Em 1755, o médico francês Charles Leroy descarregou eletricidade – usando um Leiden jar – num paciente cego através de dois fios: um ao redor da cabeça logo acima dos olhos, e o outro, em volta da perna. O paciente, que estava cego havia três meses devido a uma febre alta, descreveu a experiência como uma chama que passou na frente dos seus olhos. Esta foi a primeira vez que um dispositivo elétrico conseguiu proporcionar um lampejo de percepção visual.
Hoje, 260 anos depois, a cegueira ainda é uma das deficiências sensoriais mais debilitantes, que afeta cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. Muitos destes pacientes podem ser tratados eficazmente com cirurgia ou medicação, porém algumas patologias não podem ser corrigidas com os tratamentos existentes.
Quando as células receptoras de luz se degeneram, como é o caso na retinite pigmentosa, ou quando o nervo óptico é danificado como resultado de glaucoma ou traumatismo craniano, nenhuma cirurgia ou medicamento pode restaurar a visão perdida. Em tais casos, uma prótese visual pode ser a única opção.
No próximo ano, uma nova tecnologia deverá ajudar a restaurar a visão em pessoas com problemas na retina. Na Austrália, em 2016, o primeiro voluntário cego irá receber “olhos biônicos”. A tecnologia consiste numa câmara instalada num par de óculos que alimenta informações visuais sobre o mundo diretamente para o cérebro.
1- Lente externa – câmera digital
2- Lente de dentro – sensor de movimento dos olhos direciona a câmera
3- Lado dos óculos – processador digital e transmissor wireless
4- Implante cerebral – pequeno implante recebe os sinais e estimula o córtex visual no cérebro
Arthur Lowery da Universidade de Monash, em Clayton, Victoria, e que está desenvolvendo o olho biônico diz que irão implantar cerca de 11 pequeninas e finíssimas “telhas”, cada uma com 43 eletrodos, em áreas do cérebro que lidam com a visão. Cada elétrodo pode criar um ponto de luz semelhante a ver um pixel. No total, os “implantes” irão fornecer cerca de 500 pixels – o suficiente para criar uma imagem simples. Embora esta resolução seja muito inferior a uma imagem de 1 a 2 milhões do que um olho normal pode produzir, isso deve restaurar os elementos básicos da visão.
As imagens captadas pela câmara serão enviadas para um processador de bolso que fica com o usuário. Este dispositivo vai retirar as partes relevantes da imagem e enviá-las para as telhas. “O processador é como um cartunista”, diz Lowery. “Ele tem de representar uma situação complexa com o mínimo de informação. Um rosto poderia ser recriado com apenas 10 pontos. Pode parecer pouco, mas há mais informações nisso do que você pode pensar.”
Como exemplo, imagine uma recepcionista cega que não consegue saber se alguém está entrando ou saindo da recepção do hotel. Ela não sabe se deve dizer “Olá” ou “Até logo”. Com esse dispositivo, ela poderia ter uma noção do que se passa.
Os primeiros voluntários serão aqueles que recentemente perderam a visão devido a uma lesão, pois o novo dispositivo pode não funcionar tão bem para aqueles que são cegos desde o nascimento.
“Se tudo correr como o previsto, os voluntários irão acordar com um sentido “bruto” da visão, parecido como ver as imagens de uma televisão de John Logie Baird da década de 20″, Arthur Lowery.
Mais um passo para que, no futuro, as pessoas não precisem mais de olhos para ver as coisas.
Fontes: Universidade de Monash e New Scientist