Dois bilhões de celulares são vendidos a cada ano. Apesar disso, Benedict Evans – investidor de empresas de tecnologia – escreveu no seu blog, sexta-feira passada, um texto interessante sobre o fim da onda mobile.
Vamos ver um resumo dos principais pontos:
Coincidindo com o aparecimento do iPhone, desde 2007 os smartphones vêm convertendo uma porcentagem cada vez maior das vendas de celulares. E como eles são vendidos a preços médios mais elevados do que os celulares, a receita cresceu ainda mais rápido do que as vendas unitárias.
Isso teve um efeito multiplicador imenso: os smartphones abocanhavam uma percentual maior nas vendas crescentes de celulares a preços cada vez mais altos.
Porém, essa onda pode estar prestes a acabar.
Em 2020, haverá 6 bilhões de pessoas adultas e mais de 5 bilhões delas com celulares. Acontece, que esse 1 bilhão são aquelas pessoas mais difíceis de alcançar.
As vendas de telefones ocorrem em função da base de instalação e da taxa de substituição – a base instalada não tem crescido muito e a taxa de reposição, pelo menos, não tem decrescido. Com isso, espera-se que as vendas de celulares desacelerem.
Como hoje a maioria das vendas de celulares já são smartphones (veja no gráfico acima), a conversão de vendas de celulares para vendas de smartphones também não tem muito para onde crescer.
A base instalada de smartphones ainda tem muito espaço para crescer, mas isso em função da substituição do que já existe e que pode levar alguns anos. Assim, as vendas dos smartphones começará a cair devagar.
Isso representa apenas uma saturação clássica, afinal nenhuma indústria pode crescer para sempre.
Mas o que acontecerá daqui pra frente?
Para Evans, em termos de Internet para o usuário, está claro já há algum tempo, que a Apple e a Google lideram, mas outras importantes questões têm surgido:
– até que ponto, Google e Facebook podem captar a atenção e intenção;
– que outros modelos de interação irão surgir;
– até que ponto Android e iOS podem moldar a interação e o comportamento do consumidor.
Para as próprias empresas de hardware (incluindo a Apple), quando se tem vendas crescentes (algo que na indústria de tecnologia nunca foi visto antes), o que pode vir em seguida?
Talvez a Realidade Aumentada (RA) possa ser o próximo ecossistema após o smartphone.
Mas também é interessante pensar sobre o próprio mercado de telefonia, que não vai desaparecer tão cedo (embora a RA possa afetá-lo já na próxima década).
Novos entrantes
As barreiras de entrada para a fabricação de telefones são muito baixas. Assim, em uma extremidade do espectro estão as empresas chinesas à procura de ofertas de distribuição no exterior.
Um exemplo disso é chinesa Wiko, que tem uma participação de dois dígitos do mercado francês e está se expandindo para o sudeste da Ásia.
O próximo passo, refere-se às empresas que tentam criar uma marca própria localmente, adicionando um pouco de design, e terceirizando a manufatura. A Wiley Fox no Reino Unido vende dispositivos com um design premium e uma versão levemente revestida de Android, a um preço médio.
E, claro, a Google vende sua própria linha ‘Nexus’, usando uma customização personalizada do Android.
Outras empresas, como a Xiaomi, podem tentar construir uma comunidade apaixonada em torno da experiência da marca. Isso tem funcionado bem na China.
Todo esse cenário se parece um pouco com o mercado de PC na década de 1980 – centenas de empresas que queriam vender computadores “commodities” construídos com componentes “commodities”, executando num sistema operacional “commodity”. Disso resultou empresas como a Dell, que se posicionaram de forma muito particular no mercado.
Evans acredita que estamos começando a ver um movimento parecido.
A questão que fica é: com a saturação dos smartphones, qual será o futuro do Android e IOS? E de empresas como Dell, Xiaomi e outras?