Micro-multinacionais; entrada facilitada em novos mercados; equipes de trabalho virtuais; viralização de produtos: estas são algumas das oportunidades da era digital globalizada.
Porém, essa nova era exige que os empresários e executivos façam novos questionamentos.
Se antes a globalização era medida, em grande parte, pelo comércio internacional de bens, isso agora muda com a digitalização. Grandes fluxos de dados e de informações são transmitidos a cada minuto – ideias e inovações que circulam no mundo todo via e-mail, mídias sociais, e-commerce, vídeos, etc.
À medida que estas redes digitais se alastram e conectam tudo e todos, em qualquer lugar, as empresas devem repensar o que significa ser global.
A mais recente pesquisa da McKinsey & Company, quantifica o impacto econômico dessa mudança e sugere aos executivos e suas equipes, o foco em cinco áreas críticas.
O novo comércio
Para medir o impacto econômico da globalização digital, a McKinsey construiu um modelo econométrico com base nas entradas e saídas de mercadorias, serviços, finanças, pessoas e dados em 97 países. Eles descobriram que em pouco mais de uma década, esses fluxos aumentaram o PIB global em cerca de 10%.
Este valor adicionado chegou a US$ 7,8 trilhões em 2014. Só os fluxos de dados são diretamente responsáveis por US$ 2,2 trilhões, ou quase um terço, deste valor. Os efeitos combinados de fluxos de dados sobre o PIB ultrapassou o impacto do comércio mundial de mercadorias. Isso é uma coisa notável.
Total de largura de banda utilizada em milhares de gigabits por segundo, de 2005 a 2014 (McKinsey&Company)
Além de criar valor, os fluxos digitais estão transformando setores mais tradicionais. Cerca de 50% dos serviços comercializados no mundo já são digitalizados e este percentual só faz crescer. Cerca de 12% do comércio mundial de mercadorias é realizado via e-commerce. A digitalização também vem facilitando os fluxos de pessoas, como exemplos, temos as informações para viagens fornecidas pela AirBnB e pelo TripAdvisor.
Enquanto isso, o crescimento do comércio de bens foi achatado. Isso é uma inversão completa do que vimos nas décadas anteriores.
A fraca demanda e a queda dos preços das commodities respondem em grande parte por essa recente desaceleração.
Muitas empresas estão reconsiderando os riscos e a complexidade de gerenciar cadeias longas de abastecimento – dando maior importância à velocidade de mercado e aos custos de negócio. Como resultado, uma maior produção passa a acontecer em países onde as mercadorias são consumidas.
E, se você olhar pra frente, a tecnologia de impressão 3D poderá prejudicar ainda mais o comércio internacional quando alguns bens passarem a ser impressos no seu próprio local de consumo.
Todas estas mudanças tornam ainda mais improvável que o comércio mundial de mercadorias retome o crescimento acelerado visto em anos anteriores.
Plataformas abertas, bens virtuais e ‘camadas digitais’
Já há algum tempo, empresas (principalmente as grandes) vêm construindo plataformas internas para gerenciar fornecedores, conectar clientes, e permitir tanto a comunicação quanto o compartilhamento de dados.
Porém são as plataformas abertas, as maiores e as mais conhecidas: redes sociais, e-commerce e plataformas de mídia digital, se conectam a centenas de milhões de usuários globais.
Estas plataformas abertas dão às empresas imensas bases “built-in” e meios de interagir com os clientes diretamente. Elas também permitem criam mercados com escala global e de forma transparente: com apenas alguns cliques, os clientes podem obter informações sobre produtos, serviços, preços e fornecedores alternativos de qualquer lugar do mundo. Isso faz com que os mercados funcionem de forma mais eficiente, tirando alguns intermediários do processo.
A Alibaba tem cerca de dez milhões de pequenas empresas operando em sua plataforma. (Crédito: South China Morning Post)
Além disso, estas plataformas começaram a ajudar empresas de bens e serviços digitais a entrarem em novos mercados internacionais, sem estabelecer uma presença física no local. Também possibilitam que milhões de pequenas e médias empresas tenham exposição global e criem uma infraestrutura de exportação. Na plataforma do eBay, por exemplo, no mínimo 88% de empresas, relativamente pequenas, estão exportando.
O comércio de bens virtuais, como e-books, aplicativos, jogos online e músicas para download, bem como serviços de streaming, software e serviços de computação em nuvem, também crescem com essas plataformas. Como o declínio do custo da impressão 3D, este comércio poderá expandir para novas categorias – empresas poderiam enviar arquivos digitais para que produtos sejam impressos localmente.
