Veja a entrevista completa com o designer futurista João Ozório logo mais abaixo.

O design está presente em tudo na sua vida. Seja na mobília da sua casa, no seu smartphone ou no site que você navega nesse exato momento. Mas, existe outra área ainda mais interessante: o Design Futurista.

Pra falar sobre esse conceito, O Futuro das Coisas conversou com o João Ozório, fundador da Ozório, empresa que trabalha no desenvolvimento de projetos de design com foco no futurismo. A especialidade deles é analisar tendências, e gerar novas soluções para empresas as quais melhorem a qualidade de vida do público-alvo delas.

João, de 24 anos, é designer formado pela Univille e tem formação também em publicidade e propaganda. A opção pelo Design foi porque sempre gostou de desenhar produtos. Em 2014, se inscreveu no Electrolux Design Lab, ficando no Top 100 ao competir com concorrentes no mundo todo. O projeto selecionado pela Electrolux foi o Purity Ball, uma bola que ao mesmo tempo faz a purificação do ar.

Purity Ball
Purity Ball, design do João André Ozório (Electrolux)

Um dos projetos que João vem desenvolvendo é a DNS10, uma aeronave para resgate e transporte aeromédico que une ainda o uso de um drone e um jetpack para reconhecimento da área e movimentação em locais de difícil acesso.

DNS-10Aeronave DNS 10 (Ozório)

Nessa entrevista, João explica porque acredita que é preciso aproximar o design e o futurismo para levar soluções simples e inovadoras que façam as pessoas terem melhores condições de vida. Ele também explica porque uma empresa precisa de design para se manter forte no futuro.

***

Como a ideia da Ozório Design nasceu?

Eu costumo dizer que a Ozório nasceu de uma junção de ideias e momentos. Há algum tempo eu comecei a perceber a necessidade de trabalhar o design de uma forma diferente. Sem saber muito como fazer isso, pesquisei diversos temas e analisei muitas tendências de mercado, até que em 2015 quando vi que fui um dos poucos brasileiros a enviar projetos para o Electrolux Design Lab, cheguei à conclusão de que o Brasil precisava de um escritório de design com foco em projetos futuristas.

O que é esse conceito de Design Futurista? Ele pode melhorar a vida das pessoas?

O design futurista trabalha meio que em parceria com o futurismo. Nós analisamos tendências e comportamentos com o objetivo de materializar conceitos do futuro em soluções de design conceitual colocando o usuário como o centro do projeto. E isso traz um grande benefício para as pessoas, visto que o futurismo se preocupa no modo como as coisas vão ser no futuro, e o designer se preocupa em como as pessoas vão se conectar com essas coisas de uma forma saudável. Posso dizer que nesse ponto se une o útil ao agradável.

Outro fator relevante para as empresas, é que quando se faz um projeto de design futurista você está se adiantando, gerando uma nova tendência e vendo como as pessoas vão se comportar diante daquilo. É meio que uma máquina do tempo no mundo corporativo, você pega seu público alvo, o leva anos à frente e diz: Olha nós acreditamos que daqui a 10 anos as coisas vão ser assim, o que você acha? Com esse feedback você já pode começar a direcionar as suas futuras estratégias de negócio. Sem falar que no meio desse processo você tem grandes possibilidades de descobrir um novo nicho de mercado que ninguém conhece.

Por que você acredita que as empresas deveriam se preocupar com o design de um produto ou de um serviço?

Na verdade, se preocupar com o design é se preocupar com as pessoas. Qualquer tipo de projeto precisa ser desenhado para atender da melhor maneira possível as necessidades do seu público alvo. Essa é uma premissa básica para o sucesso, e o design é a ferramenta para se conseguir isso. Então, se uma empresa não se preocupa com o design do seu produto ou serviço ela abre um espaço muito grande entre a sua marca e a satisfação do seu cliente, deixando margem para que ele busque outra alternativa.

Como o design pode reinventar mercados como o da moda ou da produção audiovisual no Brasil?

Essa é uma questão muito bacana. O design é uma ferramenta de reinvenção, é meio que o machado usado para cortar aquele velho cubo de madeira e transformá-lo em uma roda.  A moda inclusive já está se reinventado, existe um projeto que a Google está fazendo em parceria com a Levis chamado de tecido inteligente, esse projeto tem objetivo de tornar nossas roupas em gadgets, permitindo por exemplo, que no futuro nós possamos fazer um exame de sangue ou de pele sem sair de casa.

A indústria audiovisual deve cada vez mais se apoderar do design para criar novas soluções. Com a inserção da realidade virtual surgirão novos modelos de negócio, novas formas de gerar conteúdo, de anunciar e até vender produtos. Cabe aos empresários desse ramo se adaptar ao momento e usar o design a seu favor para entregar essas soluções da forma ideal.

Que conselho você daria aos designers brasileiros que querem criar soluções inovadoras?

