Pessoas com mais de 50 anos, certamente, já se debateram para abrir um pote de palmitos, ou uma lata de milho ou mesmo já se atrapalharam com alguma receita por não conseguirem ler o rótulo de algum ingrediente, só para citar algumas dificuldades com embalagens de alimentos.
Passando para a área de cosméticos, experimente levar uma máscara de reparação capilar para o chuveiro e tentar ler o modo de uso: sem uma lupa esta é uma missão praticamente impossível! Isso se repete com o gel de barbear, com o protetor solar, com o creme depilatório e com a pasta de dentes, para citar alguns exemplos!
As reclamações dos consumidores não param por aqui. Algumas empresas de cosméticos decidiram usar a mesma embalagem para produtos diferentes, como sombras, bases e blushes: para diferenciar, só mesmo abrindo ou tentando enxergar as letras minúsculas no verso.
Problemas com embalagens acontecem em qualquer canto do mundo. Um estudo da DS Smith, que é líder global de soluções de embalagens sustentáveis, produtos de papel e serviços de reciclagem, revelou que, em 2020, 41% dos consumidores europeus já tiveram algum tipo de lesão ao abrir uma encomenda.
Olhando o Brasil através da lente etária, a faixa da população com mais de 50 anos é a que mais cresce, como, aliás, ocorre no restante do mundo, trazendo um oceano prateado de oportunidades para a economia. Uma curiosidade sobre este processo é que as mulheres continuam sendo maioria.
Ainda que o envelhecimento da população seja uma das quatro megatendências para o século XXI, o ESG – que trata de um conjunto de práticas e padrões para avaliar a sustentabilidade e governança das organizações – ao aproximar a sua lente para questões relacionadas à Diversidade, parece ter esquecido o etarismo, que, de acordo com o relatório de 2021 da Organização Mundial da Saúde, custa bilhões de dólares às sociedades.
O etarismo é o preconceito de idade, mais contundente para os idosos. De acordo com a OMS, no mundo, uma a cada duas pessoas têm atitudes discriminatórias que pioram a saúde física e mental das vítimas do preconceito. Para você ter uma ideia dos impactos do etarismo apenas na esfera do trabalho, um estudo aponta que na Austrália, se apenas 5% a mais de pessoas acima de 55 anos estivessem empregadas, haveria um acréscimo anual de 48 bilhões de dólares australianos na economia.
O etarismo permeia nossa sociedade e a falta de empatia com os idosos é uma constante. Raros são os produtos e serviços desenhados para este público que, só no ano de 2020, de acordo com a Harvard Business Review, movimentou cerca de 15 trilhões de dólares pelo mundo e cerca de 1,8 trilhões de reais no Brasil, segundo dados do Instituto Locomotiva.
As oportunidades da economia prateada não se limitam a produtos e serviços. O mercado de embalagens, que, de acordo com a Associação Brasileira de Embalagem movimentou mais de 100 bilhões no ano passado, também revela um mar de oportunidades interessantes voltadas para o público sênior, especialmente na criação de produtos que ofereçam uma melhor experiência ao consumidor.
Mas na agenda de sustentabilidade, os pilares econômico e ambiental parecem ter sido priorizados, em detrimento do social. A resposta pode estar na representatividade. Ter profissionais maduros para testar e sugerir alterações e inovações poderia ser uma alternativa inclusiva, de baixo custo e consonante com as diretrizes para que o ESG saia do papel e abrace de verdade as pessoas. Esta é uma agenda repleta de oportunidades, basta ampliar o olhar.
Ilustração da capa: Anja Slibar
Gostei do artigo, parabéns pelo conteúdo. Estou inserida neste contexto ‘prateado’ e no dia a dia convivendo com uma faixa etária bem mais jovem, posso provar com a troca de experiência é valiosa para ambos, inclusive no que tange melhorias e inovações para a empresa!
Arrisco a dizer : Descaso
O mercado e as instituições tendem a ser norteados pelo mínimo esforço e retorno máximos , a curto prazo.
O longo prazo é pensando qd nessa equação supera significativamente o retorno de curto prazo. As abordagens ESG só conseguem ganhar espaço na medida em que atribuem vantagem competitiva a quem segue o “imperativo ético do momento “ ( como a maioria das instituições)
Acredito que a forma mais efetiva de evitar o etarismo é justamente apontar a imensa perda de oportunidade de ganhar dinheiro tendo essa miopia mercadológica
O mercado e as organizações não precisam ser empáticos , precisam ser inteligentes ( empatia naturalmente entrará na equação )
E quanto aos idosos, ou qualquer outro grupo que se sinta segregado: não vamos permitir que ninguém nos defina. Vamos continuar demonstrando nossas contribuições
Todo o mais é descaso.
Muito obrigado, você é brilhante com seus Artigos, muito obrigado.
Texto muito válido. Me vi nas situações descritas no assunto : embalagens. E pessoas com mais de 50 anos estão aí , atentas a tudo. O artigo nos reflete a pensarmos mais no tema Etarismo.
