O que você tem em sua casa diz muito sobre você. Porém, como você usa a sua casa e o que tem dentro dela, diz muito mais. Pelo menos é o que indica a pesquisa “Life at Home” liberada esse mês pela Ikea, empresa de origem sueca, especializada na venda de móveis.
O objetivo da pesquisa foi descobrir mais sobre as reais necessidades, aspirações e sonhos das pessoas, para tornar o cotidiano de uma casa mais significativo.
A Ikea entrevistou mais de 12 mil pessoas ao redor do mundo, focando em 12 cidades: Berlim, Londres, Moscou, Mumbai, Nova Iorque, Paris, Shangai, Estocolmo, Sidnei, Toronto, Zurique e Madri.
É interessante notar a diferença social e cultural nestas cidades, no que se refere ao relacionamento com a casa e na diferente concepção de usabilidade dos móveis e tecnologias.
Casa Não é Endereço
Lar é onde nossas necessidades psicológicas são supridas. Para 48% dos entrevistados, a casa é onde eles têm as relações mais importantes, enquanto 20% a definem apenas como um local físico.
Essa tendência vai de encontro também ao fato de que as pessoas tendem a pensar globalmente, adaptando-se às suas respectivas realidades.
As novas gerações buscam a felicidade e o sentimento de “pertencimento” em locais diferentes, que não sejam necessariamente seus locais de origem.
Explorando os Cinco Sentidos
Questões urbanas, como poluição, iluminação e barulho impactam diretamente em como as pessoas se relacionam com suas casas. Por exemplo, em Mumbai – a principal cidade da Índia, com cerca de 12 milhões de habitantes – a redução do ruído que chega às casas melhoraria a vida para 39% dos entrevistados.
Com a urbanização crescente das cidades, o êxodo rural esperado e o aumento da expectativa de vida da população, prestar atenção a insights como esse é essencial para criar produtos capazes de melhorar a vida da população explorando todos os sentidos e trazendo mais significado às coisas.
Menos Coisas, Mais Sentimentos
Pessoas mais jovens dão menos valor ao “ter muito”, como as gerações anteriores que valorizavam bens materiais como casas e carros. Em contrapartida, o sentimento colocado em cada objeto é maior.
43% dos entrevistados consideram as coisas que lhes permitam fazer o que amam, como as mais importantes.
Focar no lado sentimental de “possuir” é um insight interessante também.
Experiências, Não Coisas
Está comprovado que gastar dinheiro com experiências, não coisas, traz mais felicidade. Porque então, não juntar essas duas coisas?
A pesquisa mostrou que as pessoas estão dispostas a comprar coisas que proporcionem interação e experiências únicas dentro de casa.
Considerando a tendência de “bairrização” da vida – em que procuramos fazer o máximo de coisas possíveis dentro de casa ou próximos a ela – produtos que nos permitam ter experiências diferentes dentro de casa são vistos com outros olhos.
Wi-Fi ou uma Sala Grande?
É possível imaginar a resposta para essa pergunta: Wi-Fi, lógico! Em Shangai, por exemplo, 49% dos entrevistados considera que ter uma internet estável e com boa velocidade é mais importante do que ter um espaço de convivência na casa.
A tecnologia tem mudado a forma como as pessoas lidam com a casa. Enquanto antes a família se reunia em volta do rádio, depois em frente à televisão, hoje é importante que a Internet alcance a casa toda para que cada um fique no seu próprio espaço.
Como você acha que essa configuração pode transformar o formato e distribuição do espaço interno da casa?
Vizinhança como Extensão do Lar
Pouco mais de um terço dos entrevistados consideram que seu bairro é uma extensão de sua casa, por isso, políticas de revitalização das cidades e ocupação das pessoas de locais públicos fazem parte desse processo de sentimento de pertencimento à cidade.
Para as empresas, é uma oportunidade de criar produtos que sejam utilizáveis nos dois âmbitos, de juntar-se aos governos na criação de espaços que promovam a cidadania e ajudem as pessoas a viver bem e resolver tudo dentro de seus bairros.
O Desejo por Privacidade
Ao mesmo tempo em que a tecnologia tem mudado a configuração das casas e a economia de compartilhamento tem trazido mais pessoas para ambientes compartilhados. Isso também acaba por provocar um desejo maior por privacidade.
25% dos entrevistados gostariam de passar uma hora sozinhos, se pudessem dispor desse tempo livre.
A pesquisa da Ikea vê essa dualidade como uma procura pelo equilíbrio entre o “eu” e o “nós”. O momento “eu” é aquele momento que tiramos para nos recarregar, descansar, fazer coisas que nos fazem felizes. O “nós” diz respeito às atividades coletivas, que criam e nutrem relacionamentos.
Essa dicotomia pode ser traduzida em produtos que podem ser próprios para uso nos dois momentos. Criar formas de facilitar a privacidade em ambientes coletivos pode ser um negócio interessante em um futuro próximo.
E o Equilíbrio?
Esses insights observados com a pesquisa mostram que, ao mesmo tempo em que valorizamos a tecnologia e produtos com multifuncionalidades, essas novas configurações de ambientes despertam um desejo maior por privacidade e conforto nos momentos de descanso.
É a economia de compartilhamento e tecnologia em busca do calor humano das relações.