Com a automação e a disruptura digital, os empregos tornam-se cada vez mais vulneráveis. O risco pode variar de 35% a 85% entre os países em desenvolvimento e as nações mais desenvolvidas, já na próxima década.
Diante desse cenário, como as pessoas podem se preparar? Quais empregos vão existir no futuro?
Na Austrália, cinco organizações uniram-se para fazer um estudo. O resultado está detalhado no relatório chamado Tomorrow’s Digitally Enabled Workforce, em que seus autores examinam “os futuros plausíveis para o emprego e mercado de trabalho ao longo dos próximos 20 anos”.
Dr. Stefan Hajkowicz, cientista pesquisador da Data 61 e um dos autores do relatório. (Crédito: Data 61 | CSIRO)
O relatório é o resultado de uma colaboração entre a Data61 | CSIRO, a ACS, o ANZ Banking Group, o Departamento de Emprego da Commonwealth e o Boston Consulting Group.
Embora esse estudo tenha tido o objetivo de informar e preparar os australianos para as mudanças vindouras no ambiente de trabalho, nós podemos extrair informações úteis.
Os próprios autores enfatizam que “enquanto na Austrália, a força de trabalho muda continuamente, o período atual da história é caracterizado por transições muito mais impactantes e mais rápidas do que já tínhamos visto antes.”
Em 2035, na Austrália, 72% dos postos de trabalho serão substancialmente impactados pela automação e pela inteligência artificial. (Crédito: Data 61 | CSIRO)
O estudo identifica 6 “megatendências” e implicações para as pessoas e empresas ao longo dos próximos 20 anos. Os autores delineiam os empregos potenciais, em 2035, juntamente com outros impactos da Quarta Revolução Industrial na nossa vida profissional.
As Seis Megatendências
1- A segunda metade do tabuleiro de xadrez
A explosão da conectividade dos dispositivos, o imenso volume de dados e a velocidade da computação, combinados com os rápidos avanços em sistemas automatizados e com a Inteligência Artificial significam que os dispositivos robóticos podem executar tarefas em maior escala e de forma mais rápida e segura do que nós humanos.
2- Mais flexibilidade e network
A tecnologia digital e o novo mundo da ‘economia de plataformas’ está mudando os mercados de trabalho e as estruturas organizacionais. Os empregos no futuro tendem a ser mais flexíveis, mais ágeis, mais conectados e com maior networking.
3- A era do empreendedor
O emprego ideal dentro de uma grande empresa pode não ser o que as pessoas de fato irão desejar. Isso significa que elas terão de criar o seu próprio emprego. Isso vai exigir competências e aptidões empresariais.
4- Demografia diversificada
Globalmente a população está envelhecendo com o aumento da expectativa de vida. Isso poderá mudar o perfil dos funcionários nas empresas. Os quadros funcionais serão formados pelas mais diversas faixas etárias e as mais diversas culturas.
5- A barra educacional sobe
A utilização crescente de sistemas automatizados aumenta a complexidade das tarefas e exige níveis de qualificação mais altos, mesmo para os cargos destinados a principiantes. Hoje, diversos postos de trabalho pouco qualificados estão sendo offshored ou automatizados. A consequência é que a barra de habilidades e de educação seja levantada para diversas profissões e ocupações.
6- Inteligência emocional
É provável que o crescimento do emprego na indústria de serviços, em particular nas áreas da educação e da saúde continue no futuro à medida que caminhamos para uma economia do conhecimento. Empregos nessas áreas exigem habilidade nas interações sociais e inteligência emocional.
Empregos do Futuro
Os empregos irão mudar à medida que as empresas se adaptarem ao início da Quarta Revolução Industrial.
Patrick Maes, CTO do ANZ Bank, defende que a educação universitária precisa evoluir para preparar o trabalhador do futuro (Crédito: Data 61 | CSIRO)
A automação impactará uma mudança de papéis. O relatório considera que a complexidade irá aumentar, portanto, habilidades mais sofisticadas serão demandadas – mesmo para tarefas mais básicas destinadas aos principiantes. Para os autores do relatório, depois da ‘habilidade, a ‘criatividade’ será cada vez mais procurada.