Olha, isso é complicado, todo dia eu paro e me pergunto, como criar uma solução inovadora ideal? Bom, o primeiro passo eu acho, é aquele velho clichê, sair da sua zona de conforto. Se você quiser desenvolver algo novo é preciso conhecer coisas novas, pesquisar sobre novos mercados, procurar saber um pouco de tudo, pesquisar sobre ciência, negócios, tecnologia, enfim, viver não apenas o universo do design, mas se conectar com outros mundos para quem sabe fisgar uma oportunidade e levá-la ao mercado.

Eu acredito que uma ideia inovadora é na verdade é um apanhado de ideias comuns que se unem gerando uma nova possibilidade.

Por que a biomimética é importante para o mercado de design?

Se pararmos para pensar: o que nos faz ser melhores a cada dia? É a nossa capacidade de aprender com os erros e se inspirar nos acertos. Errar a gente já erra muito, então precisamos nos inspirar, e para mim, a mais perfeita designer de todos os tempos a qual sempre busco inspiração é a natureza. Se você tem um problema a chance de a natureza já ter solucionado esse problema de uma forma eficaz e sustentável é muito grande, então porque não dar uma olhada no que ela já fez antes de começar.

Como você imagina a vida no futuro e como o design pode impactar esse futuro?

Eu imagino um futuro mais livre. É fato que a sociedade já está saturada de complexidades e abusos, prova disso são as grandes marcas como Uber, Netflix, Airbnb entre outras que alcançaram sucesso rapidamente pelo simples fato de oferecer um serviço de qualidade, simples e barato, sem fazer com que o usuário se sinta prejudicado. Eu acredito que em breve nossa qualidade de vida vai ser muito melhor e as pessoas estarão se preocupando mais com as outras. Nós temos diversas tecnologias, por exemplo, para tornar as lavouras menos tóxicas e menos agressivas a saúde, existem profissionais trabalhando fortemente para levar a medicina cada vez mais longe, enfim, existem diversos movimentos que me permitem dizer que a vida no futuro será ótima e muito saudável.

E o design na verdade, vai ajudar para que o futuro chegue até as pessoas com o menor impacto possível, fazendo com que toda essa tecnologia chegue à população de forma natural e saudável.

Quais as tecnologias emergentes que a Ozório está utilizando na concepção e no desenvolvimento de seus produtos?

Nós trabalhamos fortemente com o desenvolvimento de parcerias para alavancar nossas soluções. Hoje nós já temos grandes parceiros de tecnologia que utilizam impressão 3D avançada na concepção de protótipos, atuamos também com parceiros de desenvolvimento web para criar novas soluções no mercado digital. Claro que muito ainda está por vir, e nem tudo podemos abrir na entrevista, mas novas parcerias estão sendo estudadas para que no futuro possamos trabalhar com robótica e Inteligência Artificial de forma mais efetiva.

Na sua visão, a Inteligência Artificial pode melhorar o mundo ou ela representa uma ameaça para a humanidade? Como você vê o futuro da I.A. em 10 anos?

Esse é um assunto muito discutido por todos que conhecem o potencial das IA’s. Claro que nós temos diversos níveis de IA, hoje mesmo já estamos em contato com algumas de forma ainda limitada. Eu acredito que quando bem aplicada, ela vai trazer inúmeros benefícios, por exemplo na descoberta e na cura de doenças. Quando a IA chegar ao nível de raciocinar e tomar decisões ela terá uma capacidade imensa de processar dados e solucionar problemas que hoje o cérebro humano ainda não consegue com tanta agilidade.

Acredito que os futuristas podem responder melhor do que eu como as IA’s vão estar daqui a 10 anos, mas uma coisa é certa, nossa forma de interação com elas vai evoluir drasticamente. Em uma palestra que assisti no Campus Party tive a oportunidade de conhecer um projeto muito bacana do Cesar, um instituto de tecnologia e inovação que pretende integrar diversos algoritmos e aplicações já existentes e centralizá-los em um único sistema. Isso nos permitirá controlar diversas soluções por meio de uma única interface, abrindo muito espaço para aplicações como a Cortana da Microsoft, que até lá, com certeza, terá evoluído e poderá nos ajudar muito nessas tarefas.

O que você imagina para a Ozório daqui a 5 anos? Como a sua empresa quer se posicionar até lá?

Nós temos dois grandes objetivos, ser o mais importante escritório de design futurista do país entregando soluções com grande grau de assertividade e lucratividade para nossos clientes, e gerar conteúdo grátis e de qualidade para diminuir a barreira que existe entre o design e a sociedade.

Claro que isso tudo não é fácil, temos muito caminho pela frente, mas eu acredito que a melhor estratégia para se alcançar esse objetivo é deixar pegadas claras, mostrando a todos que queiram vir conosco que sabemos qual o melhor caminho.

Qual seria um sonho que você gostaria de ver realizado?

Desde que me lembro, meu maior sonho é ver as pessoas sendo inspiradas pelo nosso trabalho, tudo isso para que eu possa um dia dizer aos meus filhos que ajudei a melhorar o futuro de milhares de pessoas através do design.

O Futuro das Coisas

Somos um ecossistema de futuros e inovação que atua para desenvolver pessoas, times e lideranças, por meio de educação e cultura de aprendizagem, conteúdo de impacto e estudos de futuros.

Ver todos os artigos