O cenário de automação, eliminação de empregos e precarização do trabalho, parece não estar conferindo com a realidade dos países mais ricos do mundo. Ontem, a The Economist, publicou uma matéria intitulada “The great jobs boom” para mostrar que a maior parte dos países desenvolvidos está desfrutando de um boom de empregos sem precedentes. E, não é apenas a abundância de empregos, mas a qualidade deles.
Capa da The Economist em 23 de Maio de 2019.
A taxa de desemprego nos Estados Unidos é de apenas 3,6%, a menor em quarenta e nove anos. O crescimento do emprego está bem acima dos cerca dos 100 mil necessários por mês para acompanhar o crescimento da população em idade ativa;
Dois terços dos 35 países da OCDE, chamada de “clube dos ricos”, bateram recorde de empregos entre pessoas de 15 a 64 anos; no Japão, 77% dessa faixa tem emprego;
Este ano, os britânicos irão trabalhar 350 bilhões de horas por mês, o que é um recorde;
Mesmo a França, a Espanha e a Itália, países onde o desemprego ainda é relativamente elevado, o emprego para pessoas em idade ativa excede o que existia no ano de 2005.
Qual a razão desse boom de empregos?
Esse boom é resultado de uma década de estímulo econômico, mas também reflete mudanças estruturais. As populações estão se tornando mais escolarizadas…
Cada vez mais mulheres trabalham. Elas respondem por quase todo o crescimento da taxa de emprego do mundo rico desde 2007. Isso tem algo a ver com políticas pró-família na Europa, mas desde 2015 a tendência também é encontrada nos EUA…
As reformas nos programas de bem-estar e assistência, também parecem ter encorajado as pessoas a buscar trabalho.
Sim, a The Economist reconhece que empregos que exigem média qualificação estão ficando mais difíceis de encontrar à medida que a estrutura da economia muda, e o setor de serviços – incluindo a economia Gig – se expande. No entanto, empregos altamente qualificados estão sendo criados.
Ao mesmo tempo, trabalhos antes mal remunerados tornam-se mais bem pagos, em parte devido aos salários mínimos mais altos. No clube dos países ricos, salários abaixo de dois terços da média nacional estão se tornando raridade.
Quanto à precarização, em 2017 na América, os empregos tradicionais em tempo integral representavam a mesma proporção vista em 2005. Ou seja, não houve aumento. Na França, apesar das recentes reformas para flexibilizar o mercado de trabalho, a parcela de pessoas contratadas com carteiras e contratos assinados atingiu recentemente recorde histórico. Segundo a The Economist, o trabalho realmente precarizado encontra-se em países do sul da Europa, como a Itália e culpa não é da tecnologia ou dos empregadores:
“A culpada por essa precarização é a lei antiquada que costura os mercados de trabalho, bloqueando a entrada de jovens trabalhadores a fim de manter os já contratados confortavelmente nos seus empregos.”
À medida que as empresas competem por profissionais em vez de profissionais competindo por empregos, os salários médios aumentam. Essa demanda por trabalho leva as empresas a buscar trabalhadores em grupos antes negligenciados, como o de ex-presidiários, e também, a intensificar treinamentos diante da escassez de habilidades das pessoas. E isso é uma das boas coisas desse boom de empregos: o seu potencial para ajudar a resolver problemas sociais sem que os governos tenham que gastar muito por isso.
Diante desse boom, para a The Economist, os formuladores de políticas econômicas podem aprender algumas lições:
“Economistas subestimaram o potencial do emprego, implantando uma hesitante política fiscal e monetária. O pessimismo sobre o potencial de crescimento dos empregos nos anos 2010 desacelerou a recuperação econômica. A esquerda também precisa aceitar que muitas das críticas que faz ao capitalismo não se encaixam nos fatos. O trabalho está melhorando e alguns empregos são melhores do que o desemprego. Não reconhecer isso levará a uma intervenção governamental que é, na melhor das hipóteses, desnecessária e, no pior dos casos, prejudicará o avanço recente. A direita deve reconhecer que os empregos prosperaram sem a necessidade de regulamentos típicos de políticas laborais.”
Esse boom de empregos não durará para sempre. Alguns economistas esperam que esse crescimento desacelere em 2019, à medida que haja menos trabalhadores disponíveis, elevando os salários e impulsionando a inflação de volta.
Na economia, tudo é cíclico. Para explorar melhor as forças e tendências que estão agindo sobre empregos e carreiras, O Futuro das Coisas criou a e-Formação Futuro das Profissões, a primeira da América Latina.
Imagem da capa: Catello Gragnaniello.