Há tantas opções hoje de bons cursos online que empresas dispostas a investir no aprendizado de seus colaboradores, sentem dificuldade em escolher quais seriam os mais indicados para cada integrante de suas equipes.

Outra dificuldade é que uma vez realizado o curso, não é fácil para a empresa saber quais habilidades foram realmente desenvolvidas e o grau de domínio. Seria preciso uma métrica mais objetiva para avaliar essa proficiência.

Esse desafio já pode ser superado.

Uma nova ferramenta que usa Inteligência Artificial (IA) e aprendizado de máquina, desenvolvida pela plataforma Coursera, tem como objetivo ser essa métrica. O recurso, que a startup Bay Area anunciou essa semana, vai possibilitar que empresas que assinam seus programas de treinamento vejam quais funcionários estão tirando as melhores notas nas aulas, como também quais habilidades estariam no páreo com as habilidades de empresas concorrentes, e, ainda, quais cursos preencheriam o gap de conhecimento.

As empresas poderão acessar essa ferramenta e obter insights ainda no final deste ano.

O novo recurso é apenas um exemplo das diversas maneiras em que plataformas de aprendizagem online estão usando a IA para combinar alunos com cursos específicos, avaliar sua capacidade e ajustar o conteúdo de acordo com os feedbacks.

No caso da Coursera, eles têm uma equipe de cientistas de dados que faz tudo, desde “coletar e armazenar dados até interpretar as informações para tomar decisões internas e construir algoritmos que retornam para o site”, segundo Emily Glassberg Sands, líder da equipe.

Noutra plataforma educativa, a Udacity, os pesquisadores analisam o sentimento do aluno para entender como as lições podem ser aperfeiçoadas e ainda verifica se eles gostam ou não das mudanças. A Udacity também usa chatbots baseados em IA para ajudar os alunos a encontrar cursos mais relevantes e responder perguntas comuns durante o processo de inscrição. Já a edX, também outra plataforma de aprendizado online, diz que experimenta a IA para aumentar o desempenho dos alunos.

Tais recursos de IA podem induzir mais pessoas – e empresas – a se inscreverem nos cursos disponibilizados, já que a possibilidade de aumentar a eficácia de programas educacionais e medir seu impacto são as duas principais prioridades para empresas que investem em treinamentos para suas equipes.

No geral, a Coursera tem 31 milhões de alunos, o que a torna a maior plataforma de aprendizado online do mundo. “O calcanhar de Aquiles em aprendizagem corporativa é que ninguém sabe como demonstrar o retorno do investimento”, observa Leah Belsky, que lidera o programa Coursera for Business. “As empresas sabem que seu pessoal precisa aprender novas habilidades para se manter competitivo, mas têm dificuldade em mensurar o valor desse aprendizado.”

Há um ano em meio, a Coursera busca uma forma de quantificar os benefícios de suas aulas. Sua equipe de cientistas de dados começou então a desenvolver algoritmos de aprendizado de máquina para mapear as 40 mil habilidades ensinadas dentro dessa plataforma. Primeiro, a equipe usou o processamento de linguagem natural (PNL) para determinar com que frequência os instrutores abordavam conceitos específicos durante suas aulas. Essa informação ajudou a identificar quais aulas transmitiam quais habilidades.

Empresas poderão ver como se classificam em comparação com seus concorrentes em habilidades específicas. (Crédito: Coursera)

 

Assim, os cientistas puderam obter alguns desses dados simplesmente perguntando aos seus instrutores. Mesmo assim, também usaram a PNL porque os instrutores muitas vezes avaliam em termos de ensinar conceitos teóricos, enquanto os alunos preferem saber quais ferramentas e tecnologias específicas irão dominar, compara Glassberg Sands.

Mais recentemente, a equipe incorporou uma metodologia de Psicometria chamada Teoria de Resposta ao Item (IRT) em alguns de seus modelos de aprendizado de máquina para avaliar as habilidades dos alunos com base nos seus desempenhos em quizzes e tarefas. Essa abordagem permitiu que avaliassem a proficiência em uma determinada área de habilidades em alunos que respondiam a diferentes questões em diferentes graus de dificuldade.

Isso foi importante porque, em média, um aluno mais avançado tende a fazer cursos mais difíceis, como também costuma fazer perguntas mais complexas. O modelo de IRT pode descobrir qual habilidade uma pergunta específica de um quiz  busca avaliar e a dificuldade relativa dessa pergunta antes de calcular a proficiência de um aluno.

Você recebe um percentual para cada um de seus funcionários em cada área de qualificação, em relação ao grupo de comparação que você escolher, seja todas as empresas do Coursera ou apenas empresas do seu setor ou do seu país ou empresas de tamanho similar.” – Glassberg Sands.

A maioria das plataformas de aprendizagem online mostra aos seus clientes corporativos quais colaboradores estão matriculados, como estão progredindo e o feedback que eles dão em relação às suas experiências. Na Coursera, o aprendizado de máquina permite examinar como seus milhões de alunos estão atuando em toda a plataforma e fornece insights preditivos, como o nível de habilidade de um determinado aluno. Em teoria, esses modelos de aprendizado de máquina devem ficar mais inteligentes à medida que alunos e instrutores geram mais dados que são alimentados no sistema.

A plataforma Coursera espera que as informações sobre as habilidades, atualizadas diariamente, sejam úteis para especialistas em aprendizado e desenvolvimento, para profissionais de RH e empresas de contratação, que antes tinham que adivinhar quais habilidades outras empresas estavam adquirindo e quais de seus funcionários eram mais experientes em, por exemplo, uma linguagem de programação específica. Por outro lado, isso pode aborrecer alguns colaboradores que não gostariam que seus chefes tomassem decisões apenas com base em seu desempenho de aprendizado online.

Mas, Glassberg Sands e Belsky afirmam que a tecnologia trará outros benefícios, como por exemplo destacar pessoas qualificadas que poderiam estar sendo negligenciadas. A gigante de software Adobe, que vem testando o novo recurso da Coursera, concorda:

Possivelmente temos alguns especialistas que trabalham em escritórios remotos, onde podemos ter dificuldade em identificar seu nível de talento. Esses recursos nos dão um senso apurado daquilo que nossos colaboradores sabem e são bons, o que acaba nos ajudando a avaliar o talento de forma mais inteligente.” – Justin Mass, líder do programa de aprendizado digital da Adobe.

Fonte: MIT Technology Review

Crédito da imagem da capa: rawpixel em Unsplash

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