A mensagem é clara — e quase provocatória ao ISIS: “Se vocês podem destruir, nós podemos reconstruir”.
Numa atitude de desafio contra a destruição provocada pelo Estado Islâmico, a réplica do arco do Templo de Bel será construída em Londres e em Nova York.
No ano passado, quando esses extremistas religiosos assumiram o controle de Palmira, uma antiga cidade na Síria, bombardearam e quase destruíram esse templo, considerado o mais importante conjunto arqueológico da cidade, com mais de 2000 anos.
Na tentativa de apagar sistematicamente todas as evidências da história pré-islâmica do Oriente Médio, o ISIS dizimou museus e locais históricos, destruindo a arte e antiguidades que consideram idolatria. O grupo radical também executou o arqueólogo sírio Khaled al-Assad, de 82 anos, que cuidava da preservação dos monumentos em Palmira, pendurando seu corpo em público.
O Templo de Bel era um edifício religioso situado no sítio arqueológico de Palmira, Síria, consagrado em 32 d.C. ao deus semita Bel. As réplicas da entrada do templo serão construídas para coincidir com a World Heritage Week em Abril de 2016 (Fotografia: Sandra Auger / Reuters)
A proposta de construir a réplica da entrada do templo partiu do Institute for Digital Archaeology (IDA), uma joint venture entre a Universidade de Harvard, a Universidade de Oxford e o Museu do Futuro de Dubai que promove o uso da imagem digital e da impressão 3D na Arqueologia.
Usando a tecnologia de impressão 3D, a construção das duas réplicas de 15 metros será a peça central que marcará a World Heritage Week (a “Semana da Herança Cultural”), que acontecerá em Abril de 2016 e terá como tema a “reconstrução e restauração”.
Modelo do arco do Templo de Bel (Crédito: Institute for Digital Archaeology)
Usando milhares de fotografias arquivadas do templo, os pesquisadores do IDA reconstruíram digitalmente o arco que marca a entrada para o templo. As réplicas serão impressas em partes, e reunidas em seguida na praça Trafalgar, em Londres e na Times Square, em Nova York.
Modelo do arco na Trafalgar Square, em Londre (Crédito: Institute for Digital Archaeology)
As réplicas são parte de um esforço para preservar os monumentos artefatos antigos na Síria e no Iraque da intenção do ISIS em destruí-los. Quando o Templo de Bel foi bombardeado em agosto de 2015, acreditava-se que tivesse sido completamente destruído, mas novas imagens e relatórios sugerem que o arco, pelo menos, pode estar quase intacto.
“O valor simbólico desses lugares é enorme. Estamos restaurando a dignidade para as pessoas.” Roger Michel, diretor do IDA
O IDA acredita que a única maneira de preservar esses artefatos é usando novas tecnologias. Em colaboração com a Unesco, o IDA começou a distribuir câmeras 3D fotógrafos voluntários no início deste ano para que capturem imagens de monumentos e artefatos ameaçados nas zonas de conflito em todo o Oriente Médio e no norte da África.
As imagens devem ser enviadas para um banco open-source Million Image Database que compila essas fotos para ajudar a preservar o legado, bem como potencialmente servir no futuro como modelos para criar réplicas 3-D em projetos de grande escala.
Antes do conflito, mais de 150.000 turistas visitavam a cidade de Palmira todo ano (Fotografia: Reuters)
No momento de escolher o primeiro monumento a ser reconstruído, o IDA optou pelo arco do Templo de Bel, em parte por causa do seu futuro incerto e em parte por causa da conexão cultural significativa que representa entre o Oriente Médio e o resto do mundo, explicou o diretor de tecnologia do IDA, Alexy Karenowska, ao The Guardian.
“O objetivo da homenagem é sublinhar que a herança cultural é partilhada pelas pessoas. Tem a ver com as nossas raízes”. Dr. Alexy Karenowska, diretor do IDA
A humanidade assistiu, de forma impotente e entristecida, a destruição da cidade de Palmira no ano passado. Agora, a tecnologia digital possibilitará reconstruir parte desse patrimônio, restaurando nossa dignidade e perpetuando esse tesouro para as novas gerações.