demência.
Passo seguinte
Os pesquisadores planejam continuar acompanhando o mesmo grupo, realizando ressonâncias magnéticas para determinar a correlação entre os exames de ultrassom iniciais e posteriores alterações estruturais e funcionais no cérebro. Também planejam testar se a varredura melhora as “pontuações de risco” preditivas existentes para demência.
Se essa pesquisa puder verificar a veracidade do ultrassom como um preditor eficaz de demência, este poderá tornar-se uma ferramenta simples e barata no arsenal de diagnóstico de um médico.
A pesquisa foi apresentada na conferência AHA Scientific Sessions, em Chicago.
Fonte: University College London
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