Isso vai exigir que os sistemas de ensino adaptem-se e atualizem-se para preparar os trabalhadores do futuro com as habilidades que eles precisam.
Os trabalhos que serão realizados por humanos em 2035
Com as mudanças demográficas e tecnológicas em movimento, aqui estão alguns dos novos postos de trabalho que serão realizados pelos humanos.
Garantir trabalhadores digitalmente alfabetizados é um desafio para os países. Não são apenas as habilidades técnicas que importam. Também é preciso se concentrar em competências profissionais, como espírito empreendedor, criatividade e inovação. (Crédito: Data 61 | CSIRO)
Com o aumento dos veículos autônomos e não tripulados será preciso uma nova força de trabalho remota. Em 2035, pilotos, capitães de navios e motoristas poderão estar sentados nos seus escritórios ou home offices, a milhares de quilômetros do veículo que eles estarão controlando. Enquanto várias habilidades serão transferidas para as máquinas, novas habilidades também serão necessárias para pilotar um avião remotamente.
Uma nova categoria de “cuidadores personalizados de saúde preventiva”, também irá surgir. Estes profissionais irão possuir forte habilidade para lidar com pessoas, e ter capacidade de interpretar e compreender a saúde e o bem-estar através de dados. Eles vão ajudar seus clientes a prevenirem doenças, melhorarem a função cognitiva, e alcançarem uma melhor saúde mental e estilos de vida mais saudáveis. À medida que a população envelhece no mundo todo, esse papel vai se tornar cada vez mais importante, e o relatório prevê a crescente necessidade desses cuidadores.
Com o aumento de crimes cibernéticos, veremos novos profissionais protegendo a atividade online. Isso pode se estender às fraudes e gestão da reputação.
O relatório também destaca a demanda por analistas de big data. O mundo gera atualmente 2,5 quintilhões de bytes de dados por ano, e com o crescimento da Internet das Coisas teremos um aumento exponencial e maior demanda por profissionais que lidem com esses dados.
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A principal conclusão que tiramos desse relatório é que estamos entrando num período de aceleradas mudanças tecnológicas que irão extinguir um monte de postos de trabalho. Em contrapartida, novos postos serão criados. Há oportunidades e riscos.
Link para o download do Relatório: Tomorrow’s Digitally Enabled Workforce: Megatrends and Scenarios for jobs and employment in Australia over the next twenty years [pdf · 7mb]
Cada vez mais vejo a importância da alfabetização digital. Pessoas de meia idade que estarão ativas ainda em 20 anos precisam ir além do simples enviar e receber e-mail e do Facebook. Tenho aos 46 anos a intenção de fazer um curso de programação ou algo assim. Acabei de terminar uma formação em Marketing e Mídias Sociais. Eu era o mais velho da minha turma. Isso realmente me preocupou. E o que surpreendia meus colegas, todos das ciências da computação era minha profissão: Eu sou um empreendedor, mas minha atividade principal é a psicanálise. E essa mistura incrível tem enriquecido imensamente meu trabalho em todos os aspectos.
O mundo das tecnologias é incrível, é encantador, é veloz, mas pode ser devastador. Há uma relação dialética muito intensa na compreensão desse mundo que penetra e percorre, como o sangue arterial percorre nosso corpo, nossa vida. Mudança e inovação são características permanentes desse modo de viver, os trabalhos exigem múltiplas capacidades, dentre elas a atualização constante, o domínio e a aprendizagens das “novas” funções e o aprimoramento das “velhas”. Como tudo isso interfere no sistema educacional? Na formação inicial e continuada? Quais os impactos?
Uma reflexão a ser feita é que o avanço tecnológico mostra o quanto nós evoluímos ao ponto de tornar ações e atividades mais simples, no entanto essa evolução deve ser compartilhada e alfabetizada tecnologicamente para todos. Pois as novas tendências tecnológicas já são reais e mostradas diariamente, e seu avanço é considerado desenfreado que para o mundo isso é muito bom, no entanto é preciso estar pronto para acompanhá-las.