Todos os dias, de alguma forma, precisamos usar o dinheiro. Mesmo assim, talvez poucos compreendam a dinâmica e a natureza desse essencial instrumento econômico.

O dinheiro evoluiu ao longo do tempo para atender às necessidades da sociedade e da economia. Essa evolução ocorreu para torná-lo mais flexível. Na Idade Média, as moedas de metal foram complementadas por letras de câmbio para facilitar o comércio. Os cartões de crédito e de débito substituíram a falta de praticidade da compensação de cheques.

Agora, o dinheiro está prestes a ter uma nova mudança. Para alguns, como David Birch, autor de “Before Babylon, Beyond Bitcoin“, o futuro pertence, não aos cartões de plástico, mas aos telefones celulares.

De fato, no Quênia, centenas de empresas, inclusive empresas de serviços públicos, aceitam pagamentos por meio de um sistema chamado M-Pesa (M de mobile e Pesa significa “dinheiro” em Kiswahili). Mais de dois terços dos adultos usam isso. “Com os cartões, você pode pagar suas compras. Agora com os celulares, as pessoas podem pagar umas às outras. E isso muda tudo”, Birch escreve. Inclusive ele tem um TED em que explica a necessidade de uma infraestrutura de identificação/assinatura/certificação que seja universal, que todos possam usar em qualquer lugar.

Neha Narula, diretora do Digital Currency Initiative no MIT Media Lab concorda com Birch em relação aos cartões de crédito, pois metade dos cartões que ela têm ainda não funcionam na Europa e transferir dinheiro através de fronteiras é muito caro. Isto causa problemas:

Nosso acesso ao dinheiro digital e a nossa habilidade em livres transações são reféns dos intermediadores. O dinheiro digital não é meu realmente, são entradas em bancos de dados que pertencem ao meu banco, à companhia de cartão de crédito ou à empresa de investimento. E essas companhias têm o direito de dizer “não”. Se sou um comerciante do PayPal e o Paypal erroneamente me marcar como fraudulento, acabou. Congelam minha conta, e não consigo que me paguem.”

Para Birsh, a questão é quem irá controlar esse dinheiro eletrônico. Ele acredita que serão as comunidades, em vez dos países, os emissores naturais de moedas no futuro; com isso haveria um grande número de moedas eletrônicas concorrentes e não oficiais.

As duas fases do dinheiro e o que vem a seguir

Já passamos por duas fases do dinheiro: no mundo analógico, o dinheiro se movia de acordo com a velocidade humana. No mundo digital, o dinheiro pode ir muito mais longe e mais rápido. Porém, como lembra Narula, estamos à mercê das instituições intermediadoras. O dinheiro se move na velocidade dos bancos.

Mas, estamos prestes a entrar numa nova fase, onde o futuro do dinheiro não dependerá de instituições para nos dar segurança. Segundo Narula, num mundo de softwares e de programação, removeremos humanos e instituições do circuito. “E quando isto acontecer, nem vamos mais sentir que estaremos transacionando. O dinheiro será direcionado pelo software, e seguirá um fluxo forte e seguro.”

Criptomoedas

As criptomoedas são o primeiro passo dessa evolução. Elas não são controladas por nenhum governo ou banco. Funcionam sem intermediários. Bitcoin, criado em 2009 é a criptomoeda mais conhecida – existem centenas como a Ethereum, Litecoin, Stellar, Dogecoin – já alcançou valorização de 1.100% em cinco anos, o que a transforma em uma opção de investimento promissora, porém é 100% especulativa. Mês passado ultrapassou o valor de US$ 6 mil (ou cerca de R$ 19 mil), e prevê-se que atingirá US$ 50.000 em uma década. Mas, há muita volatilidade e a distribuição é assimétrica.

Só que a tecnologia por trás do bitcoin tem potencial para uso generalizado no setor financeiro e em muitas outras áreas da economia. Há uma percepção crescente de que o bitcoin e outras “moedas” digitais baseadas em blockchain representam a maior ameaça à ordem financeira que vigora há tempos.

Como as criptomoedas se baseiam na criptografia, não precisamos mais dos bancos para proteger nossas transações. Podemos fazer nós mesmos. Você pode pagar qualquer pessoa com segurança, sem precisar assinar ou pedir permissão. E pode transferir dinheiro para qualquer parte do mundo.

