O Bitcoin é uma bolha. Isso ficou claro para economistas, investidores e analistas por algum tempo. Mas uma das falhas de tal análise é que a certeza de uma bolha econômica oferece uma visão limitada sobre como, quando, ou por que essa bolha irá aparecer. “Posso dizer quase com certeza que o Bitcoin terá um final ruim”, disse Warren Buffett na semana passada, para os fãs da criptomoeda. “Quando isso irá acontecer ou como ou qualquer outra coisa, eu não sei”.

Bitcoin e outras moedas digitais têm sofrido uma desaceleração acentuada. O seu preço baixou mais de 20% nas últimas 24 horas (uma queda de 40% se considerarmos o ápice de US$ 19.000 em dezembro). Outras criptomoedas, como Ethereum e Ripple, também registraram perdas de dois dígitos.

Qual é o motivo dessa queda?

Algumas especulações são de que a Coréia do Sul está considerando a possibilidade de proibir transações em criptomoeda, ou pelo menos, introduzir novos regulamentos para esse mercado O governo chinês também tem criticado a mineração de Bitcoin, não só porque pode ser usado para lavagem de dinheiro ou evasão de capital, como também pela necessidade de energia para processar transações: o mercado global de Bitcoins consome mais energia do que a Dinamarca, de acordo com uma análise.

Ambos os movimentos prospectivos estão causando mal-estar ao mercado de moedas digitais. Fala-se até na imposição de regulamentos internacionais.

Mas, pelo que O Futuro das Coisas apurou, a verdade é que é difícil dizer com certeza porque está acontecendo esse crash.

Uma boa análise foi feita pelo editor de economia do The Atlantic, Derek Thompson. Ele explica que embora o Bitcoin tenha sido projetado para ser uma moeda apátrida e sem a necessidade de líderes – “regras sem reguladores” – permanecendo impermeável ao controle do governo, a grande ironia é que o colapso acontece por falhar nos três  pontos abaixo.

Primeiro, o Bitcoin foi projetado para que as transações digitais fossem aprovadas por uma rede computacional em vez de serem sancionadas por um único governo. Mas a volatilidade acentuada do seu preço acontece, em parte, porque a sua propriedade é bastante concentrada: aproximadamente 40% do mercado é controlado por cerca de 1.000 usuários, e os top 100 endereços Bitcoin – alguns dos quais podem pertencer à mesma pessoa – controlam cerca de um sexto de toda a moeda emitida, de acordo com a Bloomberg. Uma razão pela qual o Bitcoin pode cair 20% em um único dia – o que é praticamente incomum para a maioria das ações em bolsa e, certamente, para a maioria das moedas – é que, se algum desses grandes investidores resolver vender a moeda, isso impacta o mercado todo. A extraordinária flutuação de preços do Bitcoin acontece porque a propriedade da tecnologia nominalmente descentralizada é, de fato, bastante centralizada.

Em segundo lugar, as trocas de Bitcoins – marketplaces online onde são mantidos e comercializados – têm pontos potenciais de falha. Em 2014, milhares de Bitcoins foram roubados do Mt.Gox, maior casa de câmbio de Bitcoins que fica em Tóquio. Em 2016, essa criptomoeda despencou após uma transação em Hong Kong ter sido hackeada. Hoje, despenca novamente quando governos na Ásia ameaçam proibir ou regular esse mercado.

Em terceiro lugar, enquanto essa criptomoeda foi projetada para ser apátrida e sem necessidade de governança, líderes estaduais são em grande parte responsáveis ​​por sua última queda. A moeda não requer nenhum banco central, já que os novos tokens são emitidos por computadores que executam o software Bitcoin. Mas as fortunas de Bitcoin ainda estão ligadas às tomadas de decisão dos bancos centrais e de outros reguladores governamentais. No final de 2013, depois de vários senadores elogiarem o Bitcoin e outras moedas digitais como “serviços financeiros legítimos”, o valor do Bitcoin triplicou. Nessa terça-feira, bastou um funcionário do banco central chinês ter dito que o governo deveria proibir o comércio de moedas digitais, para o Bitcoin despencar. Segundo Thompson, talvez essa seja a coisa mais irônica: um sistema projetado para distribuir valor independente das autoridades é totalmente sensível a meros rumores de reguladores individuais:

“Blockchain pode ser a tecnologia do futuro. Mas praticamente não tem nada a ver com a economia do presente.”

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