A economia da experiência transformou o extraordinário em esperado. Nada surpreende mais os consumidores. Mas, quando o extraordinário se torna ordinário, o que vem em seguida?

A resposta é a realização pessoal, a busca infinita por nos tornar as pessoas que sonhamos ser. Bem estar e saúde – física, mental e emocional – são partes fundamentais desse processo.

Veja como sua empresa pode estar mais presente no dia-a-dia do seu cliente e ajuda-lo nessa transformação.

A pesquisa de tendências divulgada no TrendWatching “The Future of Betterment” aponta para alguns cenários que podemos analisar com relação a saúde, alimentos funcionais e apps de meditação como tendência mundial.

Saúde e bem-estar continuarão crescendo como parte importante da vida das pessoas e as marcas devem ficar atentas. Podemos perceber, no Brasil, que práticas como o Crossfit e a ioga têm ganhado cada vez mais adeptos, além dos aplicativos e wearables que ajudam a controlar a saúde e até a disposição.

Outro indício forte do impacto dessa tendência no dia-a-dia é o sucesso de personalidades como Bela Gil e Gabriela Pugliese, além também das fotos de atletas grávidas com barrigas “saradas” com dieta controlada e saudável.

“Uma vez na vida se tornou apenas outro Sábado à tarde; Essa é a Economia da Experiência pra vocꔹ

A autorrealização, no topo da Pirâmide de Maslow, está altamente associada à conquista de saúde e bem-estar. A realização pessoal é o futuro do consumismo, a principal forma pela qual as pessoas buscam se afirmar dentro da sociedade, as marcas que elas escolhem – para consumir, interagir e amar – leva-as a ser quem são ou querem ser.

Maslow

Crédito da imagem: Huffpost

Então, onde saúde e bem-estar entram nessa equação?

Saúde como Status

Para muitas pessoas, a realização física, mental e emocional são partes essenciais da autorrealização. Por isso, as marcas devem se perguntar: como nosso produto está ligado a essa tendência e como podemos atender a essas expectativas – ajudando nossos consumidores a conquistar os sonhos deles de serem melhores?

As 06 tendências que definem o Futuro do Aperfeiçoamento [Future of Betterment] são:

1- Espaços de Bem-estar – Ambient Wellness

Acessórios fomentadores de saúde acoplados ao ambiente

Ainda que as pessoas não queiram necessariamente fazer atividades saudáveis, todas querem ser saudáveis. Mas, atualmente, as pessoas têm tomado mais consciência do impacto negativo que a poluição, as noites em claro e outros fatores têm sobre a saúde.

Por isso, esperam que as marcas e empresas tenham ambientes que promovam a saúde, influenciem o bem estar e gerem impactos positivos na saúde, se possível sem que precisem se cansar para isso.

Uma pesquisa feita pela Mayo Clinic em Março deste ano indicou que menos de 3% dos americanos possuem um estilo de vida saudável, que inclui não fumar e fazer exercícios físicos regularmente.

Considerando que os escritórios de trabalho são locais em que passamos boa parte da vida, é importante também que a escolha do projeto e materiais desse ambiente considere uma série de fatores sustentáveis e saudáveis, levando ao aumento da produtividade e bem-estar dos funcionários. Por exemplo, olhos cansados, desânimo, dor de cabeça e absenteísmo são alguns dos problemas que podem ser evitados com um bom projeto.

Nesse sentido, um número cada vez maior de empresas tem criado seus próprios requisitos para garantir um padrão de saúde, bem-estar e qualidade dos seus escritórios, a fim de aumentar a retenção, o conforto e a produtividade de seus colaboradores.

Dentre os conceitos aplicados, destacam-se a biofilia, a restrição de componentes químicos e a qualidade lumínica, térmica, acústica e do ar. Outros fatores que devem ser considerados nessas iniciativas foram reunidos pelo World Green Building Council, por meio do relatório divulgado em 2014:

‘Saúde, bem-estar e produtividade em escritórios’. De acordo com este trabalho, projetos bem desenvolvidos e a seleção de materiais mais salubres resultam em benefícios como: aumento da qualidade do ar interno, conforto térmico e melhoria na iluminação natural e ruídos, além de proporcionar mais contato com o meio ambiente num layout mais leve e natural.

Dessa forma, a produtividade, o bem-estar e criatividade dos funcionários podem aumentar consideravelmente, e, com isso, a empresa reduz gastos com rotatividade, planos de saúde e falta de produtividade.

A Google , por exemplo, conta com o “Programa de Materiais Saudáveis” que, alinhado aos conceitos da certificação Cradle to Cradle (adotada como referência para a análise de toxicidade de materiais pelo LEED v4), criou uma metodologia própria para analisar os produtos que são utilizados em seus escritórios. Assim, são capazes de conhecer os materiais e, portanto, seu potencial de impacto positivo ou negativo na qualidade dos ambientes internos.

