Sou considerado pelos sociólogos um nativo da geração Y, ou como melhor definido pelas consultorias de marketing, um Millennial. Essa classificação corresponde aos nascidos entre as décadas de 80 até meados de 90 e é caracterizada por ter tido seu desenvolvimento em um período de avanços tecnológicos, cujos níveis informatização e, sobretudo de prosperidade econômica, eram altos.
Tal como eu, existem outras 8,3 milhões de pessoas no Brasil e mais 1,7 bilhão de pessoas no mundo de acordo com a Base de Dados Internacional dos EUA Census Bureau. Isso significa dizer que “nós” já representamos cerca de ¼ da população do planeta, e por consequência somos uma peça fundamental para o sistema político-econômico mundial.
Mas, o que a nossa geração tem a ver com o futuro da economia, se hoje somos considerados o presente dela? Não seria a próxima geração, a intitulada geração Z dos nativos digitais, que irá conduzir a próxima geração de negócios?
Façamos uma avaliação sobre a representatividade que temos no contexto econômico de geração de riqueza, ou seja, no sistema capitalista que é o mais praticado no mundo.
Consumo: representamos a maior parcela de consumidores de bens e serviços como população economicamente ativa;
Emprego: ocupamos significativa parcela da força de trabalho no mundo, e segundo prognóstico da consultoria Delloite em 2025 representaremos 75% do total dos empregos;
Empresas: atualmente figuramos entre aqueles com mais condições de empreender, sendo responsáveis por pouco mais de 45% do total de novos negócios no mundo conforme dados apurados pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor).
Reflita agora sobre algumas das mudanças que estão ocorrendo nestes mesmos pontos onde somos representativos:
Consumo: desapego em relação aos bens, foco no uso e não em possuir; responsabilidade e consciência no consumo, valorização da origem;
Emprego: flexibilidade e autonomia que proporcione crescimento profissional e pessoal; trabalhar naquilo que tenha significado e convergência com valores pessoais;
Empresas: negócios exponenciais com propósitos massivos transformadores capazes de gerar impacto global;
A resposta ao questionamento anterior está sob a ótica do papel que exercemos como influenciadores de uma próxima geração que está logo à frente na vanguarda das mudanças no contexto dos negócios e dos sistema econômicos.
Quando menciono influência, não me refiro a todos os aspectos, até por que em quesitos como interação com novas tecnologias, somos nós que precisamos aprender com eles. Estou me referindo aos pontos cruciais de formação de caráter, nos diversos papéis que assumimos ao longo da vida dessa geração, ora como pais, educadores, e como fundadores e gestores de empresas.
Minha geração foi diretamente influenciada por estes mesmos atores, nos ensinando que os negócios e o modelo de capitalismo são cruéis, onde o lucro é única razão da existência das empresas, e a acumulação de riqueza é o prêmio pelo risco assumido pelo empreendedor. Em que o imperativo na equação de valor é o resultado econômico para o negócio, e o cliente tem pouca escolha e pouca voz. Onde as relações de trabalho e pela exploração do proletariado, que vende sua força de trabalho por um salário em sua maioria injusto.
Hoje, sabemos que o modelo de capitalismo não é sustentável no longo prazo. Fomos percebendo isso mediante a incorporação e acesso às novas tecnologias da informação, na degradação de negócios sem propósito, na nossa relação com o consumo e exploração do trabalhador e da natureza, e na maneira como o ser humano hoje encara o trabalho como parte de um objetivo maior de vida.
Estamos presenciando uma mudança ética pela qual os negócios devem existir, onde a essência de sua criação e sustentação está alinhada com os aspectos mais fundamentais do ser humano motivando-os a realizações maiores. Organizações como a Conscious Capitalism Inc, pregam o capitalismo empresarial como o sistema mais poderoso para cooperação social e progresso humano. Michael Porter, professor e escritor de best sellers do mundo dos negócios, em sua palestra no TEDGlobal 2013 aborda o termo valor compartilhado como criação de riqueza econômica e social de maneira simultânea, mencionando a capacidade que os negócios têm de promover mudanças em escala gerando benefícios a todos os envolvidos.
Esse novo capitalismo de empresas que se apresentam de diversas formas (Benefit Corporation (B-Corporations), Triple Bottom Line, L3Cs, Slow Money, Conscious Capitalism), alavancam seus propósitos de existência integrando questões sociais e ambientes, sem esquecem dos lucros no seu processo de negócio.
Devemos mudar o discurso dos negócios como vilões, e estimular uma nova geração de empreendedores e empresas;
Como pais, precisamos encorajar nossos filhos a resolver problemas significativos pra si e para o mundo;
Como educadores, precisamos estimular a capacidade de reflexão do contexto em que vivem e estimular a implementação de novas soluções que mudem uma realidade incomoda;
Como fundadores e gestores de empresas, precisamos dar autonomia e liberdade criativa a pessoas que queiram trabalhar em prol um propósito comum capaz de fazer uma diferença positiva.
Não vivemos no mundo cor de rosa onde tudo funciona da forma como deveria. Viveremos algumas décadas até que este novo capitalismo (ou um novo sistema econômico) não seja uma tendência e sim uma realidade, e para isso precisamos exercer nosso papel de influenciadores.
[…] do Ensino Médio respondem que preferem abrir um negócio do que trabalhar em empresas. Eles nasceram conectados, são colaborativos e parecem saber lidar melhor com a diversidade do que a geração […]