Bebês que nascem por cesariana tendem a ter mais micróbios intestinais associados aos hospitais do que aqueles que nascem por parto normal. Essa foi a conclusão de um estudo publicado esse mês na Nature.
Estudos anteriores já tinham associado as cesáreas a um risco maior de doenças como asma e diabetes, levando alguns pesquisadores a suspeitar que os bebês nascidos dessa maneira podem ter diferentes misturas de bactérias intestinais devido à falta de exposição ao canal do parto. Porém, estudos para analisar se os bebês nascidos de cesariana teriam microbiomas distintos de bebês nascidos por parto normal apresentaram resultados conflitantes.
“As cesarianas podem salvar vidas e poder ser clinicamente necessárias”, argumentou Lisa Stinson em entrevista à Science News. Lisa é microbióloga molecular e bióloga reprodutiva da Universidade da Austrália Ocidental e embora não tenha participado desse novo estudo, acrescenta que “precisamos entender melhor seus efeitos [da cesárea] a longo prazo em bebês”.
Esse estudo é uma iniciativa chamada Estudo do Microbioma do Bebê, a maior até agora para abordar essa questão. Os pesquisadores analisaram as bactérias intestinais de 596 bebês saudáveis nascidos em hospitais do Reino Unido. Eles coletaram as fezes de 314 recém-nascidos por parto normal e 282 nascidos por cesariana, e testaram quais bactérias estariam presentes. Enquanto os intestinos dos bebês nascidos de parto normal foram colonizados por bactérias comensais normalmente encontradas em pessoas saudáveis, como Bifidobacterium e Bacteroides – representando 68%, em média do total das bactérias intestinais – os nascidos de cesárea tinham microbiomas dominados (também 68%) por espécies comumente encontradas em hospitais, como os dos gêneros Enterococcus e Klebsiella, potencialmente prejudiciais,
O nível de colonização por patógenos é chocante nessas crianças. Quando vi os dados pela primeira vez, não pude acreditar”, disse Trevor Lawley, microbiologista do Instituto Wellcome Sanger e co-autor do estudo.
Os pesquisadores fizeram uma nova análise nos mesmos bebês quando estes tinham por volta de 9 meses de idade, e descobriram que os micróbios intestinais dos dois grupos haviam se tornado mais parecidos. No entanto, os bebês nascidos por cesariana permaneceram com níveis mais baixos nas espécies comensais (Bacteroides).
Os antibióticos administrados durante o parto também moldam quais bactérias se instalam no intestino de uma criança, sugere o estudo. Mães submetidas à cesárea podem precisar tomar antibióticos para prevenir infecções, e estes podem aniquilar bactérias úteis. No estudo, foi constatado que os bebês que nasceram por parto normal, mas cujas mães também tomaram antibióticos, tiveram menos Bacteroides. Isso sugere que algumas das diferenças bacterianas estão “relacionadas à exposição materna a antibióticos – e não à falta de exposição a bactérias vaginais no nascimento”, diz Stinson.
Os antibióticos também podem afetar as misturas microbianas no leite materno, que podem influenciar os microbiomas intestinais dos bebês, diz Lisa. No estudo, a amamentação teve um pequeno efeito nas bactérias intestinais dos bebês.
Os pesquisadores também descobriram, observando um conjunto menor de bebês,
que à medida que eles cresceram e começaram a comer alimentos sólidos, as diferenças na composição das bactérias intestinais diminuíram.
Todos os bebês participantes desse estudo eram saudáveis. Não se sabe se as bactérias com potencial para causar infecções nesses bebês podem causar problemas mais tarde. Mesmo assim, iniciar a vida com um repertório errado de micróbios provavelmente terá consequências, alerta a microbiologista Maria Dominguez-Bello, da Universidade Rutgers.
“As primeiras semanas de vida são uma janela crítica do desenvolvimento do sistema imunológico do bebê, mas sabemos muito pouco sobre isso”, disse à Reuters Peter Brocklehurst, da Universidade de Birmingham e também coautor do estudo. “Precisamos acompanhar esses bebês à medida que crescem para ver se as diferenças iniciais no microbioma podem levar a problemas de saúde.”
Crédito da imagem da capa: Reuters
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