Para realizar tal trabalho, a empresa criou a Portico, uma plataforma online que permite que os fabricantes, de forma confidencial, insiram estudos, laudos laboratoriais e a composição de seus produtos para fazer parte, assim, do banco de dados internacional de fornecedores da Google.

Com esse programa, a empresa de tecnologia demonstra preocupação em garantir um ambiente salubre e livre de substâncias químicas prejudiciais, assim como facilitar a obtenção e padronização de informações sobre as propriedades técnicas e químicas dos produtos adquiridos.

Outro exemplo do design aplicado para melhoria das condições de vida do consumidor é da Qatar Airways. A nova linha de aviões “Airbus Carbon Fiber A350 XWB Jets”, que chegou ao mercado em Dezembro de 2015 foi redesenhada com o objetivo de reduzir o efeito “jetlag” dos passageiros, oferecendo iluminação especial, que simula a luz natural do fuso horário ao qual os passageiros estão acostumados, também mantendo regular a pressão interior do avião durante todo o trajeto.

airbus

Crédito da imagem: FastCoDesign

As marcas podem se perguntar:

Quais são os impactos negativos do nosso produto na saúde dos consumidores quando estão interagindo conosco?

Há novas tecnologias que poderiam aliviar isso?

Podemos oferecer algum serviço que, totalmente alinhado aos objetivos da empresa, tenha um impacto 100% positivo na saúde do consumidor?

2- Saúde Calibrada – Calibrated Health

Prepare-se para a personalização da saúde e bem-estar

Com a digitalização de outras esferas da nossa vida, estamos nos acostumando a ter serviços personalizados – como o Netflix e o Spotify, que oferecem sugestões adequadas ao perfil do usuário.

Essas expectativas se estendem à área da saúde, sendo que já há algumas startups fomentando esse mercado de personalização de tratamentos e alimentos por meio do DNA. Ou seja, a personalização genética de alimentos está cada vez mais próxima.

Como exemplo, a startup 23andMe de tecnologia genética começou suas operações em Outubro de 2015, com autorização da FDA (Food and Drug Administration, agência reguladora de saúde dos EUA), para colher amostras de DNA dos clientes e, por meio disso, fornecer informações detalhadas sobre saúde– incluindo suscetibilidade a doenças – assim como desenvolver medicamentos 100% personalizados.

Falando na FDA, no final do ano passado eles lançaram uma plataforma colaborativa chamada PrecisionFDA, que permite aos cientistas o desenvolvimento de um novo método de leitura de DNA, chamada Sequenciamento da Nova Geração (NGS – Net-generation sequencing, na sigla em inglês).

O NGS permitirá aos cientistas olhar individualmente para o DNA de cada  pessoa e, identificando diferenças, prever doenças e como responderiam a um tratamento. Esse site faz parte de uma iniciativa chamada Medicina Personalizada, que pretende prover tratamento médico individualizado com base no estilo de vida, DNA e ambiente em que o paciente vive.

Aplicando essa tendência às empresas, o importante é:

Diferenciar, calibrar a oferta do serviço, atendendo às expectativas de personalização do cliente.

3- Autorrealização Virtual – Virtual Actualization

Realidades Virtuais, melhorias reais – física, cognitiva e emocionalmente

O futuro das marcas é buscar oferecer, por meio da tecnologia, uma realização pessoal atingida no meio virtual e que possa de alguma forma, se estender à realidade. Mais uma vez, experiência do usuário.

Finalmente, em 2016, os gadgets de Realidade Virtual (RV) chegaram com força no mercado, como o Samsung Gear VR, o Playstation VR ou o Google Cardboard, entre vários outros.

A utilização da tecnologia RV pode representar uma melhora tanto no âmbito físico quanto no bem estar emocional do consumidor, que cada vez mais inclui acessórios e tecnologia no seu dia-a-dia como forma de acompanhar a evolução pessoal e sua performance em diversos aspectos.

Um exemplo bastante interessante de como a Realidade Virtual pode melhorar o condicionamento físico das pessoas é a VirZoom, uma bicicleta imóvel que se conecta a um dispositivo e plataformas de realidade virtual, transformando o exercício em algo mais imersivo e divertido, permitindo ao usuário andar de cavalo ou praticar corridas, por exemplo, enquanto se exercita.

virzoom

Crédito da imagem: Social Media Week

O desafio para algumas marcas é:

Como fazer um dispositivo de Realidade Virtual que impacte positivamente a saúde e o bem estar do seu consumidor.

4- Indicadores de impacto – Impact Indicators

Feedback instantâneo e útil sobre os impactos na saúde e bem-estar

O movimento de “Quantified Self” (movimento iniciado pelos adeptos de tecnologia associada a fornecer métricas relacionadas à saúde por meio do uso de wearables) mostrou que um feedback adequado sobre suas métricas pode ser um poderoso instrumento de motivação e melhoria de performance.