Veja, estou na área embalagens flexíveis plásticas à mais de 30 anos, sei e sinto na própria pele o que na realidade as empresas são omissas em relação ao público consumidor desta faixa etária e pior ainda: por hora, pelo menos as que tenho acesso, não vi e nem notei, intenção nenhuma da parte delas, em mudar este cenário e/ou ao menos digamos, facilitar a vida de quem consome que ironia, seus próprios produtos…. Letras miúdas, dificuldade em abrir, de transportar, enfim são alguns dos tópicos entre tantos outros que no dia-a-dia e na correria acabamos por absorver todas estas dificuldades que acabamos acostumando a esta situação tão perversa, e não reclamamos mais ou seja, achamos que o errado esta em nós, de envelhecer como se algum dia todos nesta cadeia e assim seja, vão passar por isso também. Excelente artigo, Parabéns e o que depender de minha experiência estarei sempre a disposição para ajudar quem quer que seja, a tentar ou conscientizar em mudarmos este descaso.
Excelente abordagem Fran Winandy. Eu entendo como uma miopia do marketing, como já disse Theodore Levitt em seu artigo de 1960 na HBR. O mercado ainda não entendeu a revolução demográfica pela qual estamos passando e todas as suas consequências. Ainda insisti em olhar as novas gerações (millenials, Z, Alfa) e como podem ser ou são potenciais consumidores…mesmo com a redução na taxa de fecundida e drástica redução de pessoas, no mundo, em idades mais jovens. Enquanto isto, com o aumento da expectativa de vida, aumenta a faixa dos maduros…e sem aquela imagem distorcida de idoso caquético, sem gosto, sem opinião, beirando a incapacidade. Somos ávidos consumidores…
As empresas precisam aplicar mais as análises de Design focando neste público…que tal inserir o senior no grupo de colaboradores de P&D, Produtos, Projetos, por exemplo? FIca a dica, somada às demonstrações de dados que a Fran mencionou em seu artigo.
Pertinente e necessário. Agrega-se à isso a transformação digital que dificulta a inclusão nesta faixa etária.
Super relevante. Parabéns.
Muito bem conceituado! Parabéns por sua análise. Sou uma vítima do etarismo.
ótimo tema! Na década de 1950 a expectativa média de vida não passava de 45 anos. Menos de 1 século depois, essa idade é metade do que as pessoas estão vivendo nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O mundo mudou muito rápido e a maioria dos costumes e das indústrias (e infelizmente o ensino) ainda estão lá em meados do século XX. Textos como esse são necessários para acelerar tudo isso o que ficou estagnado.
Gostei do texto, me identifico e concordo com a dificuldade de leitura doa embalagens de cosméticos. É muito difícil contemplar um tamanho de letra legível em alguns produtos, por falta de espaço no rótulo, mas em alguns casos o que falta mesmo é a atenção com quem lê os rótulos e consome o produto, sobretudo conosco, prateados. Muitos produtos de limpeza também apresentam este problema, apesar de grande áreas de impressão. Muitas vezes recorro ao digital para buscar as informações que não acesso no rótulo, imagino que alguns farão o mesmo. Mas achei um bom debate, poderíamos chamar os especialistas para opinar a respeito : )
Excelentes reflexões, Fran. Num mundo cada vez mais diverso e com a pirâmide etária em plena inversão, o mercado precisa “pegar a visão” e se adaptar à economia prateada.
Eu acho que a indústria está vivendo um onda do superficialismo. O consumo está relativamente ligado aos influenciadores digitais, midia digital. Em relação as embalagens, a indústria não só não atende ao público senior, mas tb ao público com restrição alimentar ou algum tipo de alergia. Infelizmente nossos representantes não se atentam para o social.
Você foi muito feliz em elaborar e publicar este artigo. Como sou bastante ativo, não havia me preocupado com o a minha própria performance nas realizações de minhas atividades. Na maior parte do meu tempo, realizei minhas atividades profissionais, desde bem cedo até altas horas da noite. Até quando veio a Pandemia, como foi bem no inicio, senti todos os sintomas, da mesma, infelizmente. Como não haviam testes confiáveis no Brasil, foi detectado, uma gripe muito forte que durou mais de 15 dias. Quando fui me recuperando, percebi que algumas atividades que eram realizadas com muita facilidade, começaram a serem dificultadas, no momento da realização. Percebi, a partir deste momento, que não era mais tão jovem, como achava que era. Diminuiu a quantidade de cabelo, precisei usar óculos, apareceu cansaço, entre outros sintomas. Este artigo mostra que não é só a idade, porém, quando surge algum outro tipo de mudança na vida. As embalagens começaram a ficar difíceis de ler, para dirigir não é a mesma coisa, entre outros fatos. Parabéns pelo artigo
O tema abordado pela Fran, me chamou a atenção pela forma que o mesmo foi abordado. Nunca havia parado para pensar que de fato, muitos produtos são desenvolvidos com base em uma curva normal etária, e até então, os mais experientes são colocados no desvio dessa curva. O que as mesmas pessoas e profissionais que fazem isto não estão se atentando, é que a normal desta curva está mudando, e que nos anos futuros teremos cada vez mais cabeças prateadas nela. A observação em relação ao ESG também, foi muito bem colocada. Enfim, parabéns pela mensagem Fran !!!
Fran, brilhante seu trabalho de conscientização sobre a importância do Etarismo nas empresas. A narrativa do seu livro nos conduz a uma desconstrução de um preconceito sem sentido. Obrigada pelo artigo.