Ferramentas e peças impressas em 3D expostas no Made In Space, em Mountain View, Califórnia (Crédito: MARCIO JOSE SANCHEZ/AP)
Muitas empresas também estão adicionando ‘camadas digitais’ para aumentar o valor de suas ofertas. Por exemplo, empresas de logística, de sensores e de softwares para rastrear embarques. Um estudo descobriu que a identificação por radiofrequência (RFID) pode ajudar a reduzir custos em até 70%, e melhorar a eficiência. Estudos de casos na Alemanha, como exemplos em centros de logística da BMW e da Hewlett-Packard, mostram que a tecnologia reduz perdas em trânsito entre 11% a 14%.
As 5 perguntas
Os executivos ao fazerem um balanço das oportunidades e ameaças da era digital, podem questionar cinco áreas-chave. Vamos às 5 perguntas para ajudar nessa avaliação.
Crédito: McKinsey
1- Será que temos uma visão clara do cenário competitivo?
A competição se intensifica à medida que plataformas digitais permitem que empresas de qualquer tamanho, em qualquer lugar, implementem produtos de forma rápida e entrem em novos mercados. A Alibaba tem cerca de dez milhões de pequenas empresas operando em sua plataforma. A tendência crescente das “micro multinacionais” é vista mais claramente nos Estados Unidos, onde a percentagem de exportações das grandes corporações multinacionais caiu de 84% em 1977 para 50% em 2013. Novos concorrentes digitais em todo o mundo estão desencadeando pressões de preços e acelerando os ciclos de produto.
2- Temos os ativos certos e capacidade para competir?
Construir plataformas digitais, criar relacionamentos online com clientes, e ter centros de dados não são mais coisas apenas para as gigantes da Internet. A GE, por exemplo, está transformando sua capacidade “core” de fabricação para se estabelecer como líder global em tecnologia da Internet das Coisas.
Qualquer empresa que deseje tornar-se competitiva nessa era digital globalizada, precisa ter um novo olhar sobre os seus ativos, sobre as relações com os seus clientes (e dados de mercado), e avaliar se existem novas formas de gerar dinheiro com eles. Para fazer isso, essa empresa vai precisar de recursos digitais avançados, definir uma importante vantagem competitiva, e reunir funcionários com habilidades de ponta.
3- Podemos simplificar a nossa estratégia de produto?
A digitalização pode simplificar a adequação de produtos, marcas e preços para aquelas empresas que vendem em vários mercados globais. Porém, existe uma tendência em direção aos portfólios de produtos mais simplificados. A Apple oferece apenas um número limitado de modelos de iPhone e iPad, onde quer que eles sejam vendidos. A Airbnb, o Facebook, e a Uber simplesmente têm escalonado suas plataformas digitais em diversos países, com pequena customização. As indústrias de mídia e de tecnologia para o consumidor estão lançando simultaneamente produtos em várias parte do globo, uma vez que as plataformas digitais e sociais permitem que os consumidores no mundo todo vejam de forma instantânea o que está em oferta em outros países. Isso cria oportunidades para viralizar os produtos em escala sem precedentes. A customização inteligente, em suma, torna-se cada vez mais uma importante prioridade de gestão.
4- Devemos reequipar a nossa empresa e rever a cadeia de fornecimento?
Com as novas ferramentas digitais que permitem colaboração remota e comunicação instantânea é possível criar equipes virtuais em qualquer lugar do planeta. A Unilever, por exemplo, usa soluções de tecnologia para agilizar cerca de 40 serviços globais e criar equipes virtuais espalhadas em todo o mundo que se reúnem por vídeo conferência.
Como a velocidade de mercado tornou-se mais importante do que nunca no mundo digital, muitas empresas estão reavaliando os méritos de cadeias longas e complexas de fornecimento; custos de logística, prazos de entrega, produtividade e proximidade com outras operações da empresa são agora prioridades.
De acordo com uma pesquisa recente da UPS, aproximadamente um terço das empresas de alta tecnologia estão movendo sua fabricação ou montagem para mais perto do usuário final. A adoção mais ampla de tecnologias de impressão 3-D pode levar mais empresas a reconsiderar o local da sua produção, potencialmente remodelando cadeias mundiais de produção.
5- Quais os novos riscos?
Manter a segurança dos dados passa a ser também uma prioridade para estas empresas em qualquer setor que atuem. É difícil ultrapassar os hackers cada vez mais sofisticados, mas as empresas podem priorizar os seus ativos de informação, testar continuamente, e trabalhar com funcionários da linha de frente para enfatizar medidas de proteção básicas.
Além disso, a Internet e a concorrência internacional acabaram com a exclusividade que as empresas usufruíam com seus novos produtos e serviços; versões “copiadas” podem ser lançadas em novos mercados, antes mesmo dos criadores originais terem tido tempo para escalonar.
Os desafios
O impacto econômico da digitalização aumenta cada vez mais, e a competição digital ultrapassa fronteiras.
Se por um lado as ferramentas digitais criam novas possibilidades para ampliar a presença global, por outro lado, os empresários são levados a desafiar os antigos pressupostos sobre competitividade internacional.
As 5 perguntas acima poderão ajudar a superar estes desafios.
Fonte: McKinsey