Assim, as pessoas esperam que o mundo real seja cada vez mais próximo ao virtual, com informações instantâneas sobre o impacto de cada passo na nossa saúde.

Um exemplo recente é o lançamento da Oral-B Genius.

Em Fevereiro de 2016, considerando estudos que mostram que as pessoas tendem a escovar mais algumas partes da boca e esquecer outras, a Oral-B lançou uma escova de dente que, conectada a um aplicativo deles, permite que o consumidor saiba exatamente onde e como está escovando os dentes e em que área deve dedicar mais atenção.

As marcas devem refletir:

Como seu produto impacta a saúde do consumidor e como você pode fornecer a ele feedback instantâneo sobre isso.

5- Diagnóstico distribuído – Distributed Diagnosis

Novas, inovadoras e fáceis maneiras de acessar serviços de saúde e bem-estar

Outra tendência que as marcas devem considerar é a da Onipresença Contextual, ou seja, verificar formas estratégicas de estar próxima aos consumidores nos momentos certos.

Adaptado à questão da saúde e bem-estar, o consumidor espera receber serviços, testes e processos por meios diferentes dos tradicionais, quando e como quiserem, e é seu dever como marca providenciar isso. Ou seja, diagnósticos distribuídos e acessíveis para o consumidor de todas as formas que ele desejarem.

“70% das pessoas dizem que prefeririam uma consulta virtual a visitar o consultório para obter uma prescrição médica.” American Well Telehealth Consumer Survey 2015

Um exemplo interessante é o Yili, uma marca de laticínios chinesa que, em Maio de 2015, lançou uma campanha para promover a vida saudável.

Eles substituíram as alças originais dos ônibus por sistemas de monitoramento de saúde. Assim, quando os passageiros seguravam nesse dispositivo, tinham acesso a sua frequência cardíaca, índice de massa corporal e equilíbrio. A alça também sincronizava com o smartphone, oferecendo às pessoas informações em tempo real sobre sua saúde durante seu deslocamento diário. A ação incluiu mais de 6000 monitores em mais de 200 ônibus, impactando mais de 350 mil pessoas.

Cheil-PengTai_Healthy

Crédito da imagem: R3 AdTech40

Diagnóstico Distribuído é como sua empresa pode usar novos canais para atingir os consumidores com ofertas de saúde e bem-estar. Então, imagine:

Como você pode utilizar as informações que tem sobre seu consumidor para estar presente quando ele precisar.

6- Aperfeiçoamento pós-demográfico – Post Demographic Betterments

Esqueça seu pensamento antigo e abrace a diversidade pós demográfica

No mundo de hoje, é impossível dividir os consumidores apenas pelas antigas classificações, como gênero, renda, idade e localização. Eles são muito mais complexos que isso, e a realidade é que as marcas devem abraçar o caos da realidade.

É um desafio, mas também é um excelente momento para as marcas se destacarem buscando esses consumidores em um mercado que falha em abranger essa complexidade de comportamentos. Se os consumidores não estão reagindo como se esperava antigamente, porque as marcas deveriam?

Seguindo essa tendência, há dois exemplos interessantes de inversões de padrão comportamental com relação ao tradicional:

A hashtag #LiftLikeAGirl (Levante Como Uma Garota) incentiva mulheres a postar fotos de levantamento de peso e foi inspirada pelo vídeo abaixo, do time de levantamento de peso das mulheres da Universidade de Oxford, divulgado em Fevereiro de 2015.

Outro exemplo que contradiz as expectativas tradicionais de gênero, é a marca “Moon & Son” que é voltada para oferecer acessórios de moda yoga para homens, considerando estudos recentes que mostram que tem sido grande a adesão da prática de yoga entre homens nos últimos anos.

Todos os exemplos acima são apenas uma pequena parcela do que essa tendência do comportamento pós-demográfico representa. A realidade é bem maior e toda marca que pretende permanecer no mercado nos próximos anos deve estar atenta e, sempre que possível, mostrar adesão aos novos e diversos comportamentos.

Concluindo, essas tendências estão relacionadas mais especificamente ao setor de serviços de saúde e bem estar, mas qualquer setor pode pegar essas tendências e pensar em como adaptar seus produtos e serviços a esta complexa realidade.

Fonte: Esse artigo é uma versão adaptada, resumida e traduzida livremente do estudo “The Future of Betterment”, disponível aqui.

O estudo é baseado em inúmeras pesquisas e observações, representando os movimentos a curto, médio e longo prazo dos consumidores nos próximos anos.

¹ – Citação retirada do estudo em questão neste artigo, “The Future of Betterment”

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Monica de Lima

Relações Públicas focada em conteúdo. Leitora assídua de sites sobre comunicação, tecnologia e tendências, Mônica escreve sobre esses assuntos em seu blog Future Thinking 2050 e na sua página Future Thinking, divulgando artigos sobre tendências, tecnologia, comunicação e o mundo digital.

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