A arte de contar histórias se confunde com o surgimento da humanidade. Os humanos, em suas cavernas, contavam narrativas cotidianas usando a arte rupestre. Essa prática surgiu antes da escrita, impulsionada pela necessidade que a humanidade tinha de repassar os fatos ocorridos.
As histórias nos conectam, nos emocionam, nos encantam, nos fazem sentir! Como disse Carl W. Buehner, “as pessoas vão esquecer o que você disse, irão esquecer o que você fez, mas nunca esquecerão como você as fez sentir”. Essa frase retrata muito bem o poder das histórias.
Não por acaso a arte de saber contar uma boa história se tornou uma prática que muitas marcas, empresas e pessoas se apropriam. Conhecida como Storytelling, essa arte busca reter a atenção dos interlocutores, despertar emoções e deixar registrada a mensagem na memória de quem a ouviu.
Certa vez escutei um professor contar sobre um experimento que fizeram com uma caneta. Eles colocaram para venda uma caneta simples, tipo Bic, em um site de vendas pelo valor real. Depois colocaram a mesma caneta à venda e contaram uma história que estaria por trás dela. Esta mesma caneta foi vendida por um preço dez vezes superior ao seu valor de mercado.
O que fica de aprendizado? Histórias agregam valor. Histórias conectam. Histórias despertam emoções. Histórias nos diferenciam. Histórias geram empatia.
O mercado já descobriu o poder da narrativa e que, quando bem construída, pode ser atraente. Um trabalho científico realizado pelo neuro-economista Paul J. Zak apresenta um ponto mais preciso sobre como histórias mudam nossas atitudes, crenças e comportamentos. Elas ativam um neuroquímico chamado oxitocina, produzido quando conquistamos confiança ou somos gentis, motivando a cooperação entre as pessoas. Este neuroquímico aumenta o sentido de empatia e nossa capacidade de sentir a emoção do outro.
Em outro experimento, Paul Zak testou se poderíamos “hackear” o sistema de oxitocina para motivar as pessoas a se envolverem em comportamentos cooperativos. Como resultado descobriu que histórias guiadas por personagens causam consistentemente a síntese de oxitocina. Além disso, a quantidade de oxitocina liberada pelo cérebro é capaz de prever o quanto as pessoas podem estar dispostas a ajudar a outras, como por exemplo, fazendo doação em dinheiro para uma instituição de caridade associada à narrativa.
As descobertas sobre a neurobiologia da narrativa são relevantes para todos os ambientes, inclusive o de negócios. Uma história guiada por personagens com conteúdo emocional resulta em uma melhor compreensão dos pontos-chaves e permitem uma melhor lembrança deles depois.
Nossas histórias
Muitas vezes não reconhecemos nossas histórias e, consequentemente, não percebemos o nosso potencial, e nem talentos e habilidades desenvolvidas no decorrer da nossa jornada. E aquilo que achamos que pode ser o nosso maior obstáculo pode se tornar o nosso maior trunfo, nosso maior diferencial.
Saber contar uma história pessoal ou a história de uma marca pode ser um caminho estratégico em uma sociedade que cada vez mais presa pela transparência e valoriza a autenticidade. Afinal, a humanidade nasceu escutando histórias.
O Brand Storytelling é a forma de construir a narrativa da história de uma marca e da sua identidade de forma mais inspiradora, envolvente e interessante. É importante ressaltar que o Brand Storytelling não se preocupa apenas em contar o passado da marca, mas também com o presente e futuro, ou seja, em mostrar que caminhos pretende seguir e onde deseja chegar. O objetivo é mostrar quais são os seus valores, seu propósito, seu objetivo maior no mundo.
Na era digital em que vivemos, influenciar tornou-se determinante para muitas marcas, sejam elas produtos ou pessoas. Cada vez mais tentamos influenciar nosso meio e nosso ecossistema. Não à toa percebemos uma explosão de influencers nos últimos anos. Para que este objetivo seja atingido de forma relevante é preciso considerar os 4 C’s para construir a narrativa da marca e sua identidade por meio do brand stortyelling: conectar, compartilhar, comunicar e colaborar.
Sem medo da vulnerabilidade
Quando falamos em contar a nossa história, significa não ter medo da vulnerabilidade, e nem de assumir nossos erros e fraquezas porque somos humanos e, por consequência, imperfeitos. Histórias precisam ser verdadeiras, autênticas e reais. Não podemos cair no erro que várias marcas já cometeram.
Um teste feito pelo psicólogo Elliot Aronson em 1966, chamado Efeito Pratfall propõe que cometer erros pode aumentar a simpatia que as pessoas têm por você. A imagem de perfeição não conecta e não cria a simpática que os erros e as falhas causam.
Um exemplo de história e de impacto negativo na imagem é o da cientista brasileira Joana D’Arc Félix de Souza que ganhou visibilidade ao relatar uma história de superação, a da menina pobre que entrou na faculdade aos 19 anos e concluiu um pós-doutorado em Harvard. A história era linda, motivadora, porém, não era totalmente verdadeira.
Trazendo para o momento atual, que preza pela transparência e autenticidade, o impacto de uma história mal contada provavelmente seria ainda mais negativo. A cada dia existe menos espaço para histórias irreais. O real é o que todos nós queremos.
Boas e autênticas histórias conectam, criam relacionamentos fortes. Por que não usar a sua historia para criar esta conexão?
“Seja você mesmo, todos os outros já existem” – Oscar Wilde