Da mesma forma que a internet mudou a maneira como nos comunicarmos, a criptomoeda mudará a maneira como pagamos, alocamos valores ou tomamos decisões financeiras, pois imagine só um futuro onde você pode alugar os dados do seu plano de saúde a uma empresa farmacêutica, a qual fará a análise dos seus dados e irá lhe fornecer uma prova criptográfica que comprova que seus dados serão usados da maneira que acordaram. E ela pode lhe pagar pelo que descobrir.

Ainda não estamos neste mundo, mas ele está chegando…

Estamos entrando na era do dinheiro programável em que eliminamos a necessidade de instituições grandes. E isto leva a inovação, como é o caso de milhares de startups que estão surgindo para substituir os bancos.

Atualmente, 2 bilhões de pessoas no mundo, não têm acesso aos serviços bancários, isso de acordo com o Banco Mundial que pretende até 2020 universalizar o acesso financeiro. No Brasil, 32% dos adultos e quase metade dos jovens adultos (entre 15 e 24 anos) não têm conta bancária e há razões para essa exclusão: um histórico financeiro ruim, áreas onde o acesso ao crédito e outros serviços financeiros são limitados, dentre outras.

O “dinheiro programável” democratiza o dinheiro

Crescimento das Fintechs

Com perfil de startup, as fintechs estão desafiando os bancos tradicionais com o uso intenso da tecnologia, da internet e dos serviços móveis a um custo baixíssimo (ou zero) para o cliente.

Algumas delas estão tentando encontrar soluções para incluir pessoas que estão à margem do ecossistema financeiro. As startups que abordam esse mercado estão explorando formas alternativas para avaliar o risco de diferentes maneiras, ampliando o grupo de potenciais consumidores.

O Brasil já possui 309 fintechs que estão revolucionando diferentes segmentos do setor financeiro. Com base no levantamento feito pelo Finnovation, blog que trata de diferentes assuntos sobre o mercado financeiro brasileiro, houve um aumento de 41% nas quantidade de startups nos últimos 12 meses.

A maior parte delas continua no setor de Pagamentos. São 86 fintechs neste segmento. Em seguida, vem as startups de Gestão Financeira Empresarial, seguindo a tendência global de fortalecimento do segmento b2b. Atualmente já são 58 nesta área. Logo atrás, vem o grupo das fintechs de Crédito, um segmento que tende a ganhar força com a nova regulamentação de p2p lending, do Bacen. São 38 startups ajudando a reduzir os spreads, redesenhando os motores de crédito e risco e melhorando a experiência do usuário. Outra área que desperta atenção pelo crescimento é a de Identidade, que busca ajudar nos processos de know your client e prevenção à lavagem de dinheiro. Já são atualmente 21 startups neste segmento, seguindo também uma tendência global.

Veja abaixo, o mapa completo das fintechs brasileiras:

Analfabetismo financeiro

O acesso ao crédito e ao ecossistema financeiro é desejável, mas não resolve todos os problemas. É importante que haja educação financeira, inclusive ensinando operações básicas, cobrança de taxas, de juros e os riscos de endividamento.

“Aqueles que não são financeiramente alfabetizados são incapazes de fazer boas escolhas sobre suas finanças pessoais”, pondera o economista Daniel Runde, do Centro para Estratégias e Estudos Internacionais. No Brasil, por exemplo, em que os juros sobre saldos não pagos do cartão de crédito ultrapassam os 400% ao ano, inclusão sem educação financeira pode causar problemas às pessoas.

O futuro do dinheiro

Não há certezas de como será o futuro do dinheiro. O mercado é rápido, às vezes imprevisível e funciona 24 horas por dia, sete dias por semana.

Esse dinamismo apresenta oportunidades para o consumidor ter acesso a mais (e melhores) produtos financeiros e abre uma janela de oportunidades para o surgimento de fintechs e para as próprias instituições financeiras tradicionais, as quais também podem inovar e se posicionarem no ecossistema.

O Futuro das Coisas, abriu uma nova vertical aqui no site chamada O Futuro do Dinheiro, onde vamos apresentar conteúdos exclusivos focados em fintechs, criptomoedas, e oportunidades para o consumidor.

O Futuro das Coisas

Somos um ecossistema de futuros e inovação que atua para desenvolver pessoas, times e lideranças, por meio de educação e cultura de aprendizagem, conteúdo de impacto e estudos de futuros.

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